quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Amigos - Inimigos

 

Amigos – Inimigos...

 

 

Em homenagem a Victor Cunha Rego, jornalista que admirava, transcrevo um dos  Editoriais que escreveu no Semanário, de que foi director.

 

“As pessoas acham que precisam de ter ”amigos”, tomando como tais aqueles que defendam os seus privilégios, que as ajudem perante as mutações do poder, que as recomendem na busca de um emprego, de uma casa, de um médico. E também quem se recorde da data do seu aniversário, mostre preocupação se está resfriado e, sobretudo, telefone uma, duas vezes por dia.

 

Essa “amizade” é anacrónica e angustiante. Burla a lei, ilude o mérito, dá mostras de feudalismo e de folclore. Serve de instrumento de poder – tantas vezes doentio – a quem a demonstra e transforma o outro em cativo. Contrapõe-se à moral como privilégio.

 

Amizade não é isso, não é essa conquista. É uma consideração individual, única e inconfundível. É uma virtude e, como todas as virtudes, é indivisível, absoluta e gratuita. Amigo não é o que nos faz favores mas o que nos faz justiça sem com isso atribuir-nos prémios ou derrubar o nosso inimigo.

 

A amizade, como diz Francesco Alberoni, é uma relação, entre dois seres isolados, donos de si próprios. É um encontro entre iguais – por muito que sejam, também, diferentes. Só há amizade na independência e na semelhança de dignidade de cada um. O amigo não é aquele que nos dá presentes e nos protege.

 

É o cúmplice, num momento de mudança, que nos compreende quando perdemos a identidade e temos de reconquistá-la numa sociedade que deixou de ser familiar. Amigo é aquele que nos faz entender que a sociedade mudou, nós mudamos e, ao mesmo tempo, nos acompanha na nova aventura de um território desconhecido. Amigo não é, como a nossa veia árabe pretende, aquele que se bate contra o nosso inimigo.

 

Uma comunidade é feita tanto por nós como pelos nossos inimigos. Necessitamos, emocionalmente, da amizade e da inimizade, do amigo e do inimigo. Não é por acaso que a morte do inimigo provoca, tantas vezes, um vazio”.

 

 

Transcrito por Amândio G. Martins

3 comentários:

  1. Boa paráfrase! Olhe, sem pretensão, eu e o José Rodrigues temos "andado às turras" com a covid e....

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  2. O respeito por aquilo que cada um é e pensa já é um bom começo de amizade...

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