Tal como as ciências ocultas também as religiões são muitas. Deuses são
aos pontapés, profetas são mais que as mães e sacerdotes há-os das mais
variadas formas, credos e feitios, espalhados pelos 4 cantos deste mundo e do
outro. Vêm estas afirmações a propósito do texto da autoria de Gonçalo
Portocarrero de Almada publicado neste jornal no dia 15 do corrente mês de
Julho intitulado “Ciências mais ou menos ocultas, há muitas…”
Longe de mim pretender ombrear
em sabedoria e profundidade de visão com um licenciado em Direito e doutor em
Filosofia mas, olhando a fotografia de Gonçalo e lendo aquilo que escreve,
vislumbro apenas um padre que, como os mais vulgares, é lesto a pôr em causa
estudos e conclusões de quem não teme ao seu Deus sem lhe passar pelo espírito
a possibilidade de pôr em causa a verdade que professa. Como pode alguém que
aceita os milagres aprovados pela Congregação da Causa dos Santos duvidar, por
um momento que seja, das conclusões de uma qualquer Associação dos Veteranos da
Psicoterapia do Bolhão? Deus me perdoe o atrevimento de brincar com estas
coisas mas o tom zombeteiro do referido texto do padre Gonçalo dá-me alento
para libertar esta pueril blasfémia: os milagres atribuídos ao Papa João Paulo
II são dignos do tempo em que os animais falavam ainda que um deles tenha sido
realizado através de um aparelho de televisão. Já ia sendo tempo de dar um ar
científico à coisa…
Incomoda-me um pouco que o padre
Gonçalo refira os totalitarismos nazi e soviético, reprovando os seus crimes
hediondos, esquivando-se a referir o terceiro corno do diabo que foi a Santa
Inquisição, essa filha bastarda da igreja católica. Sugere o padre Gonçalo um memorial
em honra das vítimas dos estudos da ciência, talvez não fosse atrevimento
demasiado propor uma referência nesse memorial aos que caíram em nome do Deus
católico. Conhecerá melhor do que eu as subtilezas do mafarrico e como é ele
capaz de confundir as almas mais santas.
O problema é o da co-adopção de
crianças por casais homossexuais e dos estudos que sugerem não haver problemas
de maior em aceitar essa “causa fracturante”. Termino lembrando ao padre que
talvez o cerne dessa questão esteja com as pessoas e aquilo que lhes vai na
alma e não com as suas orientações sexuais, políticas ou religiosas. Em termos
de protecção e educação de menores a igreja não terá grande moral para
estabelecer os limites a respeitar não obstante tantas obras de extraordinário
valor humano e social erigidas por instituições católicas. Anda por aqui muita
confusão. Caro padre Gonçalo, divirta-se lá com a sua tuna universitária e…
desconfie.
Rui Silvares
(Público, 18-7-2013)
Li com atenção o seu texto, como sugeriu e agradeço,mas agora é a minha vez de sugerir a leitura de um texto com o qual me identifico: http://amar-abrantes.blogs.sapo.pt/681094.html
ResponderEliminarSantana-Maia Leonardo