Após o término de um retiro espiritual em Jundiaí -SP, sob a direção do internacionalmente conhecido pensador cristão, Huberto Rohden, na década de1970, num domingo de páscoa, fui para capital São Paulo na companhia do eminente Prof. Joaquim Gomes Filho, de saudosa memória, onde aguardaríamos o início da viagem noturna de ônibus para Goiânia, formosa capital do próspero Estado de Goiás, próxima de Brasília.
A linha pioneira norte-sul do metrô havia sido recentemente inaugurada. Aproveitamos, então, a oportunidade de conhecer este moderno meio de transporte que, para mim era uma novidade. Fomos da estação Luz até à final de Jabaquara. Na volta descemos na do Largo de São Bento, onde, nas tardes, se podia ouvir o coral dos monges cantando os maravilhosos cânticos gregorianos dentro da basílica do mosteiro.
O Prof. Gomes Filho de ascendência portuguesa, nascido na tradicional cidade de Pirenópolis, Estado de Goiás, preferida na época pela imigração lusitana, foi um excelente trocadilhista. Grande era sua habilidade de realizar seus trocadilhos improvisadamente ou, através de estórias, criando-os.
Certa feita, quando estava bebericando numa taverna popular, alguém lhe pediu para pagar uma cerveja. Ele então respondeu, arregaçando o bolso lateral da calça: “cê veja, dinheiro nem pinga (agua ardente brasileira) de meu bolso! ”.
Terminada uma missa de sétimo dia, com longa duração, na Igreja Ortodoxa de Goiânia, onde compareceu em cumprimento de dever como representante da repartição pública em que trabalhava, exclamou lá fora: “Missão cumprida! ...”.
Ele sempre falava que um homem chamado Penha entrou em luta corporal contra um rival por causa de uma meretriz e acabou rolando num despenhadeiro. Então alguém disse: “Eis um homem que se dizpenha (sic) por uma mulher que se dizputa (sic) ”.
Em determinada ocasião, quando comia um ovo, disse: "Nem me comovo quando como ovo, sempre às claras, e não me importo, que, às escondidas, alguém gema de fome".
Segundo notável folclorista e escritor regionalista brasileiro, Bariani Ortencio, Gomes Filho foi considerado o segundo maior trocadilhista do Brasil superado apenas pelo poeta Emílio de Menezes. Na atualidade, entre outros, cito o saudoso jornalista Raimundo Moreira do nascimento, que usava e abusava de cacófatos propositais.
Vivaldo Jorge de Araújo
Goiânia, Goiás, Brasil
13/05/2021
São trocadalhos do carilho...
ResponderEliminarNa tradição parlamentar portuguesa há registo de grandes artistas nessa "especialidade", ocorrendo-me um caso em que o deputado do partido do Governo respondia ao da Oposição desta forma: "Vocelência traz-nos aqui muitas ideias, interessantes e originais; pena que as interessantes não sejam originais, e as originais não sejam interessantes"...
ResponderEliminarMas um que me enchia as medidas, falecido há já algum tempo, era Nuno Brederode Santos, que durante muitos anos foi cronista do jornal "Expresso", e tinha como fonte inesgotável um tal Cavaco Silva, que "assombrou" a nossa vida por duas dezenas de anos, divididos na chefia do Governo e na presidência da República. Este fulano era natural de uma localidade algarvia chamada "Boliqueime", terra ao tempo pouco desenvolvida; então o cronista, cansado das alarvidades da dita figurinha, "ornamentou" uma das suas crónicas com o trocadilho que foi muito reproduzido por toda a Imprensa: "Foi fácil tirar o homem de Boliqueime, mas não conseguem tirar Boliqueime do homem"...