A colaboração de Ramón Tamames na moção de censura de Vox, se não beneficiou nada este partido não foi por sua culpa; de facto, se a sua debilidade física lhe não permitia subir à tribuna, obrigando-o a manter-se permanentemente sentado no lugar que Santiago Abascal lhe cedeu para aquela tarefa, revelou uma agilidade mental que, pouco ou nada aproveitando ao partido da extrema-direita, divertiu muitos espanhóis, até pela oportunidade aproveitada por alguns artistas cómicos para imitarem a sua figura em programas televisivos.
Começando por uma intervenção de 75 minutos, em que enumerou as razões que justificavam a moção, teve de Sánchez uma réplica de uma hora e 45 minutos, no fim da qual Tamames pôs toda a gente a rir, Sánchez incluido, dizendo que com aquele tempo se podia escrever a história do Império Romano de uma ponta à outra; respondendo aos que o criticaram pelo despropósito que foi aceitar aquela tarefa, por um partido que nem os direitos das mulheres reconhece, defendendo a prepotência dos homens, não reconhecendo às mulheres capacidade de decisão e autodeterminação, negando-lhes empoderamento, Tamames continuou desconversando, respondendo que, quanto ao poder que é permitido às mulheres em Espanha, tinham aí o exemplo de Isabel a católica, que já no século XVI tinha mais poder que o próprio rei.
Pelos pedaços que durante dois dias foram passando nas televisões, embora normalmente escolham o mais sonante, o tom de Tamames foi sempre divertido, o que, para mim, não é pouca coisa em política, desde que não sirva para secundarizar o que é sério. O grande parlamentar da Esquerda Republicana catalã, Gabriel Rufián, lembrou a Tamames que aqueles que ali se propôs defender eram filhos e netos dos que o tinham encarcerado pelo seu activismo comunista, mas como isso já foi há muito tempo, o velho comunista não se mostrou perturbado, dizendo a Rufián que não percebia de que se queixavam os catalães contra a nação espanhola...
Amândio G. Martins
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