Na casa do vizinho...
Não é só por cá que a Justiça anda por maus caminhos e
também não é certo que os problemas dos outros não nos digam respeito porque, como
diria o outro, isto anda tudo ligado. De facto, tudo mexe com tudo; e ao mesmo tempo que os nossos magistrados,
ditos membros de órgão de soberania, brindam com uma greve o seu povo, no país
vizinho acontece precisamente a mesma coisa à mesma hora, com milhares de
juízes (2.560) em “huelga”.
Os homens da Justiça merecem cada vez menos respeito justamente
porque não se dão ao respeito, comportando-se de maneira vulgaríssima para o
comum dos cidadãos, ande ou não às voltas com problemas nos tribunais; mas
quando somos levados a pensar que não haverá Justiça pior que a nossa, quem
observa o que se passa em Espanha fica mesmo incrédulo.
Cada vez mais escrutinados pelos meios de comunicação,
o povo espanhol fica a conhecer a formação moral de juízes que insultam as
mulheres que se queixam de violência machista, como por cá também conhecemos
aquele exemplar que recorria à bíblia para fazer o mesmo; e pode conhecer casos
verdadeiramente caricatos, como o de uma juíza taróloga, que recorria às cartas
para tomar as suas decisões.
Depois do escândalo das decisões contraditórias do Supremo
Tribunal à volta das hipotecas, a nova celeuma prende-se com a interferência descarada
da política na escolha dos altos cargos da magistratura – no que por cá também
fazem o mesmo, benza-os Deus . É que os principais partidos acordaram repartir
os juízes segundo as suas simpatias, ficando o PP com a presidência do Conselho
Geral do Poder Judicial, para a qual indicou o juíz Manuel Marchena, que se
tinha “celebrizado” pela forma encarniçada como, no Supremo Tribunal,
“empurrou” Baltasar Garzón para fora da magistratura.
Ignácio Cosidó, que foi Director-Geral da Polícia nos
governos de Rajoy e é actual senador do mesmo partido, ficou tão eufórico com a
nomeação de Marchena que não resistiu a comentar com amigos, no WhatsApp, que
tinha sido uma grande vitória do partido poder controlar um órgão de Justiça
tão importante; quando tamanha “franqueza”transpirou para o público, ao juíz
Manuel Marchena não restou outra saída que não fosse renunciar, mas ficou mais
um elemento de descrédito a pesar sobre a Justiça...
Aquele Ignácio Cosidó, como Director-Geral da Polícia,
subornou com fundos reservados do Estado o motorista de Luís Bárcenas, então
tesoureiro do PP, para que roubasse ao chefe documentos que pudessem
comprometer o partido na chamada “trama Gurtel” - um antro de corrupção que financiava o partido
com dinheiros “sucios”- coisa que ele conseguiu com sucesso, a ponto de Bárcenas
estar hoje na cadeia e Cosidó sentado calmamente no Congresso; ao motorista, além
de 40 mil euros contados, autorizou que fosse colocado na Academia da Polícia,
já com 40 anos, quando a idade máxima de entrada são 25 anos, coisa que deu de
tal forma nas vistas que, terminado o curso, só esteve um dia no activo...
Amândio G. Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.