A
comunicação ao país de 10/7/2013 do sr. Presidente da República (PR) deixou
(quase) toda a gente “surpreendida”.
Para
além de prognosticarem o “caos”, a “confusão”, a “balbúrdia institucional”, o “agravamento
da crise”, etc., como frutos degenerados da “solução” presidencial para a(s)
crise(s) política(s), comentadores e contracomentadores "políticos"
(e vice versa), especulam sobre o pensamento
político do PR em que assentou essa “3ª via” de decisão presidencial.
O
próprio cidadão comum se questiona sobre muita coisa: O pensamento é mesmo do
PR ou dos seus …“pensadores”? Tem o PR no pensamento outras soluções
alternativas ou supletivas do (maior) problema eventualmente criado com esta
“solução” política? Ou é este o seu único pensamento? Por convicção (ou por
qualquer outra razão “política” mais remota…), é, mesmo, exclusivo e
excludente, o seu pensamento único?
Cá
por mim, acho que a questão não está tanto no(s) pensamento(s) do PR mas, mais
fundo, na raiz desse(s) pensamento(s).
Infelizmente,
uma raiz – “os mercados” – que, pela sua degeneração financista e tecnocrata,
está a ser cada vez mais social, económica e politicamente daninha. E que, pelo
seu alastramento (académico, comunicacional, etc.), está a invadir o pensamento
de certos políticos e de governantes de tal forma que tendam a pensar e (e
agir) como se não só a economia mas a sociedade tenha que, “inevitavelmente”,
ser de(os) mercado(s). Afunilando-lhes, por essa via, o pensamento político no pensamento
único dos, pelos e para “os mercados”. Mirrando-lhes qualquer outro que não
seja esse único pensamento. E fazendo-lhes esquecer os factores (e fautores) genuinamente
essenciais da Política: as pessoas, a sociedade, a democracia real.
E
assim, voltam as dúvidas do cidadão comum, preocupado se, com esta “solução”
(?) e por causa dessa raiz do seu pensamento político, o PR se estará a
esquecer: Que prometeu ser “presidente de todos os portugueses"? Que, para
além de outros também representando os portugueses, há pelo menos seis partidos
com assento na Assembleia da República? Que um acordo de “salvação
nacional" não tem que ser só partidário (e muito menos só tripartidário)
e, sobretudo, não tem que ser, directa ou indirectamente, a "salvação
nacional” de um (des)acordo partidário? Que a “salvação nacional” que lhe
compete promover é a "salvação" dos portugueses (as suas condições materiais
de vida mas, também, os seus valores colectivos, a sua dignidade, a sua coesão social)
e não a salvação dos leoninos interesses dos credores do “país”? Que a
"estabilidade política" não significa necessariamente estabilidade
democrática e, muito menos, estabilidade social? Que a democracia é um sistema
político cuja característica processual mais definidora e essencial é a escolha
do Governo assentar em eleições livres? Que, desde há 37 anos, “todos os
portugueses” se julgam com direito a pensar que vivem num país que "é uma
República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular
e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária"? Que,
desde antes ainda, há 39 anos, “todos os portugueses” têm a democracia por raiz
de pensamento?
Que,
finalmente, não há mercados que cortem a raiz a este pensamento?
(EXPRESSO,
20 de Julho de 2013)
João Fraga de Oliveira
É bonito de dizer, mas, na verdade, os mercados não só cortam a raiz ao pensamento como cortam a raiz de viver e conviver. Os mercados, impiedosos, estão a matar tudo.
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