domingo, 31 de março de 2013

A força da fotografia







“A força de uma fotografia consiste em conservar disponíveis instantes que o fluxo normal do tempo imediatamente substitui. Este congelamento do tempo produziu cânones de beleza novos e mais abrangentes. Mas as verdades que podem ser reportadas a um momento isolado, por mais significativas ou decisivas têm uma relação muito limitada com as exigências da compreensão. Contrariamente ao que sugerem os argumentos humanistas a favor da fotografia, a capacidade da câmera para transformar a realidade em beleza deriva da sua relativa insuficiência como meio para veicular a verdade”.

Susan Sontag
“On Photography” 1973

sábado, 30 de março de 2013

Xeque Mate


Noutros tempos, nos passados de vivências ancestrais
A vida era tão simples que não podia isso ser mais
Que tudo decorria lentamente como a Natureza impunha
E o homem nos primórdios nada tinha nem dispunha

Aos poucos foi desvendando caminhos e veredas esqueceu
Aligeirando procedimentos e muitos obstáculos ultrapassou
E socialmente se juntou, e de uno com todos comungou
E aos poucos o individualismo provindo da gruta feneceu

E a casa-mãe que ao homem foi paradisiacamente emprestada
As mesmas parcelas para dividir ele as continua a ter
Apesar da Terra, sem parança, ter sido muito esventrada

Para que o inquilino se considerasse um supremo ser
Sem dar contas a quem o colocou livremente na estrada
Levando-o a pensar erradamente que ser é pior que ter

De embustes e narrativas
Num fartar de vilanagem
Com medidas restritivas
Portugal vai na voragem.

São muitos os saqueadores
Nos mais diversos poleiros
Na honra são muito amadores
Mas profissionais ladroeiros.

O Povo em estado de choque
Não sabe em quem acreditar
Só com um xeque mate
Os vendilhões irão ao ar!
 
José Amaral

Políticos-comentadores-políticos

Acabei de ler o excelente artigo da jornalista São José Almeida, publicado hoje no PÚBLICO. Faz notar o "fenómeno original" que só se verifica em Portugal que é o da existência dos chamados «políticos-comentadores-políticos»  no lugar dos jornalistas, o que, de facto, "é uma forma de promiscuidade " e um atentado à democracia.
O jornalismo parece reclamar o seu papel democrático, que está a ser usurpado por dezenas de políticos. A jornalista conta 30 políticos (Vasco Pulido Valente, no mesmo dia, na crónica «Vale tudo» enumera apenas 14).
O jornalismo profissional tem que ver reforçada a sua importância para bem da democracia e para bem de todos os cidadãos. Pela sua formação, são capazes de criticar e questionar o poder, pela "isenção" e "apreciação desinteressada e alheia ao mundo político".
Sublinho a última frase do artigo: "E esta inversão e usurpação do papel do jornalismo é uma forma de promiscuidade que envenena o exercício da democracia em Portugal".

De que ri Carlos Moedas?

De que ri Carlos Moedas? Já tenho ouvido, mais de uma vez, o Secretário de Estado Carlos Moedas, a dizer que o indicador do desemprego é de cerca de 16% e é o desemprego estrutural para Portugal, querendo com isto dizer que é o “desemprego normal a longo prazo”. Sabemos bem que isto não é verdade, o desemprego estrutural, ou seja, o desemprego que se verifica ao longo de várias décadas para Portugal é um desemprego de um dígito, ou seja, cerca de 7%. Só a partir desta última crise-de 2008-e em virtude das políticas macroeconómicas adotadas esse desemprego passou para dois dígitos, o desemprego de 7% foi subindo e começou a atingir valores de 16%, 17%,…ao contrário de Portugal a vizinha Espanha teve sempre um desemprego estrutural de dois dígitos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Interrogações legítimas

Caros amigos, companheiros de jornada, que gostam de ler o pouco do que pouco sei, prestem, por favor, atenção a mais algumas das interrogações postas no meu caminho, tal como a vós outras se vos deparam:
1 – que congregadoras políticas governativas são estas que, para se amparar a ‘paupérrima’ banca, se cortam em todos os ‘opulentos e despesistas’ serviços sociais prestados à comunidade, mormente às classes mais desfavorecidas?
2 – que ‘sensatas’ políticas são estas em se assacar ao TC a responsabilidade das asneiras cometidas pelo actual governo com infindáveis atropelos à lei fundamental do país, com a indisfarçável cumplicidade da mão amiga do senhor PR?
3 – que gente nossa é esta que toda se ‘derrete’ por visitar a ‘desalinhada’ Cuba ou a ela recorre na demanda de melhores cuidados de saúde, para depois denegrir o seu sistema político, ou queria que tal ilha continuasse um feudo e servil coutada norte-americana?
4 – que vínculos religiosos temos, ou não: católicos, cristãos, hereges, agnósticos e outros prognósticos, se só ‘nos’ sentimos bem com o mal alheio, quando devemos ao semelhante fazer aquilo que a nós gostamos que façam?
5 – que raciocínio sócio-cultural é o nosso, quando, ciclicamente empalados, só caminhamos à direita, tendo um caminho para desbravar à esquerda, ou ainda um outro que segue em frente, rumo a um providencial porvir, em que a razão central da nossa existência terrena seria sustentável e a todos contemplaria de igual modo, se o amor e a partilha imperassem em todos os corações?
Pensemos, nisso, e um dia seremos muito melhores e mais felizes.
José Amaral
 
 

Pensemos, nisso, e um dia seremos muito melhores e mais felizes.

