Sou professor de Geografia e de há uns anos para cá que tenho assistido a uma redução, em termos gerais, da qualidade dos alunos que chegam à área das Humanidades no início do ensino secundário. Os maus resultados verificados nos exames nacionais deste ano às disciplinas ligadas às Humanidades são a prova cabal da crise que se vive nesta área do saber. Entretanto, o GAVE veio esclarecer que os alunos têm vindo desde há vários alunos a evidenciar dificuldades nas capacidades de leitura e de escrita.
Ora, sabendo-se que nos exames destas disciplinas abundam questões de escolha múltipla (só no exame de Geografia este tipo de questões correspondem a metade da pontuação total do exame), então fica claro que a gravidade da situação é ainda maior do que aquela que transparece dos resultados obtidos pelos alunos. É que os resultados só não têm sido piores porque ainda é concedido um peso considerável às questões de escolha múltipla que, como se sabe, não permitem aferir, de forma real e cabal, os verdadeiros conhecimentos dos alunos.
Nas Humanidades deveriam estar, teoricamente, os alunos com melhores capacidades para a leitura e escrita. Contudo, a "fuga" de muitos destes alunos para as áreas das Ciências Exactas, pela ideia que se criou que as saídas profissionais das Humanidades são cada vez mais limitadas, deu origem à situação que actualmente vivemos: uma crise latente na área das Humanidades.
Não será tempo de se repensarem os currículos dos ensinos básico e secundário, assim como a forma como se elaboram os exames nacionais? É que a ideia que se tem é que os alunos chegam ao ensino secundário cada vez menos bem preparados, situação que é também já relatada relativamente à entrada dos alunos no ensino superior...
Pedro Peixoto
in Público, 25 de Julho de 2013
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