sexta-feira, 3 de março de 2023

Do "patriotismo" nos negócios

 

Por muito que um governo tenha motivos para criticar certos procedimentos empresariais, os governantes moderados nunca ou raramente o fazem de forma contundente, a menos que haja razões muito fortes para o fazer, como irreparável prejuízo para o prestígio e interesse nacional, porque raramente a dinâmica específica das empresas se acomoda com a burocracia da máquina estatal.

 

 Mas quando na composição heterogénea de um governo de coligação há ministros que do interesse nacional têm apenas a perspectiva do partido a que pertencem - o que leva a Oposição a chamar-lhe governo de colisão -  como é o caso de Ione Belarra, de “Unidas Podemos”, ministra dos Assuntos Sociais, que não se inibe de hostilizar sistematicamente as empresas, não se deve estranhar que as que no tecido económico do país têm bastante peso e poder, o façam sentir a quem lhes é desagradável, porque não é igual chamar”machistas” aos juízes que reduzem penas e libertam agressores sexuais -  acusando-os de culpar sempre as mulheres, "por no cerraren bién las piernas" -  porque lhes puseram nas mãos uma lei que o permite, e chamar “capitalistas despiadados” aos empresários cujo empreendorismo proporciona emprego a milhões de pessoas.

 

E é assim que em Espanha a sua construtora multinacional “Ferrovial” acaba de anunciar ir mudar a sua sede fiscal para Holanda ou Estados Unidos – também já cá tivemos disso -  argumentando fazê-lo por um melhor ambiente de negócios, segurança jurídica e maior possibilidade de financiamento; a ministra Nadia Calviño, que é também vice-presidente do Governo e um dos esteios do partido maioritário, disse na televisão que telefonou ao presidente da companhia, Rafael del Pino, para lhe mostrar a sua surpresa e desagrado, não revelando em que termos o terá feito, mas não hesitou em afirmar ali -  em termos que a maioria dos comentadores entendeu como perfeitamente legítimos -  que Ferrovial deve a Espanha tudo quanto é hoje, não sendo aceitável que mostre esta falta de compromisso com o seu país, tanto mais que se as condições que Espanha oferece aos investidores tem atraído capitais estrangeiros, por maioria de razão serão boas para as empresas espanholas...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

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