Sinto-me atenuadamente sufocado com esta conversa da salvação nacional levada a cargo pelos - vejam só - os imparáveis Seguro, Passos e Portas. Os jornais, é claro, babam-se com tanta reunião e com tanta não-informação. Entretanto, iniciou-se, logo desde a tentativa de conluio do Presidente Cavaco, nesses órgãos de informação e (des)formação que são as televisões, invocar os benefícios de um acordo entre o famoso arco do poder. De entre estes, a troika encima a pirâmide, vêm depois os famosos parceiros europeus e, sub-repticiamente, a Alemanha. O povo português não entra, determinantemente, nestas conjunturas políticas.
O acordo é, obviamente, possível. Aliás, o difícil é não o conseguir, dada a similitude entre a gente que compõe o grupelho. Estamos, afinal, para todos os efeitos (para o bom e para o mau, mas, principalmente, para o mau), no reino do centrão.
Deixamos de falar no país real. Estou mesmo propenso a crer que ninguém lá das negociações salvíficas saberá o que isso é. Lembro-me, logo numa das primeiras aparições de Passos Coelho no Parlamento, há dois anos, Jerónimo ter acusado o primeiro-ministro de não saber o que era a vida. A resposta veio pronta e constitui, de certo modo, um paradigma de uma geração política, formada no âmago de juventudes partidárias, verdadeiras fabriquetas de moldes humanos, envelhecidos à pressa: sei, senhor deputado, sem muito bem o que é a vida. Seria bom se todos soubéssemos o que era a vida, segundo Passos Coelho.
(Público, 19-7-2013)
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