sexta-feira, 14 de maio de 2021

A PROBLEMÁTICA DO SOFRIMENTO HUMANO


PARA ILUSTRAR O TEXTO ESCOLHI A CAPA DO LIVRO (NÃO EXISTE AQUI NENHUM ACENO PUBLICITÁRIO) DO SAUDOSO PROFESSOR ROHDEN QUE TRATA DO ASSUNTO. ELE ESTEVE EM LISBOA, EM 1976, MINISTRANDO CONFERÊNCIAS SOBRE AUTO-REALIZAÇÃO.

Quem pisa no solo de um planeta de pequena e média evolução está sujeito ao sofrimento. Não há exceção para ninguém, seja espírito superior que tenha encarnado para cumprimento de nobre missão ou inferior que haja renascido para o doloroso resgate em expiações e provas.

No livro Renúncia, o espírito Emmanuel, através da psicografia de Francisco C. Xavier, relata o retorno de Alcione, que, ao deixar as maravilhas de um mundo superior, é alertada por algumas entidades sobre os perigos e sofrimentos que a esperariam no planeta das sombras (Terra).

Seis séculos antes da era cristã, um príncipe hindu, descendente de um poderoso marajá da região do Nepal, resolve renunciar a vida palaciana e, depois de longa peregrinação como mendigo, alcança a iluminação, quando passa a ser conhecido como Buda, aí então deixa transparecer, na conclusão de suas 4 verdades nobres, que a vida na Terra é palmilhada por sofrimentos inevitáveis, mas que o sofrer é tanto maior quanto maior for a ignorância do ser.

Segundo se depreende dos ensinamentos deste grande missionário, o homem sofre por causa de sua individualização humana, isto é, devido à necessidade, de reencarnar na Terra, onde se identifica com as ilusões da matéria, escravizando-se às cousas inferiores em detrimento da liberdade inata à sua natureza espiritual; mas aquele que descobre o seu Eu verdadeiro e, consequentemente, desperta em si a sua realidade espiritual, ele rompe os grilhões de sua personalidade exterior (sansara) e penetra no universo do seu mundo interior (nirvana), atingindo, assim, um estado de grande compreensão e de felicidade, onde o sofrimento perde a compulsoriedade, tornando-se apenas voluntário no cumprimento da missões sublimes.

A doutrina espírita admite essa grande libertação, quando o ser, após o ciclo das encarnações, encontra o verdadeiro habitat nas esferas superiores.

Acontece, todavia, que mesmo o espírito liberto, não mais sujeito à necessidade de reencarnar na Terra ou em outro planeta de igual nível, numa demonstração de absoluta liberdade, escraviza-se voluntariamente em prol das criaturas de mundos inferiores espiritualmente.

É o que ocorre com os chamados avatares, que descem às regiões inferiores, para, depois de luminosas epopeias, conquistarem glória maior na infinita escala evolutiva, tal qual se deu com o Cristo, segundo a feliz narração do apóstolo Paulo no 2º cap. da carta aos filipenses.

É óbvio que tais criaturas não sofrem como as demais, pois não fixam a mente nas suas dores e por isso quase nada reclamam e tudo aceitam com a máxima paciência.

Dominam a dor moral, porque estão preparadas a enfrentá-la, por força de poderes mentais e não isolam totalmente a dor física, para que seu sacrifício não seja mera simulação – um ato teatral de faquir.

No instante em que Jesus se prepara para o epílogo de sua missão no Getsêmani, e, sobretudo, quando se deixa prender, afirma categoricamente: - “Esta é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22.53).

Naquele momento seriam eclipsadas todas as luzes e o seu corpo fluídico, que pode materializar-se e desmaterializar-se a seu bel prazer, desceria ao mais baixo padrão vibratório, pois era chegada a hora de permitir que o seu imortal invólucro físico morresse temporariamente – “ninguém me tira a vida, eu a deponho quando quero e a retomo quando quero” (João, 10:17-18).

Nesses momentos, em que Jesus permitiria a morte passageira de seu corpo – “ a hora do poder das trevas” – não é de causar estranheza que ocorresse um ou outro fato denotadores de amargura e ansiedade na pessoa do Divino Mestre, pois Ele iria morrer como a mais humana, sincera e sensível criatura, e não como os homens grosseiros e atrasados, que fazem tudo para ocultar a sua covardia e medo perante os semelhantes, inclusive aparentam, às vezes, uma bravura heroica, fruto de um entorpecimento mental e emocional. Quantos guerreiros comuns ostentam, em virtude do orgulho e do entusiasmo provocado por marchas marciais, uma coragem fictícia, incompatível com a verdadeira sensibilidade da genuína natureza humana – que vem contrariar o luminoso exemplo contido no testemunho de nosso Mestre e Senhor...   

Seres humanos ou animais – todos sofrem, segundo o grande cientista, filósofo e pensador cristão Huberto Rohden, internacionalmente conhecido, de quem tive a honra de ser aluno, “o problema não é sofrer ou não sofrer, mas saber sofrer. O sofrimento não pode ser amável, mas pode ser tolerável” (Livro “Porque Sofremos”).

Para isso, é preciso muita compreensão. Não existe apenas um sofrimento débito por culpa pessoal ou coletiva, mas também um sofrimento crédito, até mesmo por solidariedade, que resulta na auto- realização da criatura humana em seu processo evolutivo, já que este não ocorre sem resistência, conforme proclamou sabiamente a notável assembleia dos cientistas norte-americanos acontecida na capital do Estado de New-Jersey, que resultou na edição do livro “A Gnose de Princeton”. 

Por enquanto temos que conviver com nossa situação de habitantes de mundo inferior, onde, infelizmente, predominam o baixo nível ético, o egoísmo gerador das grandes desigualdades sociais, as epidemias, a corrupção crônica e os maus governantes (cada povo tem o governo que merece).

Vivaldo Jorge de Araújo

Goiânia, Goiás, Brasil 

          14/05/2021

 

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