Nestes últimos dias temos
assistido, verdadeiramente aturdidos, ao espectáculo deprimente proporcionado
pelos políticos da nossa praça traduzido por demissões, birras, amuos e
quejandos. Um comportamento que mostra o maior desprezo pelos grandes
sacrifícios que os portugueses carregam como uma cruz. Apesar disso, não
esperávamos a intervenção lamentável da Presidente da Assembleia da República,
Assunção Esteves, ocorrida no passado dia 11. Habituados como estávamos à sua
ponderação, às suas decisões acertadas e até a algumas iniciativas inovadoras.
Por isso, é com estupefacção que, respeitosamente, afirmamos: oh não, também tu
Assunção!
É evidente que os protestos das
pessoas presentes na galeria do Parlamento não pode merecer a nossa aprovação,
pois aquele não é o lugar adequado para exercer o direito à indignação da forma
como foi feito. Se os protestos são legítimos há outros lugares onde eles podem
ser exercidos. Mas se os assistentes faltaram ao respeito e foram incómodos
para os deputados, tal não justifica a irritação e perda de controlo por parte
de Assunção Esteves, a qual com a sua excitada actuação se juntou, com muita
pena nossa, aos outros políticos que andam literalmente de cabeça perdida. E a
irritação da Presidente foi tanta que a levou a uma tentadora deriva
antidemocrática ao ameaçar no futuro restringir o acesso às galerias. Mas se a
intervenção desastrada de Assunção Esteves começou mal, a mesma terminou ainda
pior. De facto, ousou citar, a despropósito e fora do contexto, uma afirmação
de Simone de Beauvoir. Disse Assunção Esteves: «Não podemos aceitar, como dizia
Simone de Beauvoir, que os nossos carrascos nos criem maus costumes». Foi
realmente uma citação contaminada por uma grande infelicidade, já que para a escritora
francesa os carrascos a que aludia eram os nazis, os mesmos que tinham invadido
a Pátria francesa. Sem querermos entrar noutro tipo de análise, salientamos
apenas que a comparação entre “invadir” o Parlamento e invadir um País, peca,
no mínimo, por falta de dimensão.
Por isso dizemos: assim não, Assunção!
João Ferreira
O problema criado é a citação, no momento em que foi proferida, não vinha a propósito e só por snobismo bacoco pode ter tido lugar. É que certas pessoas, vulgares, mas em lugares de transcendência, querem, muitas vezes dar ares duma intelectualidade que não possuem. Não há assim tanto mal nisso, porque não podemos ser todos extra, só que essas pessoas não se enxergam e não dão fé disso.
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