quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Falemos de álgebra


Para onde quer que nos viremos, na actual geografia mundial, deparamos sempre com movimentos de rua que proliferam. Em todos eles, parece-me, existe, mais ou menos explicitamente, um elemento comum: o aprofundamento das desigualdades. Até o nosso novel Governo o inclui no elenco dos quatro grandes desafios estratégicos que se propõe prosseguir na legislatura que agora começa. 
Algebricamente, uma inequação é uma desigualdade, com incógnita(s) e algumas variáveis. Por definição, nela existem dois membros que se comparam entre si. No caso que nos importa, de um lado, estão os rendimentos dos fracos, do outro, os dos fortes. Se existe aprofundamento das desigualdades, então é porque o primeiro membro desce e/ou o segundo sobe. Conclusão: para contrariar a desigualdade, teremos de fazer com que o primeiro suba e o segundo desça (ou ambos), exactamente o contrário de tudo o que se tem passado nas últimas décadas. 
Sistematicamente, as medidas de combate às desigualdades que sempre vemos anunciadas limitam-se a prescrever umas ligeiras subidas apenas no primeiro membro, tudo se reduzindo a uns “pozinhos” no salário mínimo. Quando será que passamos a ver medidas efectivamente actuantes nos dois membros desta tenebrosa inequação? 
José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia Público - 11.11.2019

5 comentários:

  1. Concordando consigo em que o fosso de desigualdade económica ( penso que é nessa que está a pensar, com tudo o que acarreta) é tenebroso e curial, discordo de si ao trazer à colação os " movimentos de rua" como expressão da luta pelo fim ou atenuação do dito fosso. Tomando como exemplo dois dos mais "badalados" - Hong Kong e Catalunha - vejo
    primordialmente, no primeiro, uma luta pela liberdade, "tout court", ameaçada e, no segundo, uma luta pela "identidade". Como se vê essas, iso é outra coisa, agora que as motivações primeiras são as que apontei, parece-me ser verdade.

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    1. Mas olhe que, como diz o "outro", isto anda tudo ligado...

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    2. O "outro", nestes casos exemplificados, diz mal...
      E as misturas "imiscíveis" não resultam bem...

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    3. Com todo o respeito pela sua assertividade, a minha opinião é que estas realidades não são tão “imiscíveis” como isso. Como também dizia um “outro”, “não existe liberdade sem igualdade”.
      De qualquer modo, bastará lembrarmo-nos apenas das manifestações dos “maillots jaunes”, do Chile e do Brasil (as mais “visíveis”, entre muitas outras) para que o corpo do meu texto não seja deitado ao lixo por eu ter referido um “elemento comum” a todos os movimentos de rua que diariamente presenciamos. Consigo perfeitamente perceber ligações sociológicas entre todas estas contestações, embora admitindo que as causas mais próximas e evidentes das de Hong Kong e da Catalunha sejam as que o Fernando referiu. Mas sem esquecer nunca que o escopo era o aprofundamento das desigualdades e não as causas próximas ou remotas de manifestações localizadas aqui ou ali. Por tudo isto, aceitando a crítica, mantenho a generalização que fiz, talvez abusivamente à luz de outros critérios. É que, como também afirmei no texto, as coisas podem não ser totalmente explícitas.

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    4. Respeito. Nao somente "porque sim" mas também porque o seu último comentário explicita muito melhor o seu pensamento.

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