quarta-feira, 25 de novembro de 2015

"Quem acode à Leopoldina?"

Jornal de Notícias, 25 de novembro de 2015, 9:00 de la mañana, edição especial por sair em dia de desgraças. O FCP atolou-se no relvado do Dragão frente ao gelo de Kiev, e em vários pontos do globo a guerra  continua à bomba. Mas a grande e miserável notícia é-nos dada logo na capa do jornal que nos empurra para a página 26, e a letras azuis diz no topo – Porto. Depois sobre o papel branco e a letras pretas conta-nos a estória de Leopoldina. Esta mulher que vive só no bairro do Leal (Porto), foi abandonada à sua sorte e desde 2013 que se sente pior que uma migrante ali ancorada. Queixa-se esta “jovem” de 63 anos, de que desde 2013 espera por amparo da Câmara e por uma habitação condigna, e a companhia dos vizinhos a quem a mesma autarquia resolveu há muito o problema alojando-os nos bairros sociais em casas com portas e janelas, e até talvez um ou outro latido de cão como despertador. Ela tem a promessa de que tudo se resolverá em menos tempo do que demorará a acabar com o conflito na Síria de onde chegam os recebidos com pompa e circunstância por técnicos de toda a espécie e a falar à moda do Porto, com banda musical se preciso for para Tv mostrar, quanta misericórdia e bondade vai pelo país. Leopoldina é portuguesa e mora no bairro mais desLeal que há ali pelo Porto. Temos porém a certeza de que se ela chegasse ao cais das colunas, ou em autocarro de lusos solidários que partem de Lisboa para recuperar vítimas lamuriantes do além, até o presidente da autarquia de Penela já tinha discursado com eloquência, posto à sua disposição um belo apartamento, bem decorado, com condições higiénicas europeias, proposta de emprego orgulhoso, que punha termo ao martírio em que sobrevive a Leopoldina Silva, que ao que sabemos ainda foi encontrada viva dentro das ruínas sem tecto seguro, aonde passa os dias junto das suas “pieguices bichentas de uma imundície coelhona, que o 25 de abril ainda não varreu de todo”. Neste momento a banda começou a tocar a “Sinfonia da Demagogia” composta por muitas mãos que nada fazem. A Leopoldina é que já não tem como a ouvir e apreciar, porque o som perde-se pelo telhado sem telhas.


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