"Prisioneiros de tantos maus chefes"

No discurso de ontem, o Papa incentivou os 1600 cardeais, padres e religiosos a levarem o Evangelho não só às periferias geográficas, mas também às periferias existenciais (económicas, sociais), ou seja, os locais onde há sofrimento, onde o sangue é derramado, onde há uma cegueira que deseja ver. Há prisioneiros de tantos maus chefes".
É assim que me sinto: prisioneira ou refém de tão maus políticos que temos tido.

E se falássemos de ideias?

Há uma frase de Eleanor Roosevelt que acho muito oportuna ser recordada em várias ocasiões, que é a seguinte: “Grandes mentes discutem ideias, mentes médias discutem acontecimentos, mentes pequenas discutem pessoas”. Eu acho que realmente é importante fazermos um esforço para vermos mais do que os simples factos e muito, mas mesmo muito, para lá do que um “tio” ou uma “tia” disse. 

Nestes tempos miseráveis, a vários níveis, em que vivemos, é desesperante ver como nos perdemos no comentário do que disse e não disse, realçou ou omitiu, como os largos rios de tinta (líquida e electrónica) que esta semana se gastaram após uma simples entrevista que não acrescenta(m)/constroem nada. 

 Haja visão, iniciativa e coragem para falar de ideias!

Sócrates


Tendo em conta que somos um povo avesso a ler e a pensar e, consequentemente, com um elevado grau de iliteracia (70% segundo números recentes), não me espanta rigorosamente nada haver um grande número de portugueses, com direito a voto, disposto a entregar todas as suas economias ao primeiro desconhecido que lá lhe apareça em casa intitulando-se funcionário da Segurança Social. Com efeito, a ignorância cultivada e a nossa inata ingenuidade levam-nos a cair facilmente no conto do vigário.

Agora o que já me espanta é haver um número muito significativo de portugueses que é capaz de voltar a cair na cantiga do bandido se o mesmo individuo lá for bater à sua porta com a mesma conversa. Neste caso, só mesmo a estupidez natural consegue explicar a reincidência. Mas, pelos vistos, ainda há muitos portugueses apostados em comprovar a tese de Einstein de que a estupidez humana é infinita.

Santana-Maia Leonardo
Jornal A Barca

quinta-feira, 28 de março de 2013

Socialismo: hasta siempre!



Em Portugal, temos sido governados, alternadamente, por dois tipos de socialistas: os socialistas de direito e os socialistas de facto. Os socialistas de direito são aqueles que se intitulam orgulhosamente socialistas e, quando estão no poder, resolvem o problema de excesso de despesa pública com o aumento da carga fiscal; os socialistas de facto são aqueles que se auto-proclamam liberais e que, quando estão no poder, resolvem o problema de excesso de despesa pública com o aumento da carga fiscal.
.
Nós estamos há dois anos a ser governados pelos socialistas de facto. Mas se ouvirmos o povo, nas suas manifestações de rua, nas conversas de café e nas sondagens, até parece que está a gostar, não só porque, como resulta das sondagens, continua a votar (quase) por unanimidade em partidos socialistas, sejam de direito (PS, PCP ou BE), sejam de facto (PSD e CDS), como ainda exige mais socialismo?!... E, em boa verdade, até se compreende. Porque, como diz o povo, "para pouca saúde, mais vale nenhuma". Hasta la muerte!

Santana-Maia Leonardo
Jornal Nova Aliança

O regresso


Muito se tem palrado e vai continuar a palrar a propósito do regresso de José Sócrates como comentador político na RTP1. Os que se sentem ofendidos batem no peito, rasgam as vestes e lembram o mal que ele fez ao país durante os seis longos anos em que foi 1º ministro. Há também quem defenda o direito à defesa do bom nome e à liberdade de expressão que assiste ao engenheiro. Somos um povo maravilhoso.

Ter Sócrates em antena é equivalente a uma Casa dos Segredos ou a um Big Brother. Será decerto um programa de grande audiência, a raiar o mau-gosto, com amantes e inimigos a babarem-se, uns de raiva outros de enlevo, defronte ao ecrã. Sócrates poderá ser um trunfo valioso na guerra das audiências.

O comentário político na televisão portuguesa é um feudo de representantes dos partidos designados como do Arco do Poder. Falam como se não fossem, também eles, responsáveis pelo estado caótico a que chegou a governação do nosso país. Esquecem-se das pequenas (mais facilmente se esquecem das grandes) traições que cometeram em nome dos seus interesses particulares e dos partidos que representam ou representaram.

