quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Parlamento não é a rua

Os tristes acontecimentos que ocorreram na passada quinta-feira na Assembleia da República (AR) não podem passar incólumes, sob pena de parecer estar-se à espera que novas formas de protesto, ainda menos dignificantes, ocorram na casa da democracia para, então aí, se tomarem medidas mais restritivas de acesso ao Parlamento.
Depois de anteriores episódios em que as galerias da AR tiveram de ser evacuadas pelo facto de indivíduos de esquerda, em posição concertada, terem insultado os deputados e o Governo, passou-se agora para uma nova fase de protesto: foram para a AR e para além de terem insinuado, aos gritos, que voltámos aos tempos do fascismo e da ditadura, resolveram atirar com balões e bilhetes escritos, numa atitude de completo desrespeito pelas regras da democracia. O que se seguirá na estratégia do insulto? 
Discordando da frase que Assunção Esteves proferiu em resposta aos manifestantes, pois apenas atiçou ainda mais os ânimos, é bom que se tomem medidas por forma a que, pelo menos na casa da democracia, se possa evitar a ocorrência destes tristes espectáculos. Quem está descontente com o estado do país e viu as suas expectativas defraudadas, ao menos que se saiba manifestar, nos locais próprios e de forma correcta. E é bom que saibam respeitar aqueles que permitiram que Portugal seja hoje uma democracia, não brincando com as palavras. É que confundir os tempos que vivemos com a ditadura ou o fascismo é fazer pouco dos que fizeram o 25 de Abril...
Acho muito bem que se repensem as regras de acesso às galerias da AR. Não se pode permitir que a casa da democracia se transforme na casa do insulto.

Pedro Peixoto
in Público, 16 de Julho de 2013

8 comentários:

  1. Claro que quem fez aquela selvajaria na AR, eram selvagens.
    E não deve ser feito! Nunca!


    Mas a Presidente, não esteve à altura!

    Problemas dos/dasa Presidentes em situações de necessidade??????'e de terem que de facto o conseguir saber ser!!!!!!

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  2. Muitos ou alguns dos que estiveram nas galerias Assembleia da República, terão votado nos deputados do PSD e CDS, sentindo-se ludibriados, pelo facto dos mesmos na campanha eleitoral nunca terem «prometido» que lhes iam cortar nos salários e pensões, aumentar o IRS e IVA, aumentar o horário de trabalho, roubar feriados e dias de férias, facilitar e aumentar despedimentos e desmprego, permitir a fome nas escolas, etc., etc., fazendo as pessoas mais pobres e infelizes. Quem faltou primeiro, e de forma mais grave, ao respeito aos portugueses, foram esses senhores deputados. Uma das lacunas da nossa democracia, é a possibilidade que existe de eleitos fazerem o contrário do que prometeram e dos compromissos que assumiram com os eleitores, sem que nada lhes aconteça, quando se deveria de imediato verificar a interrupção do
    mandato para defesa e credibilidade da democracia.

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  3. Augusto, de facto, à Presidente não basta sê-la, há que parecê-la... Mas, os sindicatos que patrocinaram o mau comportamento nas galerias também devem esforçar-se por darem a imagem de menos partidarizados. Ver o Arménio Carlos ou o Jerónimo de Sousa falarem é precisamente a mesma coisa...

    Ernesto, enquanto o povo não perceber que vivemos tempos de excepção, dependentes do financiamento externo e sujeitos a um programa de compromissos assinado com a troika, então haverá quem continue com o argumento das promessas não cumpridas para justificar comportamentos inadmissíveis na casa da democracia...

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  4. Quando esta gente, que levou o país à desgraça em que está, for responsabilizada, então podemos concordar com tanto respeito pela Assembleia da República e da sua Presidente que se reformou com 40 e poucos anos, dado que uma lei da própria Assembleia autoriza os juízes do Tribunal Constitucional, mesmo sem serem juízes de carreira, a reformarem-se com 10 anos de mandato, o que é um abuso "colossal". Logo para exigir respeito é preciso ter a ficha limpa. Não há, nem houve, respeito de parte a parte, e não é por vir com citações que só a gente culta conhece que se merece mais respeito. O país está no fundo e a Assembleia da República também tem muita responsabilidade na situação por omissão das suas responsabilidades, sendo uma muito objectiva, o não ter criado leis suficientemente claras, para combater o enriquecimento ilícito e a corrupção.

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  5. Pedro,
    um bom tema para análise e debate, o povo perceber ou não. Mas, comentando:
    o povo pode não perceber a dependência do financiamento externo e os compromissos com a troika internacional, mas também não percebe porque não foi consultado sobre tal e colocado perante factos consumados. O povo não tolera ser enganado. O povo é quem mais ordena, não pode ser só na canção...

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  6. Joaquim,
    é verdade que chegámos ao fundo e que há muita coisa que deveria ser mudada. A solução não passa pelo que ocorreu no Parlamento!

    Ernesto,
    é bom lembrar que não foi o povo que esteve a manifestar-se no Parlamento, mas sim um conjunto de indivíduos afectos à CGTP e ao PCP e que agiram a "mando" de interesses partidários.
    Quanto ao povo, ou parte do povo, que ainda não quis perceber ao estado a que chegámos (e já nem vou falar dos responsáveis que nos levaram a este estado lastimável), parece-me que as pessoas vão percebendo que a austeridade é inevitável. O que se pode discutir é a dose dessa austeridade...

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  7. Pedro,
    O problema é não se saber ao certo o local das reclamações, e o povo anónimo começar a estar farto. É verdade que muitas vezes os grupos agem armadilhados, por interesses que, às vezes, nem são os seus. Mas isso são contas dum rosário muito alargado. Obrigado por ter tido a atenção de me retorquir.

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  8. Atitudes como as vistas na AR podem proporcionar bons pretextos para as liberdades cívicas serem cada vez mais restringidas. Este clima de meia democracia em que vivemos há 40 anos não interessa aos que promovem estas "manifestações". Eles farão todas as provocações possíveis para se passar a um regime mais autoritário, fascizante, pura e dura democracia liberal, estilo "preto ou branco", e não de meias cores. Aí a extrema esquerda pode fazer o que sempre gostou, enfrentar o "fascismo" na rua com pedras, com coktails molotov, com balas, com bombas, à séria, e não com esta "mariconada" de luta. Balas e sangue é que é a luta revolucionária. Não a democracia parlamentar. Provavelmente a maioria dos leitores não era nascida ou prestava atenção a estas "coisas", mas o "grande" Álvaro Cunhal predisse e afirmou bem alto em 1975: "PORTUGAL NUNCA TERÁ UMA DEMOCRACIA PARLAMENTAR", sic.

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