Eu sei meu
amor que nem chegaste a partir, pois tudo em meu redor, me diz que estás sempre
comigo.
Parte dos belíssimos
poemas escritos por David Mourão Ferreira na década de cinquenta do século
vinte intitulados “barco negro” e magistralmente cantados por Amália Rodrigues.
Refletem a
amargura, a angústia, a dor provocada pela perda dos entes queridos eternamente
perdidos no mar.
Mulheres sem
pais, maridos, filhos, irmãos, sempre foi assim a agrura da vida de pescador,
uma luta desigual com a natureza.
“Barco
negro” pode perfeitamente retratar a história de uma jovem mulher que junta com
outras, todos os dias ao nascer do sol vão ajudar os seus companheiros a
empurrar os frágeis barcos de madeira do areal para a água, dando inicio a mais
um dia de faina da pesca.
Maria espera
no areal, com o barco a afastar-se da costa acena com os dois braços bem erguidos
ao seu amor, ao que este retribui.
Volta para
casa dedica-se á lida domestica e ao conserto das redes de pescas danificadas
nos dias anteriores.
Aproxima-se
o fim da tarde, como sempre Maria e as outras mulheres dirigem-se para o areal,
esperando o regresso dos barcos, desejando abundancia de peixe, mas Maria a
mais jovem de todas, só quer abraçar o seu amor, António o primeiro e único
amor.
Anoitece, as
horas passam, as mais velhas desesperam, caem de joelhos em prantos, erguendo
os braços ao céu rezam, suplicam a Deus, aos santos que tragam os seus maridos,
os seus filhos.
A noite
avança, arrefece, em debalde esperam, vagarosamente dirigem-se para suas casas,
acendem velas aos santos da sua devoção, rezam, choram, gritam.
Maria fica
deitada no areal, enroscada numa manta com os olhos postos no horizonte, apenas
vê um corredor prateado no mar formado pelo reflexo da lua, não acredita, não
quer aceitar que o mar que outrora foi a sepultura do seu pai e irmão, reserve
igual destino ao seu amor.
Sorte
desgraçada, Maria ficou órfã de mãe muito nova, não lhe resta mais ninguém. Uma
conterrânea vai busca-la, muito a custo convence-a a abandonar o areal.
Todos os
dias ao fim da tarde, Maria volta ao local de onde partiu o seu amor, o seu
grande e único amor.
Maria
murmura vezes sem conta.
-António
volta meu amor, estou á tua espera.
Doravante
começou a ser apelidada de a louca da praia.
A vida,
maior enigma de todos, uma breve passagem pelo mundo, uma eterna perda, a
inocência, a juventude, os sonhos, a saúde, os entes queridos e finalmente a própria
vida.
Infelizes os
que vivem apenas para praticarem o mal, vidas sem sentido, ou simplesmente nem
conseguem dar sentido á vida.
Com amizade.
Araujo.
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