No já longo tempo em que as atenções gerais convergiram na pandemia, o PÚBLICO adoptou uma orientação editorial concentrada no combate às consequências primárias da doença. Aceita-se, pelo alinhamento com a opinião generalizada (para a formação da qual também contribui em grande escala...), embora se possa considerar que o dissenso criador saiu prejudicado. Raras foram as vezes em que se “viram” vozes discordantes no que toca à linha oficial da quase generalidade dos governos europeus. A verdade é que, no horizonte de hoje, não se vêem as mesmas multidões a “exigir” um novo confinamento geral, pela simples razão de que tal não será possível sem que se destrua o que ainda resta das economias nacionais. Poderá pensar-se então que, na primeira fase, talvez as medidas sanitárias básicas, pouco ou nada intrusivas do corpo sócio-económico, e aceites por todos, teriam bastado para se obterem resultados não muito diferentes. É um ponto de discussão que, não sendo despiciendo, não se viu explorado. Talvez o PÚBLICO tivesse considerado que a divergência nessa matéria poderia contribuir para a confusão, contraproducente, um temor socialmente compreensível, mas, digamos, pouco “científico”.
Contudo, essa orientação não é a mesma coisa que deixar-se passar a noção de que quem não alinha na ideia do confinamento como única saída para o problema é um irresponsável apenas preocupado com os bons resultados da economia, em detrimento da saúde pública, e em desrespeito pelo número de mortes nos grupos de risco, designadamente entre os mais velhos. Com o à-vontade que me dá pertencer a esses grupos de risco, permito-me assinalar que, a par das mortes imediatas pelo coronavírus, também me preocupo com o mundo que os meus netos já estão a defrontar, e com as vítimas que vão surgir, ocasionadas não pela pandemia, mas pela luta contra ela.
Sabendo bem qual a sua posição, aqui, mais uma vez, expressa, permita-me uma pergunta; se "mais de meio mundo" seguiu numa direcção contrária à sua, o virus é "chinês", " capitalista", somente RNA ou... " estarão esses ensandecidos, PÚBLICO incluído?...
ResponderEliminarNão, “esses” não estão todos ensandecidos.
EliminarA posição predominante parece começar a alterar-se. Ouvi, há minutos, António Costa dizer que temos de viver com o vírus, que não será possível encerrar totalmente as escolas, as empresas e actividades empresariais, e que o SNS vai dar resposta à doença sempre que ela aparecer.
Pois era essa a posição que eu gostaria de ter visto e ouvido no princípio da pandemia, em vez de um intempestivo decretamento do estado de emergência. Não lhe parece, Fernando, que há aqui uma mudança de posição dos “poderes estabelecidos”, nitidamente a indiciar o “erro”?
Será que esse “mais de meio mundo” começa a alinhar-se comigo na faixa de rodagem em que eu parecia (pareço?) em contra-mão? Só faltará mesmo é que venham dizer que erraram. Mas isso nunca o farão, políticos experientes que são.
Repito: não estão todos ensandecidos. Mas permita-me, mais uma vez, citar (de memória) um cientista, Arlindo de Oliveira, do IST e do INESC: cada vez mais, os governos mostram a sua incapacidade para assumirem riscos políticos (as eleições são sempre a prazo curto e podem-se perder…), e a sociedade actual aumenta progressivamente a sua aversão ao risco. Basta comparar a reacção oficial nos tempos de outras epi(pan)demias recentes com a actual, logo quando temos métodos terapêuticos infinitamente mais poderosos. Só que, na altura, o poder das redes sociais e órgãos de informação sensacionalistas era infinitamente menor.
O vírus? Não penso que seja chinês, russo ou americano. A História faz-me crer que é “natural”. Tanto como os outros, no passado. Pelo menos, até prova em contrário...
Há várias coisas em que discordo de si, na sua resposta ( os políticos não querem assumir o "erro? Por causa das eleicoes? ). Pensa muito mal dos "políticos"! Bom, mas o que aqui me traz é a palavra erro e ainda a forma como o José a coloca no tempo. Nao entendo que tenha havido qualquer erro, como aliás não existiu com a abertura depois efectuada! Tempos diferentes com conhecimentos (?) diferentes, como, aliás, se viu nos números da letalidade.E a Vida conta, bem como cada um dos viventes. Erro inicial? Confesso que assim não o consigo ver.
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EliminarOs “eleitoralismos” atacam vezes de mais os agentes. Não é pensar muito mal deles. É o que é, e, em minha opinião, o fenómeno vai-se agravando. Mas nem pensar em acabar com “eles”.
O “erro”, para mim, foi que os decisores, sobretudo na Europa, um exemplo para todo o Mundo nos cuidados de saúde, se precipitaram. Em autêntico clima de pânico, e repetindo à exaustão que pouco ou nada se sabia sobre o vírus (!!!), meteram-nos nesta alhada sem ponderarem devidamente uma análise custo-benefício que, penso eu, não reflecte por si só uma visão “economicista” e materialista da questão. Não é esta que me importa, mas é imperioso, como em tudo na vida, fazer essa ponderação, de modo a que não se deite fora o bebé com a água do banho. Para mim, não “sabiam” literalmente no que se estavam a meter e, agora, dificilmente darão alguma vez a mão à palmatória, insistindo na inevitabilidade. Não que isso seja importante. O facto é que se gastaram demasiados cartuchos e, no futuro, caso surja algo de ainda mais terrível, duvido que passe pela cabeça de alguém avançar para o confinamento total e universal.
Tem razão no argumento de que o decorrer do tempo nos trouxe maior conhecimento sobre o assunto. O que eu não deixo de verberar é a abrangência das medidas imediatas, autenticamente “totalitárias”, em vez de aplicações graduais.
Pronto, estamos "(des)entendidos". E, se me permite um pouco de ironia, como eu gostaria de ter tido homens clarividentes para, desde o início, saberem o que não se devia ter feito no inicio...
EliminarOra assim é que eu gosto: sempre (des)entendidos.
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