A discussão política em torno do novo Governo saído das exauridas conversações entre Portas e Passos tem desembocado, invariavelmente, no desenho do renovado leitmotiv político do mesmo. Deste modo, todos passam por cima do mais importante: a dignidade que a política deve possuir. Com este triste episódio, chegamos a um grau zero da dignidade política. Por conseguinte, jamais Paulo Portas poderia aceitar um retorno, independentemente das benesses oferecidas. Um pedido de demissão de um membro de qualquer Governo - com a agravante de se tratar aqui de um ministro de Estado - representa sempre um limite, o último recurso. Daí que ninguém o formule sem a devida ponderação. Neste sentido, a carta (ou missiva) que Paulo Portas escrevinhou foi, evidentemente, o resultado de uma longa e solitária maturação. Só assim se percebe a utilização de palavras carregadíssimas de um forte valor moral e ético, como o são, por exemplo, irrevogável, consciência, dissimulação. Na política a palavra deve valer muito. Cavaco Silva tem-no dito. Baseou, aliás, toda a sua campanha eleitoral - a primeira, principalmente - na pedagogia do valor da palavra.
Um dia, um ministro colocou uns corninhos em cima da sua cabeça e virou-se, estimuladamente, para um deputado do PCP. No dia seguinte, já não era ministro. Outro, dezasseis anos antes, contara, empolgadamente, uma infeliz anedota a respeito das mortes causadas pela contaminação por alumínio das águas que abastecia um centro de hemodiálise. Deixou de ser ministro do ambiente no próprio dia. Mais próximo de nós, José Sócrates pediu a exoneração do cargo de primeiro-ministro ao presidente da República pelo chumbo do PEC4. Cavaco aceitou. Estes três exemplos (podiam ser muitos mais) são reveladores que, no que toca à vertente edificativa da política, não vale tudo, pelo simples facto de que se pode perder tudo.
Por tudo isto, a atitude de Paulo Portas adquire, porém, um certo grau de pedagogia, a qual se insere, construtivamente, no campo da baixa política.
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