Em “O Conde d´Abranhos”, escrito noutros tempos, pode ler-se este pedaço interessante: “Vemos o eleitor que não quer votar com o Governo, junto da urna da Oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o Governo o empurram às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola, e aí temos a guerra civil. Para quê esta brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou à taberna, conforme estejamos no campo ou na cidade, paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelos pequerruchos, metam-lhe uma placa de cinco tostões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o Hino, até junto da urna do Governo. Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um país, com o aplauso do cidadão e em nome da liberdade”.
“Quantas vezes me disse o Conde ser este o segredo das Monarquias Constitucionais: “Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a Soberania ao povo, que é forte e simples. Mas, como a falta de educação o mantém na imbecilidade, e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito... E quanto ao seu proveito... adeus, ó compadre!”
Amândio G. Martins
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