Como qualquer mercadoria...
É terrível o drama das pessoas que se vêem confrontadas com
aumentos da renda de casa à vontade do senhorio e não têm rendimentos que lhes
permitam responder a tais exigências; e com a desregulação que tem havido por
todo o lado, a voracidade dos proprietários encontra caminho livre para todas
as exigências.
E não parece haver argumentação para a dialética de quem diz
que não lhe cabe proporcionar aos cidadãos habitação a preços baixos, porque o
investimento feito
na construção dos edifícios não se recupera dessa forma,
cabendo ao Estado, sempre o Estado, pagar o diferencial do que o inquilino pode
pagar e o que o senhorio quer.
Aqui ao lado, onde os despejos por impossibilidade de pagar
a renda exigida têm aumentado, também aumenta a indignação contra os “fundos
abutre” que estão por detrás desses despejos; é que essas máquinas destruidoras
da paz social ainda têm a seu favor a lei, que dispensa um oficial para,
juntamente com a polícia, bater à porta de quem é despejado e pô-lo
simplesmente na rua.
Ao verificar ontem que ia ser expulsa da sua casa, em Madrid,
onde vivia sozinha há anos, uma senhora
idosa atirou-se da janela do quinto andar, tendo sofrido morte instantânea;
perante a tragédia, os serviços sociais esclareceram que a senhora havia pedido
ajuda mas ainda não tinha sido decidida, tendo o sindicato dos inquilinos
lembrado que, perante a selva instalada, mais mortes vão acontecer, que não são
suicídios, mas assassinatos!
Amândio G. Martins
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