Imagine-se que alguém que foi relevante no PCP, assim como Carlos Brito, Honório Novo, Carvalho da Silva, Carlos Carvalhas ou até Jerónimo de Sousa, de repente aparece a fazer campanha a favor dessa excrescência da democracia que agora conspurca a nossa Assembleia da República, grupelho de que sempre evito pronunciar o nome, que me causa urticária, tanta como o tempo de antena que a toda a hora permite ao seu chefe supremo atirar para cima da gente as maiores alarvidades.
Pois é uma coisa assim que em Espanha vai acontecer, ensaiada pelo irmão gémeo dos fascistóides de cá; de facto, tendo programado há tempos mais uma moção de censura contra o Governo de Sánchez, já é a segunda, a direcção de Vox, para dar sonoridade à coisa, que não tem nenhuma hipótese de vencer, mas lhes garante muito tempo de antena, convidou um comunista e académico prestigiado, velho companheiro de Santiago Carrillo e reconhecida sumidade da ciência económica, que é o professor Ramón Tamames.
Tendo sido há muitos anos deputado pelo PCE, Tamames não tem hoje nenhum vínculo com o Parlamento actual, mas no regime espanhol é possível uma figura não eleita encabeçar uma moção de censura por qualquer partido, como candidato a presidente do Congresso, caso se desse a queda do Governo; nas vésperas de completar 90 anos, comenta-se que tem tanto a ganhar como a perder, que é nada, mas uma também ex-colega de partido, a jurista Cristina Almeida, classificou aquela atitude de “esperpento”, que só a esclerose, ou fome de palco, poderá explicar.
Os de Vox justificam o convite “ por respecto a nuestros mayores”, e quando lhes recordam que Tamames é um acérrimo defensor da “nación catalana”, coisa que lhes põe os cabelos em pé, como a toda a Direita e até os socialistas rejeitam, porque nem a Constituição actual o permite, respondem que lhe conhecem coisas muito mais graves que essa, porque sabem muito bem que sempre foi um comunista...
Amândio G. Martins
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