Assim sendo não vejo qual o problema de ter Sócrates de regresso a ombrear com Marcelo, Marques Mendes e outros que tais. Será apenas mais um entre pares, outra virgem ofendida, um inocente incompreendido que poderá, finalmente, fazer soar a sua voz impoluta e repor a sua verdade. Sim, a sua verdade porque, a fazer fé em Herman José, a verdade é como as vaginas: cada um tem a sua.

Carta à Directora do Público publicada em 28 de Março de 2013 (versão integral)

quarta-feira, 27 de março de 2013

A Voz da Girafa: Leitores-escritores de cartas

A Voz da Girafa: Leitores-escritores de cartas: Em 2010, a investigadora Marisa Torres da Silva defendeu a sua tese de doutoramento intitulada As cartas dos leitores na imprensa portuguesa...

Quem acompanha a realidade da comunicação social, e conhece a quem a mesma pertence e quem define a sua orientação, não se pode admirar de nas cartas dos leitores serem aplicados os mesmos critérios jornalísticos, que pautam o seu dia a dia redactorial. Quantos jornalistas engolem em seco o seu rigor, pluralismo e opinião, porque no final do mês precisam de receber o salário.
Quantos às opiniões de leitores, os próprios jornais dizem que podem não publicar, podem cortar, e que de tal não darão qualquer explicação (o que até pode ser falta de educação!). Naturalmente que estamos a falar de escrita racional e civilizada, embora divergente, e não de situações anómalas, como as que por vezes ocorrem em foruns radiofónicos.
Esta é a realidade «democrática» que nos rodeia, mas que não deve condicionar a nossa opinião e a possibilidade da mesma ser diviguldada, até como contributo para uma sociedade que se habitue a pensar e a analisar tudo, e não só o que convém a poderes instalados, suas elites e comentadores.
Ernesto Silva

Comentários (para que vos quero)

 
A propósito do comentário de um leitor, venho colocar à discussão, pela primeira vez, este mesmo assunto: que comentários publicar?
Bem gostaríamos de publicar todos, mas há limites. A quase três meses de vida da «girafa», este problema ainda não se tinha colocado.
Este blogue quer ser lido e quer comentários dos leitores, seguramente. Mas os insultos como «gentinha acéfala» não são para aqui chamados.
Este blogue é feito de Gente Decente para Gente Decente. Gente, não «gentinha».
Por isso, se nem todos os comentários forem  publicados, aqui está a justificação. Não insultamos. Não queremos ser insultados.    
Este pretende ser um espaço de liberdade, mas esta não implica poder dizer-se tudo o que nos vem à cabeça. Afinal, não somos acéfalos.

A vida de sonho de poucos

A máquina sugadora do Estado não pára de nos surpreender, defendendo os ‘seus’ contra ventos e marés que ferozmente têm fustigado o povo na sua generalidade.
O pão-nosso de cada dia pode faltar na mesa da grande maioria dos concidadãos carente de tudo, mas para ‘eles’, com leis cada vez mais imorais, a manjedoura dourada do poder tem de estar sempre farta, a fim de saciar todos os parasitas da nação.
E, vai daí, a um conhecido super espião que deixou de o ser para se ‘baldar’ com todos os segredos para o sector privado, agora, foi-lhe outorgado/forjado um cargo de sonho na presidência do Conselho de Ministros, porque, ao fim de seis longuíssimos anos de serviço secreto público/estatal, o seu vínculo à Função Pública é sagrado.

José Amaral

Poesia da Páscoa para as crianças

O coelho da vizinhaAline Garroux

Um bicho tão fofinho,
É o coelho da vizinha,
Ele só tem um aninho,
E não anda, só engatinha...
Ele é engraçadinho,
Come e pula sem parar,
Tem um dente bem grandinho,
E o rabinho para o ar...
Tem os olhos bem vermelhos ,
E seu corpo é branquinho,
Nunca vi nenhum coelho,
Que seja mais engraçadinho...

Ovinhos de Páscoa
Lenise Resende

Amigo coelho, me diga:
- "Ovo de Páscoa,dá dor de barriga?"
A mamãe me diz que sim e sempre guarda os ovinhos pra que eu coma aos pouquinhos. Guardados na geladeira, eles somem como poeira.
A minha família inteira, parece formiga doceira.
Amigo coelho, lhe peço:
- "Faz um favor pra mim, esse ano, esconde os ovinhos num cantinho do jardim.
Prometo que serei bonzinho e vou comendo aos pouquinhos,assim minha mãe não briga e não tenho dor de barriga.

