sexta-feira, 16 de novembro de 2018


A última a morrer...


Não recordo agora qual dos  autores africanos, se Mia Couto, se Águalusa, que descreve num dos livros uma cena em que uns guerrilheiros se  preparavam para fuzilar os habitantes de uma aldeia, ordenando-os numa fila, perguntando o nome a cada um; perante uma velhinha, que disse chamar-se “Esperança”, um soldado respondeu-lhe, com o maior cinismo: “Ok, avozinha, ficas para o fim; a esperança é a última a morrer”!

Deixando de lado o humor negro – e a propósito do comentário do senhor José Rodrigues ao texto que escrevi acerca da mobilidade eléctrica que se perspectiva – concordo com ele se pensarmos que os tempos não vão para grandes euforias, mas as coisas andam hoje tão depressa que não será  desproporcionada a meta estabelecida por Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, para acabar com a circulação de carros de combustão a 30 anos de vista.

De facto, não será exagerado pensar que, neste espaço de tempo, grande parte daquilo que hoje consideramos incrível e impensável há bem pouco tempo não passará de sucata; Pedro Sánchez está neste momento a levar com acesas críticas da indústria automóvel – e há lá 17 fábricas, com uma produção anual de 2.8 milhões de veículos – mas também das gasolineiras, que depressa perderão negócio e a quem deu às mais importantes um prazo de 2 anos e pouco para disponibilizarem pontos de carregamento eléctrico; os partidos de Direita, que não suportam que Sánchez, com tão frágeis apoios no Congresso, se atreva a decisões tão marcantes, também não o poupam, mas a resposta dele é inatacável: “hay que ser valiente con el cambio climático” .

É verdade que há um longo caminho a percorrer, já que para 30 milhões de carros de combustão em circulação naquele país, ainda só há 30 mil eléctricos; outra arma de arremesso são os postos de trabalho, pois enquanto no processo tradicional são precisos 5 operários para fazer um carro, dizem os conhecedores, para o eléctrico basta 1 trabalhador, mas isso é válido para todas as actividades. Por outro lado, ouvi um economista afirmar,  a factura dos combustíveis leva de Espanha todo o dinheiro ganho com o turismo, o que não é pouca coisa num país tão visitado, ficando esse dinheiro disponível para investimentos na nova economia...


Amândio G. Martins



2 comentários:

  1. No meu comentário ao seu texto “Um mundo menos fedorento…”, só quis dizer que, à força de desilusões acumuladas, sempre desconfio dos “amanhãs que cantam” que, de vez em quando, nos vêm apregoar. Há-de haver sempre alguém a meter areia na engrenagem. Lembra-se da “revolução” da gasolina a partir de cana do açúcar? Parece que, ao fim de algum tempo, se registaram desequilíbrios na produção da cana e o disparo dos preços. Confesso que não conheço o assunto em pormenor e que posso estar enganado, mas como “gato escaldado de água frio tem medo”, começo logo à espera dos problemas que hão-de surgir e dos espertalhões que, à custa de todos os outros, se vão abotoar com os ganhos. Na questão ambiental, oxalá tenha razão, e respiremos um pouco menos de fedor…

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  2. Embora as melhorias anunciadas já não venham a tempo para muitos de nós, mesmo assim é indispensável que venham...

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