domingo, 13 de agosto de 2017

À caça da desgraça

O fascínio das televisões pelos incêndios, com horas e horas de repetição das mesmas imagens, devia merecer um estudo aprofundado, em especial o efeito que isso certamente terá como incentivo aos criminosos incendiários, a quem é dado ver os efeitos da sua “obra” confortavelmente sentados no sofá
 Veja-se o caso dos violadores de crianças; é raro o dia em que não vêm publicados relatos arrepiantes de meninas violadas pelos próprios pais, sejam adoptivos, de sangue ou padrastos; e a ideia que fica é que os casos aumentam na razão directa da sua divulgação, porque a mente doentia desses bichos é excitada por tais notícias…
Na tragédia dos incêndios, também é revoltante ver pessoas mais que informadas de como não se deve manter material combustível à volta das casas, mas vivem tranquilas com um matagal a entrar-lhes pela porta; quando aquilo desata a arder queixam-se de todo o mundo menos da sua negligência.
É revoltante ver autarcas que nada fizeram no território sobre o qual têm muito poder de decisão – se calhar para não incomodar muito os eleitores – fazer agora todo o tipo de recriminações e exigências, como ví em alguns casos, talvez porque estão à porta as eleições e convém mostrar ao “seu” eleitorado que não têm medo de “falar grosso” para cima…
Será imperdoável que não seja aproveitada esta situação de “terra queimada” para dar início a uma floresta de futuro, sustentável em termos ecológicos e defensável contra incêndios; como será imperdoável que, nesta fase em que o país tem realmente um governo sério e competente, este se demita de impor regras que evitem que tudo fique entregue à inércia do costume.
Se um Estado se vê obrigado a gastar tantos milhões, tirados dos bolsos de todos, para acorrer a situações de “casa roubada” como estas que têm assolado o país, também tem o direito/obrigação de impor regras para que, de futuro, se evitem ou minimizem as desgraças.

Amândio G. Martins


4 comentários:

  1. " Um governo sério e competente" que tem o dever de fazer mais sobre esta matéria, como diz. Essas medidas que o Sr. Amândio aponta, e esta: têm-se falado menos em fogo posto, mas ainda há dias ouvi que a GNR e a PJ já tinham prendido 57 suspeitos. Alguém sabe o que acontece a estes terroristas? Alguns serão doentes mentais. Mas são todos? E os criminosos morais, os que mandam pôr fogo? às vezes sou acusado de ser muito alinhado politicamente. Aqui está uma matéria com a qual não concordo com o PCP, Bloco e PS. São demasiado brandos com os criminosos. Com estes, e com outros. Mas sou contra a pena de morte.

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  2. As televiões, infelizmente, dão-nos o que é mais actual no país. Se há fogos, dão fogos, se há cheias, dão cheias. Prestam um serviço informativo naquilo que mais as solicita.

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  3. O seu texto, Amândio Martins, deixou-me ´como sempre nesta matéria ( informação) , dividido. Se tenho a certeza que a "mimetismo" existe ( no que toca ao suicídio. é célebre o exemplo do "Werther" de Goethe), não devemos estar informados?

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  4. Meus caros senhores, pusessem eles o mesmo empenho e entusiasmo a dar notícias boas como mostram nas tragédias e tudo seria muito mais equilibrado, Mas o que vemos é a demonstração de que precisam de muitas tragédias para terem o que fazer, já que não só passam tempo infinito à volta daquilo como a repetir as imagens de incêndios há muito extintos...

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