domingo, 6 de janeiro de 2019


“Isso não se diz”!...


Quando era miudo e ia com os meus irmãos visitar a avó Custódia Maria, em cuja casa havia, no rés-do-chão, a única mercearia da aldeia – e ainda existe como única casa comercial, agora metade café, à frente da qual está a minha irmã e o marido -   fundada pelo meu tio António, onde paravam uns velhotes a jogar cartas e dominó, numa grande mesa de pedra que havia nas traseiras, debaixo de uma ramada; um desses velhotes, o Ti Zé Farias, veterano da 1ª Grande Guerra, tinha a “tara” de apertar as pernas da miudagem que lhe passasse a jeito.

E quando, no tempo quente,vestíamos uns calções janotas  que o  pai nos mandava do Brasil, mais vontade ele tinha de agarrar com a manzorra as frágeis pernas dos rapazes, só largando quando nos ouvia gritar de dor, chamando-nos mimalhos.

Até que um dia, quando lá chegamos, ouvimos da avó a “boa” notícia de que o Ti Zé Farias tinha morrido de repente, levando o meu irmão mais novo, Zé Marinho, a festejar o acontecido com um “bem feita”! “O aperta-pernas morreu, bem feita, bem feita, bem feita”. Só que a nossa avó não gostou nada daquilo e repreendeu-o: “Ó rapaz, olha que isso não se diz”!

Como a minha querida avó já não me ouve, recorro àquele desabafo do meu irmão para dizer “bem feita” que tenha morrido uma parva jornalista americana chamada Bre Payton, de 26 anos, que foi vitimada pelo vírus da gripe H1N1, para o qual há vacinas eficazes, mas contra as quais ela fazia campanha, chamando a todas as vacinas “”o Diabo”...


Amândio G. Martins

1 comentário:

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.