terça-feira, 25 de novembro de 2014

a detenção de sócrates e a justiça

Ontem José Sócrates foi preventivamente preso , aguardando, por isso, julgamento na cadeia de Évora. Os crimes que lhe são apontados são graves: corrupção, branqueamento de capitais e lavagem de dinheiro. O que me importa, no entanto, destacar aqui não tem a ver com a suposta culpa ou inocência do agora detido. Qualquer um de nós, sendo acusado do que quer que seja, afigura-se como inocente até prova em contrário. É um princípio sagrado de um estado de direito democrático. Acontece que todo o processo relativamete a este caso, desde a detenção na manga do avião, até a este processo mediático de interrogatório, enviabiliza determinantemente a presunção da inocência e até, se formos imparciais, a presunção da competência do juíz de instrução. Vivemos um período conturbado, com forte inclinação para um tipo de justicialismo popular e radical. Os exemplos recentes são, infelizmente, notórios, desde os quatro dias de interrogatório a um suspeito sobre o caso dos vistos gold, até às aparentementes excessivas penas de dezassete anos de prisão a um sucateiro e de cinco anos a outros arguidos do mesmo processo, passando pela estranheza da inevitável mediatização de outras detenções de inúmeras personalidades públicas.
O povo gosta destas coisas. Até que enfim, dizem. Infelizmente, não se percebem que este não é o caminho que leva Portugal para os cumes civilizacionais. Estou triste. Triste porque acho tudo excessivo; triste porque via (e vejo, até prova em contrário) em Sócrates um patriota; triste porque acredito nas pessoas; finalmente, triste porque gostaria de acreditar na justiça do meu país.

5 comentários:

  1. O grande mal é a boa-fé das pessoas. Dizer que Sócrates é um patriota, depois de tudo o que se conhece, desde a Cova da Beira ao falso curso de engenheiro, desculpe o meu amigo, que merece muita estima, mas começa a ser ingenuidade. O coração não pode arrasar a razão. Um abraço lusitano.

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    1. Caro Joaquim,
      as aldrabices, sendo elas inatas ou adquiridas, não anulam as virtudes e as ações enquanto governante. E algumas delas - até por comparação com o que temos hoje - encontram-se, na minha opinião, num campo muito positivo. O patriotismo é aqui trazido à colação no mesmo paradigma comparativo.
      O grande mal deste governo é, a meu ver, uma questão de cultura patriótica, principalmente por parte de quem manda. Neste sentido, Portugal, enquanto entidade autorreguladora e com um posicionamento visível do ponto de vista internacional, é coisa de somenos importância para esta gente (nem estas coisas cabem nas contas de aritmética). Sócrates tinha, apesar de tudo, outro posicionamento. O país não é somar e subtrair e dividir, tudo plasmado numa folha de excel. Deve ser muito mais do que isso. Passos Coelho e Crato e Relvas e aquele do ambiente e mais um ou outro não conseguem entender isto. Falta-lhes a ideia de portugalidade. Deixo Portas fora do lote, pois ele é um caso à parte neste lamaçal governativo. É demasiado umbilical para ser aqui enquadrado.

      Um abraço,

      José Ricardo

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    2. Caro Amigo Ricardo

      Os erros de uns não desculpam os erros de outros, ainda, que nalguns casos, os banalizem. Com a experiência que tenho de vida e também de administração não encontro virtudes nas acções dos governos de Sócrates. O cartão de cidadão, apreciado no seu todo, é um fiasco. O tal simplex, montado em espaços que custam rendas astronómicas, para além de formar empresas numa hora, não criou nada visível de produtivo. Os milhões que se gastaram em obras não reprodutivas custam-nos, em juros, uma soma incrível. Algumas coisas foram bem conseguidas, mas isso é a obrigação de quem é pago para nos governar. Não tenho nada de pessoal contra o homem e até fui militante do PS, durante os primeiros 25 anos. Depois, achei que a forma como os partidos funcionam não são consentâneas com a minha maneira de pensar e desfiliei-me. Pode estar errado nalgumas das minhas apreciações, o que é normal, como ser humano que sou. Um abraço lusitano

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  2. Todos nós temos de fazer actos de contrição por tudo que nos acontece, ou virmos a saber como fomos tão ingénuos acreditando em miragens.
    Abraços fraternos para quem levanta a voz contra todo este estado de coisas.

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  3. Aqui só temos que ver a Justiça a funcionar, e se for verdade o que acusou JS, tem que ser muito mais punido que um de nós simples desconhecidos, mas, mas ir buscar os de outros paridos que estão num limbro de ....nada lhes acontecer.......

    E temos JUSTIÇa!!!!!!

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