Salários baixos, recessão agravada

A taxa de desemprego não pára de atingir recordes, de cada vez que o Instituto Nacional de Estatística divulga novos dados sobre este flagelo maior. Atingiu 17,6% em Janeiro último e chegará aos 18,2% ainda no corrente ano, fixando-se nos 19% no início de 2014. Alguma imprensa escreve que o desemprego real possa já estar nos 24%! Com este vasto exército de desempregados, sobeja oferta de mão-de-obra para aceitar qualquer salário... Numa recente e elucidativa declaração Belmiro de Azevedo, um dos homens mais ricos do mundo, disse « Se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém»(!) É imoral defender salários ainda mais baixos. Compreende-se como conseguiu fortuna, à custa da mais-valia de mão-de-obra barata. “Esqueceu-se” que são os trabalhadores com ordenados baixos(íssimos), os que predominam no país e em grande parte contribuem para os lucros da sua cadeia de supermercados. 

terça-feira, 26 de março de 2013

Kertész




“A câmera é a minha ferramenta. Através dela encontro uma razão para tudo o que me rodeia”

André Kertész /fotógrafo
(1894-985)

A rua é das crianças

Foto: Philip J. Grifihts



A Rua é das crianças

Ninguém sabe andar na rua como as crianças. Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais. Sair à rua é para elas muito mais que sair à rua. Vão com o vento. Não vão a nenhum sítio determinado, não se defendem dos olhares das outras pessoas e nem sequer, em dias escuros a tempestade se reduz, como para gentes crescida, a um obstáculo que se opõe ao guarda-chuva. Abrem-se à aragem. Não projectam sobre as pedras, sobre as árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm. Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe. E nem sequer sabem que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.

Ruy Belo “Homem de Palavras” 1969

Leitores-escritores de cartas



Em 2010, a investigadora Marisa Torres da Silva defendeu a sua tese de doutoramento intitulada As cartas dos leitores na imprensa portuguesa: uma forma de comunicação e debate do público, na Universidade Nova de Lisboa.
Fui ler algumas passagens:
"As cartas dos leitores podem ser comummente descritas como um meio através do qual os leitores têm voz sobre os mais diversos temas, constituindo-se como um dos lugares do jornal onde o cidadão tem a oportunidade de se expressar. Para estudar a forma como a voz dos leitores é seleccionada e enquadrada na imprensa, centrámos a nossa análise no trabalho de edição das secções "Cartas ao Director" e "Tribuna Livre", respectivamente dos jornais Público e DN (...)".

segunda-feira, 25 de março de 2013

Missão

Comecei a caminhar neste mundo sem saber qual a missão.
Caminhei aos poucos e, lá muito longe, lembro-me de minha avó
Em esfumados e difusos tempos distantes em que me dava a mão
Pois as veredas e as encruzilhadas eram muitas para andar só.

Aos poucos, titubeando, fui ganhando raízes para sobreviver.
Fui isso, fui isto e sou aquilo que sou, com normas sempre legais;
No entanto, tive sobressaltos, interrogações e momentos cruciais
Para continuar a rota traçada qual bússola pudesse antever

A contínua procura desse iniciado terreno a calcorrear.
Assim, aqui vou continuar sem saber verdadeiramente
Qual o sentido destinado da aprazada missão incumbida.

Todavia, tudo tenho feito para não deliberadamente prejudicar
As caminhadas, nesta mesma jornada, de qualquer semelhante,
Que o destino lançou nesta mesma estrada, já muito percorrida.

José Amaral

«Coragem» vem de «coração»

foto de Max Rossi, Reuters
No rescaldo da leitura do PÚBLICO de domingo passado: Frei Bento Domingues  deixou esta pergunta pertinente: "Páscoa ou férias da Páscoa?" e afirmou que "Deus é absoluto, mas nenhuma religião pode pretender ser absoluta". Como que ouvindo estas palavras, o padre e poeta Tolentino de Mendonça, umas páginas antes, falava que o divino é uma cantata, não uma melodia e ainda duma Igreja que Francisco sonha e nos faz sonhar, essa dos pobres e para os pobres. A Igreja dos literalmente pobres, mas também a Igreja dos outros pobres: "Porque todos somos seres feridos, temos pobrezas, carências - a procura de Deus é também uma inquietação, uma fome, uma sede, a fome de sentido, de razões para viver. Tudo isso mostra a pobreza da condição humana com a qual a Igreja tem de dialogar".
A diretora do PÚBLICO, por seu turno, na revista, escreveu algo que eu não estava à espera, baseando-se na célebre foto de Max Rossi do close up dos sapatos velhos, pretos e cambados que "são um gesto político" mais que "quebrar a tradição".

Carentes




Esperamos que a Igreja que Francisco sonha e nos faz sonhar seja essa dos pobres e para os pobres. A Igreja dos literalmente pobres, mas também a Igreja dos outros pobres: "Porque todos somos seres feridos, temos pobrezas, carências - a procura de Deus é também uma inquietação, uma fome, uma sede, a fome de sentido, de razões para viver. Tudo isso mostra a pobreza da condição humana com a qual a Igreja tem de dialogar". (Tolentino de Mendonça em entrevista ao PÚBLICO, 24/3/2013).

Quem é Deus?

