As árvores
também morrem
Era um
carvalho com 200 anos, sem sinais de decrepitude, e tombou arrancado pela raíz.
Imaginemos este carvalho num jardim do Porto, Lisboa ou mesmo numa pequena urbe
de província; os técnicos responsáveis pelos espaços verdes e zonas de lazer
decidem derrubá-lo, por desconfiarem da sua solidez.
Os
noticiários do dia seguinte abriam com isso, com fotos e vídeos da árvore centenária
“esquartejada” e uma multidão em fúria, negando com todas as forças que aquela
árvore oferecesse qualquer perigo; que toda a vida a tinham visto assim, que
eles, os pais, avós e visavós se consolaram à sua sombra…
Esta é mesmo
uma cena demonstrativa de que se pode ser preso por ter cão e por não ter, bem
visível agora nesta desgraça da Madeira, em que se ouvem palradores a
invectivar os poderes públicos por não terem atendido às queixas contra o
estado dos plátanos, dos quais se alguma coisa deles se desprendeu agora foi
arrastada por um carvalho que lhes caíu em cima e de que ninguém se queixava; e
nem lhes ocorre que apontarem os plátanos de estarem seguros por cabos só
desmente a falta de atenção com a segurança que tanto reclamam.
Quando saio
de casa - ou mesmo em casa - estou sujeito a uma série de imponderáveis que
me podem acontecer, sem que se vislumbrem evidentes culpados; mas a primeira
preocupação das “boas almas”, incentivadas pelos caçadores de polémicas, é
saber quem é o culpado – procurem o culpado de tanto inútil cujo único
objectivo na vida parece ser criar entropia ao bem-estar da colectividade…- usando
aquela chapa mais que batida “a culpa não pode morrer solteira”!
Temos aqui em
Ponte de Lima uma avenida, chamada dos plátanos por toda a gente, embora tenha
o nome de D. Luís Filipe, que a inaugurou no início do século passado, pouco
antes de ser assassinado. Trata-se de um espaço na margem esquerda do Lima, só
para recreio, sem trânsito automóvel, e os plátanos então plantados são hoje árvores
enormes, que requerem e têm muita atenção da autarquia.
Plantados dos
dois lados da avenida, a copa destas árvores forma um túnel que cobre todo o
espaço; quando há ventos caem pedaços, como caem em todo o lado que haja árvores,
havendo cartazes de alerta para isso colocados pelos responsáveis; se alguém
que ali passe levar com um ramo daqueles e morrer, a família que mande enterrar
bem fundo e pronto.
Amândio G.
Martins
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