sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Pandemia em 7 de Agosto

 Para mim, é claro. Antes de me ausentar para uns dias de "férias" ou, melhor dizendo, de mar quentinho, vou fazer o ponto do meu entendimento sobre o assunto. Primeiro o vírus entrou abruptamente, sem que algo se soubesse sobre ele, e a reacção foi de recolha, quase instintiva, em benefício da saúde e sem cotejo com a economia. Foi o tempo das palmas aos profissionais da área e do medo natural ( quem tem cu, tem-no, não é?...). Era a quase unanimidade sobre o que se devia fazer, com excepção dalguns que já viam a queda sócio-política que a pandemia traria. Depois desconfinou-se quando os números "maus" aplanaram, com inúmeras falhas, coisa bem feitas, confronto de opiniões sobre "quem fazia bem o quê" e com um esboço de aparecimento de "críticas": Agora estamos no momento em que, "adaptados" ao "novo mundo", aparecem com estrondo as críticas "à posteriori", de alguns que as fazem com lógica económica, político, social, muitas delas com pertinência  ( excepto no "à posteriori"...) e de outros somente por razões "filosóficas", estes as mais das vezes, por "iluminação" egotista (porque "o cu está menos apertadinho"). Estes últimos são os que mais "estendem o dedo indicador" e merecem muitos "likes" nas redes sociais. Vou de férias com máscara, alguns pares de luvas, mantendo a distância física aconselhada, com os meus quase 75 anos e a liberdade e autonomia de assim o ter escolhido, sem sentir qualquer espécie de "totalitarismo" político a tolher-me. E crente que, mesmo que aparecesse "algum", mais por inépcia.... lá estará o Tribunal Constitucional para corrigir, com tranquilidade, o assunto. Realmente sou um tipo institucional, mantendo a liberdade de pensamento para criticar, mas sempre pensando que devo guardar o dedo indicador para ( com luvas...) os toques rectais que mostrem, metaforicamente, os esfincteres que, ao alargar.se, apontam logo o referido dedo a alguém e vêem ditaduras em tudo o que mexe.... Tencionava levar comigo os quatro ensaios que tenho que ler ( mesmo que já tenha ouvido alguns dos seus autores....) sobre a pandemia, mas vou optar por ler Olga Tokaczuk e Amos Oz. Dos primeiros só levarei "O Futuro por Contar" de Ivan Krastev. A gente também não pode"meter a cabeça na areia", não é?...

Fernando Cardoso Rodrigues

4 comentários:

  1. Caro Fernando,
    Peço-lhe que releve a deselegância de me citar a mim próprio, num post aqui publicado em 6 de Março passado, intitulado “Na hora do disparate”. Ainda antes do “estado de emergência”, pareceu-me ver que o medo instalado (para não dizer estimulado) ia dar tremendas consequências. E não só económicas. Não obstante, nem no mesmo texto, nem em múltiplas posições posteriores, assumi alguma vez o negacionismo à la Trump ou Bolsonaro. Pelo contrário, sempre me pareceu sensato que o mundo em geral tomasse as devidas precauções para contrariar a progressão do vírus.
    Chocou-me, para não dizer que me aterrorizou, ver que, em meio da “unanimidade” (sempre alucinantemente perigosa) de que o Fernando fala, o mundo se resignou a fechar-se a si próprio. Era, sim senhor, a economia que estava em perigo, mas não só. Pressenti (e olhe que não me sinto um “iluminado” por qualquer tipo de luz mais ou menos divina) que a devastação causada pelas medidas anti-covid, até pelas mortes indirectas, seria mais desastrosa do que a que adviria directamente do vírus. Hoje, e até ao momento, estatisticamente, parece não haver dúvidas de que quem se obcecou no resgate imediato de vidas à covid não cuidou de outros tipos de mortes.
    O tempo passou, e estamos todos diferentes. Para já e para o futuro. Mas a mudança não chegou agora de supetão. A vida é dinâmica, não pára, e o homem evolui de forma contínua, não discreta. Na sua fase mais recente, beneficiando de um progresso tecnológico impensável há poucos anos, em movimento permanentemente acelerado, permitiu que se fosse instalando no subconsciente a ideia de que seria possível banir/adiar indefinidamente a morte e criar um mundo anti-séptico. Não é, e atrevo-me a afirmar que nunca o será.
    Daí que se tenham alimentado tantas aversões, hoje vulgares, a diversos riscos que muitos de nós, os mais velhos, não sentiam em criança. Não me lembro de medidas excepcionais e gerais tomadas aquando da gripe de Hong-Kong, que causou mais de um milhão de mortos numa população global de metade da actual. Não é garantia de nada, mas não esqueçamos que, no nosso habitat de 10 milhões, há ainda 9,95 milhões de pessoas que não foram infectadas. Viver implica riscos, é um risco.
    Registo - e saúdo -, caro Fernando, a sua inabalável confiança no Tribunal Constitucional, mas, parafraseando-o: quem tem cu, tem medo…
    Sabe que mais? Tenha umas óptimas “férias”, ou águas quentinhas, como quiser, com as precauções sanitárias que julgue mais adequadas. E, como dizia o Solnado, faça-me o favor de ser feliz.

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  2. Caro José,
    Citou-se a si próprio e muito bem. Onde eu discordo de si, como bem o sabe, é no confinamento, com o qual concordei. Porque se assim não fosse o número de mortos teria sido bem maior, como, aliás, bem se viu em vários sítios. Até me permito dizer que se, aquando do vírus Hog-Kong, se tivessem tomado medidas similares, provavelmente o José não estivesse agora a usá-lo com "bom" termo de comparação...
    Mas a minha preocupação, neste momento, será esta "fúria" acusatória que por aí grassa em que se quer criminalizar tudo e todos como se a covid não tivese existido e por cá não continuasse. Muitos dos que têm "o indicador estendido" parecem mais "inquisidores" que os próprios inquisidores por eles "inventados". Quanto ao Tribunal Constitucional e à minha confiança "inabalável" nele, sabe, é assim: sou europeu, herdeiro da democracia e liberdade gregas e da organização do Direito romano, caminhante na vida com tentativa de pensamento próprio e daí julgo saber que o mundo não é um lugar perfeito nem nunca o será, pelo que também julgo saber que as instituições, quando democráticas, são para nosso bem. Mas dizer-lhe isto a si é " ensinar o padre nosso ao vigário", não é? Permita-me só um "conselho": não seja tão céptico, como foi com a Europa e agora com o TC...

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