Às vezes é difícil «caçar» uma frase ou um texto de jeito no jornal...
Ontem consegui:
"Porque a diversidade dos caminhos é uma riqueza para dizer quem é Deus. O divino é uma cantata não é uma melodia." (Tolentino de Mendonça em entrevista ao PÚBLICO, 24/3/2013)

Livros






Ao ler a frase de Agostinho de Hipona “O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página” deixa-me perplexo e receoso. Quantas páginas desse livro terei eu lido? Eu tenho viajado pelos quatro cantos do mundo, sim. Desde pequeno. Mas temo que afinal só tenha, até agora, lido uma só página do Grande Livro da Vida. As minhas primeiras viagens, por ser menor de idade, tiveram de ter a autorização dos meus pais e assim comecei pela mão da minha mãe Alda (ou foi o meu irmão?), em terras brasileiras, com os meninos de rua em “Capitães da Areia”. E depois fui por aí fora. Andei por África com Ryszard Kapuscinski o Pedro Rosa Mendes e cheguei a cruzar-me com a Beatrix Heintze ou o Corto Maltese. Mais um livro mais uma viagem. Europa com Claude Magris, Ásia Central com Rene Grousset, América com Faulkner. Andei embarcadiço com o Joseph Conrad, em cima dos cavalos Mongóis com Genghis Khan, nas trincheiras na Primeira Grande Guerra e nas grandes batalhas da Segunda Grande Guerra. E aqui estou ileso. Nem sequer fui combater para as colónias, salvo pelos meus camaradas “capitães da Abril”. Fui depois com o Carlos Vale Ferraz e o Jorge Ribeiro. Lá encontrei-me com o Jorge de Melo. Ah, é verdade, e também com o Lobo Antunes. Estive uma temporada em Pitões das Júnias com o Abel Neves, no Papeete com Stevenson, em Veneza com Jan Morrris ou Istambul com Pamuk, no Cairo com Mahfouz, em Lisboa inúmeras vezes, só e acompanhado ora pelo Almada ora pelo Pessoa.

Paisagem







Paisagem

Passavam pelo ar aves repentinas
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento
Eram as mãos profundas do vento,
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva

Eram os pinheiros onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello B. Andresen

Grandeza do homem










Grandeza do homem

Somos a grande ilha do silêncio de deus
chovam as estações soprem os ventos
Jamais hão-de passar das margens
Caia mesmo uma bota cardada
no grande reduto de deus e não conseguirá
desvanecer a primitiva pegada
É esta a grande humildade a pequena
e pobre grandeza do homem

Ruy Belo

Amor é o amor









Amor é o amor

O amor é o amor – e depois?!
Vamos ficar os dois
A imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortado o mar, cortado o ar.
num leito
Há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
Sem destino, sem medo, sem pudor,
E trocamos – somos um ? somos dois? –
Espírito e calor!

O amor é o amor – e depois?!

Alexandre O’Neill

Os juros




Perderam-se os juros.

 
Aquele usuário andava muito infeliz. Ele, o senhor de mil cautelas com o dinheiro, tinha perdido um saco de prata. Pela primeira vez, pôs em causa toda a sua existência: considerava que a vida talvez já não valesse a pena ser vivida, depois de uma baixa tão pesada.
Qual não foi o seu espanto quando, passado um mês, um senhor muito educado e honesto lhe bateu à porta para lhe entregar o tal saco de prata. Porém, o ar de surpresa inicial varreu-se da cara do usuário, e nuvens sombrias carregavam-lhe agora o semblante, obrigando-o a franzir-se todo. Ao acabar de verificar a prata que tinha no saco, estava com um ar ainda mais transtornado. Assim, o amável senhor perguntou-lhe:
 - Então, falta alguma coisa?
 - Falta, sim – respondeu o usuário aborrecido – embora a prata esteja toda, perderam-se os juros!

In “Contos da Terra do Dragão – Contos tradicionais e populares da China”.
      Ed. Caminho 2000

domingo, 24 de março de 2013

Deixem-no ficar em Paris

Deixem-no ficar a estudar em Paris Tendo lido que o antigo primeiro-ministro, José Sócrates, que tem vivido estes últimos anos a estudar em Paris (desde que deixou o Governo) deverá regressar em Abril a Portugal para participar como comentador num programa da RTP em horário nobre, permite-me o seguinte comentário: uma pessoa que deixou o país na bancarrota (só havia dinheiro para o estado pagar aos credores durante dois meses), que precipitou a assinatura do “memorando da Troika” sem reflexão, com um passado académico duvidoso e em Universidade que já fechou, que introduziu a família e amigos em cargos públicos e em empresas que tinham contratos com o estado, que já tem o seu nome associado a uma multinacional de medicamentos Sul Americana com culpa formada em tribunal. Que mais-valia é que este senhor pode trazer como comentador há estação pública? À estação que é paga por todos nós! (JN 25/03/2013)

Imposto versus taxas

Impostos versus Taxas No programa da RTP- “Termómetro Político” a comentadora Graça Franco não conseguiu distinguir, perfeitamente, como se impunha a diferença entre taxas e impostos, lançando uma certa confusão. Um contribuinte paga uma taxa quando tem direito a determinado serviço do estado bem determinado, exemplo: pagar taxa moderadora para ir ao médico de família (serviço). Um contribuinte paga impostos para manter o estado a funcionar independentemente donde é aplicado o dinheiro, ele não sabe onde esse dinheiro é aplicado, pelo menos em Portugal, exemplo: IRS.

