terça-feira, 29 de agosto de 2017

O saber engagé


O Público de 28 de Agosto inclui um artigo assaz curioso do Prof. Pita Barros que, logo no título, interroga: o que queremos? Sem duvidar da qualidade da dissertação e do saber do autor, pareceu-me que se limita a assinalar a grande importância alegadamente dada à redistribuição de rendimentos, desvalorizando-se, em contrapartida, a necessidade de discutir melhorias da produtividade. Concede que, havendo mais receitas fiscais, concomitantemente com menos despesas públicas (em apoios sociais), se pode fazer mais redistribuição. Era o que mais havia de faltar que alguém dissesse o contrário!

No resto, somos conduzidos à sacramental ideia de que, para redistribuir, é preciso, antes, produzir mais. Nada de mais populista. Redistribuir é, por decorrência gramatical, distribuir de novo, fazer “outra” distribuição. De quê? Do que já existe e já foi produzido, que não estamos a iniciar a vida e o mundo. E quase concordo com o autor: “quando se fala em redistribuição, haverá um grupo claro que beneficia”; mas que me seja permitido acrescentar que, quando não se fala dela, há um “outro” grupo a beneficiar. Ou não? Se nos ficarmos pelos ganhos na produtividade, bem sabemos quem, sistematicamente, se apropria deles.

Público - 31.08.2017

1 comentário:

  1. É claro que, para estes sábios, que haja meia-dúzia de nababos no mundo que arrecada a fatia de leão da riqueza produzida; que haja mais de 30 mil pessoas a morrer de fome por dia, é coisa que não lhes diz nada. Eles não são desses sítios e nem têm lá parentes...

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