A última a morrer...
Não recordo agora qual dos autores africanos, se Mia Couto, se Águalusa,
que descreve num dos livros uma cena em que uns guerrilheiros se preparavam para fuzilar os habitantes de uma
aldeia, ordenando-os numa fila, perguntando o nome a cada um; perante uma
velhinha, que disse chamar-se “Esperança”, um soldado respondeu-lhe, com o maior
cinismo: “Ok, avozinha, ficas para o fim; a esperança é a última a morrer”!
Deixando de lado o humor negro – e a propósito do comentário
do senhor José Rodrigues ao texto que escrevi acerca da mobilidade eléctrica
que se perspectiva – concordo com ele se pensarmos que os tempos não vão para
grandes euforias, mas as coisas andam hoje tão depressa que não será desproporcionada a meta estabelecida por
Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, para acabar com a circulação de
carros de combustão a 30 anos de vista.
De facto, não será exagerado pensar que, neste espaço de
tempo, grande parte daquilo que hoje consideramos incrível e impensável há bem
pouco tempo não passará de sucata; Pedro Sánchez está neste momento a levar com
acesas críticas da indústria automóvel – e há lá 17 fábricas, com uma produção
anual de 2.8 milhões de veículos – mas também das gasolineiras, que depressa
perderão negócio e a quem deu às mais importantes um prazo de 2 anos e pouco
para disponibilizarem pontos de carregamento eléctrico; os partidos de Direita,
que não suportam que Sánchez, com tão frágeis apoios no Congresso, se atreva a
decisões tão marcantes, também não o poupam, mas a resposta dele é inatacável:
“hay que ser valiente con el cambio climático” .
É verdade que há um longo caminho a percorrer, já que para
30 milhões de carros de combustão em circulação naquele país, ainda só há 30
mil eléctricos; outra arma de arremesso são os postos de trabalho, pois
enquanto no processo tradicional são precisos 5 operários para fazer um carro,
dizem os conhecedores, para o eléctrico basta 1 trabalhador, mas isso é válido
para todas as actividades. Por outro lado, ouvi um
economista afirmar, a factura dos
combustíveis leva de Espanha todo o dinheiro ganho com o turismo, o que não é
pouca coisa num país tão visitado, ficando esse dinheiro disponível para investimentos
na nova economia...
Amândio G. Martins
No meu comentário ao seu texto “Um mundo menos fedorento…”, só quis dizer que, à força de desilusões acumuladas, sempre desconfio dos “amanhãs que cantam” que, de vez em quando, nos vêm apregoar. Há-de haver sempre alguém a meter areia na engrenagem. Lembra-se da “revolução” da gasolina a partir de cana do açúcar? Parece que, ao fim de algum tempo, se registaram desequilíbrios na produção da cana e o disparo dos preços. Confesso que não conheço o assunto em pormenor e que posso estar enganado, mas como “gato escaldado de água frio tem medo”, começo logo à espera dos problemas que hão-de surgir e dos espertalhões que, à custa de todos os outros, se vão abotoar com os ganhos. Na questão ambiental, oxalá tenha razão, e respiremos um pouco menos de fedor…
ResponderEliminarEmbora as melhorias anunciadas já não venham a tempo para muitos de nós, mesmo assim é indispensável que venham...
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