Exibição ofuscada da selecção de futebol

Depois de mais um vergonhoso desempenho com que a selecção nacional de futebol, presenteou, brindando os adeptos portugueses com mais uma paupérrima demonstração, de falta de humildade, falta de dedicação, sentido de responsabilidade, ausência e de respeito, misturada com muita falta de profissionalismo, dedicação, força de vontade, falta de objectivos, somente possível devido ao facto de ser “quiçá” compostas por jogadores que vivem sobejamente à sobra da fama (o que vem provar todos estes adjectivos, que apliquei) do dinheiro que auferem.
O jogo da passada sexta-feira dia 22, (foi de facto a prova da realidade atrás descrita), contra a sua congénere de Israel (o 5º. Jogo entre estas duas selecções), que terminou com um sofrível empate a 3 golos, em pleno estádio: Ramat Gam, em Telavive, a contar para a 5ª.jornada do grupo F, zona europeia de qualificação para o próximo campeonato do mundo de futebol a realizar em 2014 no outro lado do Atlântico, mais propriamente no Brasil. Vem assim comprometer, ainda mais o apuramento da equipa das quinas a estar presente nesse mundial, naquele país, de Vera Cruz, terra do samba, do calor, mulher bonita e do bom futebol, que lá se pratica.
Foi efectivamente uma exibição ofuscada, aquela que a selecção praticou em Telavive e que assim nos deixa assim mais longe daquele evento “futeboleiro”.  
Ficamos nestes apuramentos, quer para fases finais dos campeonatos da Europa quer do Mundo, sempre com a corda na garganta, e a sermos obrigados a andar com a máquina de calcular nas mãos e na esperança que aconteça um “milagre”.
No fundo uma nota final para a estrela da companhia, “o menino “milhões” CR7. Tinha por ventura ter necessidade, e não sabia previamente que ao ver cartão amarelo neste jogo, e por uma infantilidade cometida por parte daquela vedeta, ficaria assim privado de jogar a próxima jornada contra o Azerbaijão?.
Será que o Real Madrid, patrão (clube) que lhe paga os milhões, para ele, CR7, tem mais importância do que representar a camisolas das quinas?.
Mas no fundo será que esta “estrelinha” faz assim mesmo falta à equipa de “todos nós”?.   

 

                                                                                           Mário da Silva Jesus

sábado, 23 de março de 2013

Os alentejanos ao poder

Medina Carreira, ao contrário do que se julga, é um optimista porque acredita que, se importássemos a legislação de países com boas práticas e nossos concorrentes directos, Portugal conseguiria resolver muitos dos seus problemas. Infelizmente, nem os nossos políticos, nem os nossos comentadores, nem as nossas elites, conseguem perceber um coisa que é óbvia para qualquer alentejano: por mais que se legisle, os sobreiros não dão laranjas. Nós podemos melhorar a qualidade da lande e da cortiça, mas não conseguimos fazer, por melhor que seja a legislação, que um sobreiro dê laranjas. Ora, sem perceber isto, não vale a pena levar a cabo qualquer reforma estrutural. Um português não é, nem nunca será um alemão, um sueco ou um polaco.

Como seríamos um país diferente se, em vez de 180 deputados que querem, por força da lei, que os sobreiros dêem laranjas, tivéssemos a dormir a sesta, na Assembleia da República, 180 alentejanos. Imaginem o que seria ter 180 deputados que só se levantassem dos seus lugares por força de uma dor de barriga e que tivessem sempre o cuidado de se fazer acompanhar do respectivo diploma legislativo para limpar o traseiro..... Bastaria cada um dos 180 deputados ir uma vez por dia à casa de banho durante os quatro anos da legislatura, para que fosse levada a cabo a única, urgente e inadiável reforma estrutural de que o nosso país carece.
Santana-Maia Leonardo
Público, 30-3-2013

Como mudar? Como mudar?

Na mente e nas conversas dos portugueses, não abeirados no sistema de compadrio e nepotismo, independentes de amarras partidárias de interesses inconfessáveis, uma ideia mantém-se e aprofunda-se: - como mudar esta situação trágica e escabrosa que domina e destrói o país, e que os responsáveis, não compreendendo ou ignorando os seus fundamentos, são incapazes de remediar?
Nem mesmo recorrendo aos conhecimentos ancestrais que abriram caminho a novas situações, porque tudo é novo e nada se repete, como pôr em prática a locução latina mutatis mutandis (mudando o que deve ser mudado), se tudo está artilhado de forma engenhosa e que não há ainda especialistas para desarmar tantas e diferente arolas.
Se o cidadão comum se tornar insensível, é notório que não sente alegrias, mas de igual modo não sente sofrimento. Daí ser possível submetê-lo a situações humilhantes, que podem ser desvalorizadas através do relativismo tão em moda.
Os que governam, os que têm o poder económico e financeiro e seus lacaios, vivem num mundo distante da realidade em que se inserem as populações mais pobres, não se inteirando verdadeiramente dos problemas que as afectam. Muitos de nós, por omissão, também temos alguma nesga de responsabilidade nas injustiças sociais, mas também não é viável que cada um possa ou se queira transformar num Robin Hood.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Se eu fosse sondado

