segunda-feira, 1 de julho de 2013

Martirizado, mas com boa disposição!

Para um portuense tradicionalista, passar uma noitada de S. João sem comer as tradicionais sardinhas assadas, é muito custoso. Não que tenha havido falta delas, mas para ser franco recuso-me a sustentar intermediários gananciosos e aproveitadores que inflacionam o preço duma mercadoria arrancada ao mar muitas vezes com o sacrifício da própria vida, e quem ela arrisca, os pescadores que levam para casa uma reles côdea. Esquecido o prato tradicional, pensei numa alternativa lembrando-me duns bolinhos de bacalhau mas fui de imediato alertado que podia dar-se o caso de estar a comer um sucedâneo do fiel amigo e agora muito usado, o chamado peixe-caracol que se desconhece se faz bem ou se faz mal. Finalmente, e em boa hora o fiz pois consegui não sair dos limites financeiros do memorando da troika, optei por umas fantásticas gambas 30/40 das águas do Indico e de origem maputana na companhia de duas espectaculares louras, e não pensem que me refiro às louras de carne e osso das anedotas, pensem antes numas louraças da Unicer, bem fresquinhas, tiradas em copo bem seco como manda a lei encimadas por uma densa espuma branca no ponto. Quanto à festa, e acreditem que não fiquei a ver tudo a dobrar, tenho a impressão que em relação aos últimos anos, as ruas da baixa estavam com muito mais foliões, muitos alhos-porros e muitíssimos balões a serem lançados. Para compensar a falta de iluminação do belo edifício da câmara municipal situado no topo da avenida dos Aliados, cheia como o ovo, temos que agradecer à mãe natureza ter presenteado a noite mais longa da Invicta com o fenómeno “perigeu lunar” com uma superlua cheia, maior em tamanho e com um brilho realmente espectacular.  visto. 

Não esquecerei jamais a cara de espanto e alegria de tantos estrangeiros que tiveram a feliz oportunidade de nos visitar nestes dias, aderindo espontaneamente à festa e dando até a impressão de serem tripeiros genuínos. Teriam ficado estupefactos por verem um povo tão martirizado, ter esta boa disposição? Numa noite que às três horas da madrugada os termómetros marcavam muito perto de 23 graus, foi simplesmente contagiante e inesquecível. 

(DN, 28-6-2013)
Jorge Morais

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