HÁ UM LUGAR QUE ESPERA ABRIL (ou "ESPERANDO ABRIL")
Há um lugar onde Abril não chegou. E já lá vão quarenta e quatro anos.
Nesse lugar o povo aprende uma História que não é sua, uma História que os antepassados não viveram.
Lá, orgulham-se de factos passados que nunca lhe disseram respeito. Escondem-se os heróis cujo sangue corre nas veias de quem lá vive. E quem lá vive, com raras exceções, ignora-o em absoluto.
Cala-se o que se passou. Esconde-se. Silencia-se deliberadamente a repressão. Sobre as consciências e sobre os corpos. Nega-se o que todos, de alguma forma, suspeitam. Alguns até sabem, ainda que de forma confusa.
Diz-se viver em Democracia. Mas há temas proibidos. Há quem aposte no silêncio, mantido no tempo, de preferência para sempre, até que já não se estranhe. Até que possa ser como um mito. Esperando que deixe de poder ser evocado. Nem como moda. Esquecendo que o passado, mesmo de há mil anos, tem sempre a ver com os seus herdeiros. O passado foi como foi. Nunca é passível de falsificação. Só pode ser escondido na mentira. Que, ainda que repetida até à exaustão, será sempre mentira.
Há um lugar que vive um tempo que não é seu. Num anacronismo constante, diário. Desdenhoso em relação a quem diz a verdade. Representando o papel do enganado, de quem se escraviza a si próprio. DE quem se ilude, porque nunca poderá ser o que diz que é. Como um novo-rico inventando um passado que justifique o seu orgulho. Orgulho vão, porque esse passado não lhe pertence. E surgirá alguém que o saiba. E que troce. E que demonstre que o ridículo, se não mata, retrata o mentiroso como ele é: um ser incoerente, prisioneiro de si próprio.
Alguns, de entre esse povo, vão surgindo que vão levantando questões. E vão encontrando respostas. Não sabemos até onde irão, porque se sentem sós. Mas não desistem. É melhor acreditar que a História os favorecerá. porque não pode haver outro caminho na busca da verdade, se não a própria verdade.
Era nesse lugar que o medo deveria ter acabado. Onde um povo deveria saber como chegou ao estado em que se encontra.
Mas não sabe. Ninguém lhe diz.
Esse lugar é Olivença.
Ninguém, fala dele. Ninguém o evoca. Muita cobardia há por aí, de mãos dadas com a ignorância. E muito, muito preconceito. Mesmo por parte de quem se diz filho de Abril...
Elvas, 25 de Abril de 2018
FREDERICO LOBO DA GAMA
Ninguém fala dele? (o lugar de Olivença) Então aqui no blogue, não fala o amigo Carlos Luna e o Zé Amaral? Agora escusa é de ofender quem não o faz!
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