Como
se sabe, os aficionados, os auto denominados amigos dos touros, têm
diversos argumentos para justificar as touradas. Que é uma arte, uma
tradição, uma industria, etc. Mas o argumento que consideram
irrefutável, demolidor, definitivo, é o de que se não existissem
corridas de touros, pura e simplesmente, não se justificava a
existência do touro bravo. Segundo eles, é que o touro bravo,
demora muito mais tempo a atingir a sua plenitude e, ao contrário
das outras raças da sua espécie, não se dá em cativeiro.
Portanto, em termos económicos, não se justificava a sua criação.
Em
parte, até têm razão. Mas, há outro argumento que anula este por
completo. E os entendidos, obviamente, silenciam-no. Os ignorantes,
logicamente, também não o evocam.
É
que, também ao contrário, das outras raças desta espécie, o touro
bravo, dá-se, vive, perfeitamente na charneca. Bastando-lhe a
escassa vegetação, incluindo o mato, das suas terras pobres. E
depois, para a engorda, apenas algum tempo na lezíria, ou um
suplemento alimentar. E assim, este belíssimo e nobre animal, pode e
deve perfeitamente existir sem esse primário e bárbaro espetáculo.
Aqui
chegados, os amantes da “arte” de Marialva, dirão: “afinal
eles também gostam de bife! E para isso não têm que matar os
touros?” Pois é! Mas é que há uma diferença abissal entre
matar-se o animal e, devendo sê-lo, com um mínimo de sofrimento,
com anestesia prévia, para consumo, ou massacrá-lo na arena e nos
curros, para gáudio dos aficionados.
A
terminar, referir mais este pormenor tão desconhecido: antes da
lide, manietado nos curros, completamente à mercê dos seus
“amigos”, para aumentar a sua agressividade, o touro é fria e
impiedosamente espicaçado com aguilhões de aço.
Finalmente,
dizer que sou natural de Torrão, Alcácer do sal, e vivi parte da
minha juventude em Coruche. “Naturalmente”, fui aficionado.
Portanto, mesmo no Alentejo e Ribatejo, a tradição já não é o
que era. As tradições, tal como as sociedades, não são imutáveis.
Apesar de aberrações que se vão mantendo, o rumo delas, das
sociedades, é, naturalmente, no sentido do humanismo e não no da
barbárie. Por exemplo, a inquisição e a escravatura, já lá vão.
A tourada, não tenho dúvidas, também irá. E não será uma
imposição! Será por uma crescente vontade da maioria que, já o é.
Já
ouvi falar em referendo. Não sei se é matéria para tal. Mas, se
necessário, venha ele!
Francisco
Ramalho
Corroios,
8 de Novembro de 2018
Dois pares de "bandarillas" nos cornos do Manel.
ResponderEliminarNão dói nada...