quarta-feira, 21 de novembro de 2018


Na casa do vizinho...


Não é só por cá que a Justiça anda por maus caminhos e também não é certo que os problemas dos outros não nos digam respeito porque, como diria o outro, isto anda tudo ligado. De facto, tudo mexe com tudo;  e ao mesmo tempo que os nossos magistrados, ditos membros de órgão de soberania, brindam com uma greve o seu povo, no país vizinho acontece precisamente a mesma coisa à mesma hora, com milhares de juízes (2.560) em “huelga”.

Os homens da Justiça merecem cada vez menos respeito justamente porque não se dão ao respeito, comportando-se de maneira vulgaríssima para o comum dos cidadãos, ande ou não às voltas com problemas nos tribunais; mas quando somos levados a pensar que não haverá Justiça pior que a nossa, quem observa o que se passa em Espanha fica mesmo incrédulo.

Cada vez mais escrutinados pelos meios de comunicação, o povo espanhol fica a conhecer a formação moral de juízes que insultam as mulheres que se queixam de violência machista, como por cá também conhecemos aquele exemplar que recorria à bíblia para fazer o mesmo; e pode conhecer casos verdadeiramente caricatos, como o de uma juíza taróloga, que recorria às cartas para tomar as suas decisões.

Depois do escândalo das decisões contraditórias do Supremo Tribunal à volta das hipotecas, a nova celeuma prende-se com a interferência descarada da política na escolha dos altos cargos da magistratura – no que por cá também fazem o mesmo, benza-os Deus . É que os principais partidos acordaram repartir os juízes segundo as suas simpatias, ficando o PP com a presidência do Conselho Geral do Poder Judicial, para a qual indicou o juíz Manuel Marchena, que se tinha “celebrizado” pela forma encarniçada como, no Supremo Tribunal, “empurrou” Baltasar Garzón para fora da magistratura.

Ignácio Cosidó, que foi Director-Geral da Polícia nos governos de Rajoy e é actual senador do mesmo partido, ficou tão eufórico com a nomeação de Marchena que não resistiu a comentar com amigos, no WhatsApp, que tinha sido uma grande vitória do partido poder controlar um órgão de Justiça tão importante; quando tamanha “franqueza”transpirou para o público, ao juíz Manuel Marchena não restou outra saída que não fosse renunciar, mas ficou mais um elemento de descrédito a pesar sobre a Justiça...

Aquele Ignácio Cosidó, como Director-Geral da Polícia, subornou com fundos reservados do Estado o motorista de Luís Bárcenas, então tesoureiro do PP, para que roubasse ao chefe documentos que pudessem comprometer o partido na chamada “trama Gurtel” -  um antro de corrupção que financiava o partido com dinheiros “sucios”- coisa que ele conseguiu com sucesso, a ponto de Bárcenas estar hoje na cadeia e Cosidó sentado calmamente no Congresso; ao motorista, além de 40 mil euros contados, autorizou que fosse colocado na Academia da Polícia, já com 40 anos, quando a idade máxima de entrada são 25 anos, coisa que deu de tal forma nas vistas que, terminado o curso, só esteve um dia no activo...

Amândio G. Martins

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