sábado, 1 de novembro de 2014

A cultura da maldade



Ao tomar conhecimento de que o Governo vai legislar no sentido de que os funcionários do fisco, irão pertencer a uma espécie protegida, diversa da dos outros cidadãos, funcionários públicos ou não, fico um pouco perplexo, pois até na Índia, embora a tradição ainda as mantenha, já foram eliminadas as castas.
Segundo se noticia, a ofensa a qualquer funcionário do fisco, quando no exercício do seu múnus, será castigada com multa e, ou, prisão, em conformidade com o grau ofensivo.
O que, à primeira vista, isto nos sugere, é que a carga fiscal continuará na senda do agravamento, de tal forma, que o Governo prevê a perda de controlo de alguns contribuintes, que poderão ter atitudes menos dignas para com os funcionários.
Os cidadãos, que contribuem para a manutenção do aparelho do Estado, começam a ficar exaustos. Contudo, não têm o direito de perder a compostura.
Na realidade, alguns contribuintes, menos calmos e tolerantes, poderão exaltar-se e ter atitudes menos correctas ao enfrentar a situação e tanto podem explodir na tesouraria da Fazenda Pública, como nos serviços camarários, onde as diversas taxas municipais são pagas. Por uma questão de poupança, devem ter em atenção que ofender o funcionário municipal lhes fica mais em conta, pois estes, parece, não estarão protegidos pela nova Lei.
Isto, se não fosse ridículo, era desprezível. Todos os funcionários, públicos ou não, no exercício do seu dever, devem ser respeitados e não há uns mais respeitáveis do que outros. Ir a uma escola, ofender um professor ou um outro funcionário, é coisa de somenos. Ofender um funcionário do fisco é que é grave! Se chegámos a isto, “Não me digam mais nada, senão morro”, como escreveu o poeta Ary dos Santos.
Hoje, fui às Finanças e, como de costume, fui bem tratado. Continuo a chamar a atenção, a quem de direito, que o Livro de Reclamações, deve ser substituído pelo Livro de Ocorrências, onde seriam feitas as reclamações e os elogios, quando fosse caso disso, sobre o trabalho prestado pelos assistentes.
Neste país, desde há muito que está implantada a cultura da maldade, desde essa coisa horrível que é, nas escolas, se emitirem ordens de serviço, lidas, obrigatoriamente, em todas as turmas, para dar a conhecer os castigos atribuídos a alunos, sem haver igual procedimento quando estes têm acções meritórias. A distribuição de carros, para premiar quem for delator ou fiscal do fisco, coloca-nos numa escala abaixo de terceiro mundo. E o mais triste, é os fazedores de opinião, colaboradores neste estado de coisas, não verem o óbvio.


31.10.2014 - Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo 

3 comentários:

  1. A sociedade perfeita é e será sempre uma utopia, pois é delineada por seres imperfeitos como nós.
    O que é bom para uns é mau para outros.
    Se formos menos maledicentes e destrutivos, certamente colaboramos para a construção de um mundo melhor.

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    1. O pior cego é o que não quer ver. Só se cura a doença se se fizer a auscultação, o diagnóstico e depois a receita. Depois, procurar executá-la. Se não nos interessarmos pelo doente, ele não se cura.

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    2. Embora concorde consigo, acrescento que nem todos têm capacidade para ver o óbvio.
      Quanto há receita para a cura, ai está o problema.
      Quantos mais somos, mais difícil é a unanimidade.
      Nunca se agrada a todos.

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