terça-feira, 20 de novembro de 2018


FAKE NEWS

A notícia produzida, fabricada, trabalhada com objetivo previamente definido. Combinando factos aparentemente reais, alguns com forte aderência prática mas fictícios e/ou manipulados, os produtores das fake news emprestam um conteúdo agradável e coerente à notícia, divulgam-na pelos canais que consideram os mais apropriados, escolhidos a dedo e minuciosamente combinados para o efeito que se pretende. O intuito é previamente discutido ao pormenor, trabalhado de forma minuciosa e de maneira atenta. Utilizam títulos apelativos, atraentes ou não, conforme o objetivo que se pretende. O fabrico/produção da fake news é contínuo e estuda com minúcia o feed back obtido após as divulgações iniciais. Nada é deixado ao acaso. Apresentadas como factualmente corretas para atrair mais população, não têm base real ou a realidade é forjada. Numa sociedade que olha para a floresta e não vê a árvore, as fake news dificultam o trabalho do jornalista sério e honesto que noticia o real com base no que observa e com algum grau de subjetividade próprio de que tem personalidade.
Diferente das fake news é a falsa notícia. Na fake news a intensão e o propósito são importantes e toda fake news, desde de a sua conceção até há sua divulgação final, é trabalhada em função daquilo que o seu produtor pretende. Por seu lado, a falsa notícia não tem outra intenção ou propósito prévio a não ser o de informar com total objetividade e isenção. É falsa porque parte de erros, enganos, omissões, superficialismo na identificação das fontes, infantilidade do jornalista ou do órgão de informação que a transmite. Ao contrário da fake news, a falsa notícia não é forjada nem procura manipular. Também as sátiras e as paródias (mentiras do dia um de abril) não se confundem com as fake news. A sátira e a paródia vestem a notícia com a roupagem do palhaço, acrescentam comentários, argumentos, desenhos, cores com o objetivo de ironizar, de provocar a diversão e não de enganar. Mas cuidado, o fabricante/produtor da fake news pode utilizar sátiras e paródias para conseguir os seus objetivos. Pode incluir uma sátira na construção/fabricação da fake news tornando-a mais apelativa, mais atraente para abrir e/ou desimpedir caminhos de divulgação.
Ao longo da história quase que se pode confundir fake news com mentira. Hoje, com o irromper de meios de comunicação social de fácil, instintivo e imediato acesso, a fake news é muitíssimo mais que uma mentira. É uma notícia falsa produzida/fabricada para se atingir objetivos com impacto social. É um embuste que se reproduz e se multiplica por uma miríade imposturas capazes de influenciar e induzir engano na opinião pública. A fake news é peçonha inoculada na sociedade. É um corpo resistente à sua confirmação e ao seu contraditório. Quase me atrevo a afirmar que não existe terapia para a fake news porque um dos seus principais objetivos é lançar a dúvida e esta, uma vez lançada, segue o seu caminho e não termina podendo acabar tarde demais.
O cultivo, em pequena e grande escala, do diferente social e a divulgação cultural são desafios a fomentar e a continuar para que o espirito crítico e o conhecimento ajudem a sociedade a ler/ouvir/escutar a notícia evitando o viés, o preconceito e o estereótipo. Evitar julgamentos conclusivos e atestar a concordância, a conformidade e a coerência da notícia confrontando várias fontes, são atenções que se pedem ao leitor/ouvidor interessado numa sociedade democrática, livre e sem medos disseminados. Difundir conceitos sem máximas são ajuda que vale ouro.
Por outro lado, o jornalismo sério obriga a uma boa dose de paciência, a algum estudo e a muita consulta. A informação jornalística séria é um arquivo de consulta a alertar e a facilitar um conhecimento abrangente. No mundo atual, num misto de entretimento e informação, abundam as notícias superficiais com tendência para o acessório ou para o relato exaustivo e repetitivo do que promete audiência. A transmissão de histórias chocantes de miséria humana desviam a atenção do essencial e fomentam sensações instintivas e indignações dramáticas. O leitor/ouvidor habitua-se ao comentário fácil, emotivo, fica um cliente picuinhas em vez de pensador crítico. Está criado campo fértil para que as fake news nasçam e façam o seu caminho. Promover um jornalismo sério é um desafio social que requer resiliência por parte do jornalista e das empresas de comunicação social. Em si, por si só a notícia é indiferente e a sua divulgação desinteressada. Mas a sociedade clama pela informação, quer ouvir/ler notícias, quer saber e a mídia deve responder a essa chamada com total isenção e imparcialidade, como se pela primeira vez estivesse a trabalhar o assunto. Jornalismo é serviço público negação absoluta de conversa particular.
Manuel José Martins

3 comentários:

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