Os resultados das sondagens valem tanto como a palavra dos políticos, isto é, valem pouco! O pouco que valem merece-me um comentário baseados nas últimas, publicadas pela Antena 1, RTP, JN e DN em 15 de Março:
- Um povo que não sabe revoltar-se pacìficamente pelos votos, nem sabe escolher os seus representantes políticos, o que merece é que lhe façam o que lhe estão a fazer, isto é, torturá-lo!
- Então ainda não aprendemos que os dois partidos que há trinta e sete anos nos desgovernam são os dois responsáveis pelo caos social que vivemos hoje?
- E que, independentemente das caras novas que os partidos nos vão apresentando (algumas delas pessoas de bem, mas poucas), a escola é sempre a mesma?
- Que as moscas é que mudam mas a m... é sempre a mesma?
- Temos medo que o poder caia na rua? No 25 de Abril também caiu, ninguém se magoou e alguém foi lá buscá-lo!
Por mim, escolherei o voto em branco, mas esta é, apenas, uma de entre mais três opções interessantes e para todos os gostos: - abstenção, voto nulo, votar BE, votar PCP! Votar nos carrascos é que não! Seria isto que eu responderia se tivesse sido sondado!


 

Preferências


   Por vezes ouvimos pessoas a falar do seu livro ou disco ou filme preferidos. Hoje ouvi uma senhora declamar o seu verso preferido de Fernando Pessoa. Para mim seria impossível! Completamente! Como poderia eu escolher de entre as dezenas de versos do poeta que já li um que me fosse mais bonito?São tantos. Ou escolher de entre as dezenas de fotografias tiradas por mim uma preferida? Impossível!
Se me perguntassem:
 - Pedro, qual é o teu escritor preferido?
Fazia um ar pensativo e respondia:
 - O Faulkner, sem dúvida.
E antes que o meu interlocutor concluísse algo, acrescentava:
 - E o Dostoievski e a Lídia Jorge e o Lobo Antunes e o Saramago e o Brecht e o Ibsen e o Pascoaes, enfim são tantos os meus preferidos.
E seria um não mais acabar de nomear escritores e escritoras portugueses e estrangeiros. Sim, claro que tenho preferências ocasionais dependendo, julgo, do estado de espírito ou do ciclo de vida. Por exemplo, o último que li foi o "Sartorius" de William Faulkner. Belíssimo!
Mas não, não me peçam para nomear um livro, um disco, um verso ou uma fotografia preferidas que eu não consigo. Seria demasiado redundante reduzir o mundo a um só objecto.

Armário fechado à chave.


Armário fechado à chave

Havia um homem que tinha o costume de fechar bem à chave o armário em que guardava o dinheiro. Assim, quando saía, não precisava de se preocupar com os ladrões.
Um dia, estava a beber numa taberna quando um vizinho, nervoso, entrou de rompante, gritando:
  -Os ladrões foram a sua casa e roubaram-lhe o armário!
  -Não se preocupe! - volveu o homem, com um ar de quem dominava a situação.
  -Tenho a chave comigo!.

in "Contos da Terra do Dragão- Contos tradicionais e populares da China"
   Ed. Caminho 2000

A Lurdinhas da trança

Lurdes A. nasceu em 1938. Tem uns olhos lindos. Diz-se ser uma “sentimental e temperamental criatura de Deus que ama sem limitações”. Inibida, envergonhada, preferindo, de certos assuntos, manter-se afastada. Recolhimento, desprendimento, abstração, inquietude por tudo o que é injustiça, negligência, preguiça e vícios, caracterizam também a sua vida. Tem alguns amigos de verdade. É uma pessoa normal, diz, que já não tem sonhos nem ilusões. “O futuro ainda não chegou, não tenho que me preocupar. Tenho apenas o presente para amar.
Uma simples mortal que exprime sentimentos, escrevendo. Às vezes chora, sorrindo. Reza, também: «Meu Deus, o que seria de mim, sem o teu Amor?” Pede que Deus lhe aumente a sua sensibilidade. (Pois eu não sei como pode Lurdes ser mais sensível…).
Lê a Bíblia e outros livros religiosos. Reparo que tem toda a coleção dos livros do padre José Luís Martin Descalzo. Pego em Razões para Viver (1991).
Lurdes está todinha nos versos que me leu (quase todas as perguntas que lhe fiz foram respondidas através da leitura dos seus textos).
Nasceu na Palhaça, Oliveira do Bairro, onde estudou até ao 5º ano. Fez o seu curso na Escola do Magistério Primário em Coimbra durante dois anos.
Mostrou-me fotos da turma de 1979 e bilhetinhos como o de uma menina da 1ª classe que lhe escreveu “A professora é boa, bonita e ensina bem”…

