Jornal de Notícias, 25 de novembro de 2015, 9:00 de la mañana, edição especial por sair
em dia de desgraças. O FCP atolou-se no relvado do Dragão frente ao gelo de
Kiev, e em vários pontos do globo a guerra
continua à bomba. Mas a grande e miserável notícia é-nos dada logo na
capa do jornal que nos empurra para a página 26, e a letras azuis diz no topo –
Porto. Depois sobre o papel branco e a letras pretas conta-nos a estória de
Leopoldina. Esta mulher que vive só no bairro do Leal (Porto), foi abandonada à
sua sorte e desde 2013 que se sente pior que uma migrante ali ancorada.
Queixa-se esta “jovem” de 63 anos, de que desde 2013 espera por amparo da
Câmara e por uma habitação condigna, e a companhia dos vizinhos a quem a mesma
autarquia resolveu há muito o problema alojando-os nos bairros sociais em casas
com portas e janelas, e até talvez um ou outro latido de cão como despertador.
Ela tem a promessa de que tudo se resolverá em menos tempo do que demorará a
acabar com o conflito na Síria de onde chegam os recebidos com pompa e
circunstância por técnicos de toda a espécie e a falar à moda do Porto, com
banda musical se preciso for para Tv mostrar, quanta misericórdia e bondade vai
pelo país. Leopoldina é portuguesa e mora no bairro mais desLeal que há ali pelo Porto. Temos porém a certeza de que se ela
chegasse ao cais das colunas, ou em autocarro de lusos solidários que partem de
Lisboa para recuperar vítimas lamuriantes do além, até o presidente da
autarquia de Penela já tinha discursado com eloquência, posto à sua disposição
um belo apartamento, bem decorado, com condições higiénicas europeias, proposta
de emprego orgulhoso, que punha termo ao martírio em que sobrevive a Leopoldina
Silva, que ao que sabemos ainda foi encontrada viva dentro das ruínas sem tecto
seguro, aonde passa os dias junto das suas “pieguices bichentas de uma
imundície coelhona, que o 25 de abril
ainda não varreu de todo”. Neste momento a banda começou a tocar a “Sinfonia da
Demagogia” composta por muitas mãos que nada fazem. A Leopoldina é que já não
tem como a ouvir e apreciar, porque o som perde-se pelo telhado sem telhas.
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