No país do faz de conta
Não posso esquecer esse dia 4 de Março de 2001, quando ao começo da noite recebemos a triste notícia do ocorrido em Entre-os-Rios. Um autocarro e três viaturas ligeiras haviam caído ao rio Douro, provocando 59 vitimas mortais, na sequência do colapso da ponte Hintze Ribeiro. Muito se falou acerca do sucedido, homenagens foram feitas, monumentos foram erguidos, novas pontes foram construídas, mas...culpados não foram encontrados!!! Que me recorde, e peço desculpa desde já se me engano, apenas Jorge Coelho se demitiu e dos 29 arguidos no processo, nenhum foi acusado formalmente pois o juiz em questão entendeu que tudo se ficou a dever a causas naturais!!! Daqui se poderá, eventualmente, concluir que aquele autocarro e aqueles três veículos ligeiros não deviam ter atravessado aquela ponte, naquele dia e aquela hora...
Em Junho e Outubro de 2017 deparamos com uma anormal vaga de calor em Portugal. Anormal, mas não inédita, pois já por várias vezes o nosso país foi fustigado com vagas de calor. No entanto, para mais de cem pessoas essa foi, infelizmente, a última vaga de calor que sentiram, pagando com a própria vida a consequência da mesma! Uma vez mais, parece que a perda destas vidas (já para não falar nas famílias que ficaram sem os seus filhos, maridos, pais, etc), os milhares de hectares ardidos, as casas destruídas (não estou a falar das casas de férias, estou a falar mesmo das residências permanentes), os animais carbonizados, os danos morais e tudo o mais, se ficou a dever a causas naturais!!! Culpados? Que me recorde, e mais uma vez mais peço desculpa se me engano, nem um. Provavelmente, essas pessoas não deviam estar naqueles sítios, naqueles dias e aquelas horas...
Na passada segunda feira, mais um acidente do domínio publico. Inexplicavelmente uma secção da estrada que liga Vila Viçosa a Borba (pelas pedreiras, pois existe uma variante) aluiu! Bem sei que ainda é cedo para tirarmos conclusões, mas a experiência diz-me que mais uma vez não vai haver culpados. As empresas que exploram as pedreiras dizem que já toda a gente tinha conhecimento da situação. A Câmara Municipal de Borba diz-se impotente para manter uma via que lhe foi "oferecida" aquando da reestruturação da Infraestruturas de Portugal. O governo diz que nada sabia. Enfim... todos sabiam mas ninguém sabia de nada! Mais uma vez, provavelmente aquelas pessoas não deviam estar naquele local, naquele dia e aquela hora...
Felizes e contentes, pois tudo está bem, vamos vivendo neste nosso querido país do faz de conta...
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