Comecei a conduzir automóveis em 1971, tinha vinte e poucos anos, porque a actividade profissional que iniciava, após cumprir o serviço militar, implicava grande mobilidade; o número de automóveis em circulação era infinitamente menor do que o verificado hoje, mas as estradas eram uma verdadeira desgraça, a maior parte das viaturas não oferecia a mínima segurança, do cinto da dita ainda ninguém sequer falava, razão por que já se morria muito nas nossas estradas, havendo até um “horripilante” programa na televisão escancarando tudo o que tinha acontecido na semana anterior.
Assim como não havia cinto, também não se falava na “cadeirinha” para crianças, e quem as tinha, quando nos fins de semana viajava a família toda, desenvencilhava-se à sua maneira; só que, conforme iam crescendo, sendo mais que uma, transformavam o banco traseiro numa capoeira anárquica, interagindo com as que eventualmente viajassem nos carros de trás e da frente; e quando o pai condutor era pouco responsável, e decidia brincar às ultrapassagens, punha os seus rebentos em delírio e os que ficavam para trás frustrados, a incentivar os pais a fazer o mesmo.
Tinha um “casal”, e o rapaz gostava muito de viajar em pé, espreitando por entre os bancos da frente tudo que eu fazia; quando, num cruzamento ou “stop”, tinha de parar, ficava “furibundo” comigo: “chegas aqui e páras sempre, que parem eles!”; lá lhe fui explicando todas as regras que era obrigatório cumprir, e as consequências que resultavam do seu não cumprimento, mostrava-lhe os acidentes reportados pelo jornal e porque tinham contecido, e ele foi ganhando “juízo”, de tal forma que, aos dez anos, já conhecia as regras todas e dominava a condução, podendo andar na estrada se a lei o permitisse.
A hecatombe que se verifica nas nossas estradas resulta da falta de noção do perigo que comporta conduzir sem regras. Diz o presidente da Autoridade de Segurança Rodoviária que 30% das vítimas mortais autopsiadas pelo IML acusam álcool, e que o nossos jovens, se não estão a emigrar, estão a morrer nas estradas; é verdade que em todo o mundo se morre muito nas estradas, mas os latinos, pelo seu “feitio”, têm para isso mais tendência; um irmão meu que viveu nos USA muitos anos contou-me que, viajando com um amigo americano com quem residia, numa via de trânsito intenso e vagaroso, perante um tipo que, atrás deles, businava muito, o amigo o provocou dizendo que devia ser português, “ou americano”, respondeu o meu irmão; “ok, na tua língua, manda-o parar de fazer barulho”; o meu irmão correu o vidro e mandou o sujeito fazer chinfrim para a terra dele, ouvindo na resposta um chorrilho de insultos em português do Brasil, acabando os dois amigos à gargalhada...
Amândio G. Martins
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