quarta-feira, 2 de janeiro de 2019


Sofia e o Mestre...


... -Mas a dialéctica de Hegel não se aplicava apenas à história. Mesmo quando discutimos pensamos dialecticamente. Tentamos detectar os erros de uma forma de pensar. Mas quando tivermos descoberto os erros de uma forma de pensar conservamos ainda o que estava correcto nela.

Quando um socialista e um conservador se reunem para resolver um problema social, será logo patente uma tensão entre ambas as maneiras de pensar. Mas isso não quer dizer que um tem toda a razão e o outro está completamente errado. É perfeitamente pensável que ambos estejam parcialmente certos e parcialmente errados. No decurso da discussão conservar-se-ão, se eles são inteligentes, os melhores argumentos de ambos os lados.

Se estamos no meio de uma discussão destas, infelizmente nem sempre é fácil verificar o que é mais racional. No fundo, é a história que tem de mostrar o que é verdadeiro e o que é falso. O que é racional é real, segundo Hegel.

Há cento e cinquenta anos muitos lutavam pela igualdade de direitos para as mulheres. E muitos lutavam encarniçadamente contra a igualdade. Se hoje examinarmos os argumentos de ambos os lados, não é difícil reconhecer quais eram os mais racionais.Mas não podemos esquecer que posteriormente sabemos sempre mais. Provou-se que aqueles que lutaram pela igualdade de direitos tinham razão. Muitas pessoas teriam certamente vergonha se tivessem de ler o que o seu avô disse  acerca deste tema.

Vejamos o que Hegel achava: “A diferença entre homem e mulher é a mesma que entre o animal e a planta. O animal corresponde mais ao carácter do homem, a planta mais ao da mulher, pois o seu desenvolvimento é mais tranquilo, e o princípio que lhe está subjacente é sobretudo a unidade indeterminada do sentimento. Se as mulheres estão no topo do poder, o governo está em perigo, porque elas não agem de acordo com as exigências da universalidade, mas de acordo com uma inclinação e opinião arbitrárias. A formação das mulheres dá-se, por assim dizer, na atmosfera da imaginação, mais através da vida do que da aquisição de conhecimentos. Enquanto o homem atinge o seu lugar apenas através da aquisição das ideias e de muito empenho técnico”.

“Já chega – diz Sofia – prefiro não ouvir mais citações dessas”. – Mas a citação é um exemplo brilhante de que a nossa noção do que é “racional” se altera constantemente – diz o mestre. –Mostra também que Hegel era um filho do seu tempo. Muito do que nos parece hoje evidente não passará o teste da história...

Nota – transcrito do livro anexo


Amândio G. Martins



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