Os portugueses não são mercadorias

Aos Portugueses estão a retirar tudo, até a mais ínfima possibilidade de contrariar o desabamento das suas próprias vidas. A sociedade está à beira dum ataque de nervos. Há quem fale já em “implosão social”. Os Portugueses estão manietados num colete de forças. Estamos condenados a pagar para a banca se salvar. A estratégia do empobrecimento geral é para continuar em nome da saúde do sistema financeiro. Os lucros dos bancos são inversamente proporcionais à miséria do povo, a quem se exige que tudo aguente e que tudo pague! Acenaram-nos com a Europa. Fizeram-nos sócios. Se é esta a Europa que nos prometeram, para que é que queremos a Europa? Da última aparição do ministro das Finanças, extrai-se: Isto está mal, mas ainda vai piorar. Vem aí mais austeridade e mais desemprego, porque «a culpa [agora] foi do programa da tróika», disse Gaspar... O poder repete até à exaustão a necessidade de «crescimento e emprego», mas não diz como se chega lá. Pior, não puxa pelo país, não estimula os Portugueses a melhorarem as suas condições de existência. A apologia à pobreza, ao sacrifício, à retração do consumo conduzem-nos a lado nenhum. Atravessamos um dos períodos mais dramáticos da nossa História e seria avisado que os responsáveis políticos deixassem sinais para que o nosso caminho não seja (só) insuportável.
Vítor Colaço Santos

Árvores que dão pássaros

 
Hoje, a caminho do trabalho, ouvi, na Antena 2, um poema fantástico de Ruy Belo, e pensei que é umas coisas mais belas que já ouvi. Partilho com os leitores:

Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem com a poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy Belo

Sócrates será comentador na RTP (?)

Apetece dizer «Mas o que é isto?»
Aonde chegámos?
Não podemos aceitar esta farsa. A procura de audiências não tem critérios de decência.
Vai ouvir Sócrates? Ou vai mudar de canal?
Vamos ver as audiências da RTP dispararem com o novo comentador.
Corre uma petição. Já assinaram mais de 95 mil contra Sócrates como comentador na RTP.
Este é o texto da petição:
 "Nós, cidadãos e contribuintes portugueses, declaramos por este meio que recusamos a presença do ex-primeiro-ministro José Sócrates em qualquer programa da RTP, televisão essa que é paga com dinheiros públicos dos contribuintes que sofrem do resultado da má gestão deste senhor. Recusamos liminarmente o branqueamento das acções deste senhor através da TV dos actos de despesismo e gestão danosa, que fez com este país andasse para trás, e não para a frente".
Assine!

P.S.- a ausência de foto é intencional, claro.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Agora somos o País dos indignados

Passámos a ser o país dos indignados. Em especial para todos aqueles
que vivem bem demais…anafados, sortudos, pançudos, com reformas
“gordas”, acumulação de reformas, outros com bons cargos públicos
pagos a peso de ouro…para alguns políticos bem estalados na sua "vidinha"
etc.etc.. perante a outra parte, também igualmente “indignados”, mas
numa outra situação mais grave e menos privilegiada, (que esses
senhores de falas mansas e de boas maneiras), que é a maioria dos
nossos concidadãos, que estão a não-viver. O desemprego nasce como
fossem cogumelos selvagens, a fome alastra por todo o país, a completa
desilusão está estampada nos rostos de cada um de nós, sem que alguém
de bom senso e responsável, ponha termo a este
país sem rumo certo, de desigualdades e sem que tenhamos esperanças de
ver qualquer “lamparina” ao fundo do túnel. Como cidadão não tenho
nada a ver, nem me mordo de inveja, que é coisa muito feia, com os
rendimentos anuais que o patrão Belmiro de Azevedo, acumula, com
vários “tachos” que conseguiu ao longo da sua vida de “trabalho?”.
Igualmente não invejo a sua reforma principesca, que recebe
mensalmente da Segurança Social, com certeza que “trabalhou?” o
suficiente para a “merecer”?. Ele cidadão Belmiro de Azevedo, que vive
num País maravilhoso, livre e democrático, neste rectângulo à
beira-mar  plantado, que é este nosso Portugal, fala de barriga cheia
e farta, que teve a ousadia de ter nascido com o dito para a lua. Não
lhe reconheço, pelo seu tom de afirmação ou dado qualquer prova de
humildade nas suas palavras, entoadas, com cheiro a senhor capitalista
e feudal, que somente deu provas de grande falta de respeito para
todos aqueles que trabalham. Ou pretende ele, que haja trabalho
precário para assim aumentar ainda mais a sua riqueza ?..
Mas na realidade há momentos na vida de um homem, que o melhor era
estar calado.


                                                Mário da Silva Jesus



"Fotografo para descobrir como é que uma coisa parece depois de ser fotografada"

Garry Winogrand

A primeira palavra


A primeira palavra

Acompanhando a recente curvatura da terra
o primeiro olhar descreveu a sua órbita
sobre as oliveiras. Só mais tarde
a pomba roubaria o ramo
e iria de árvore em árvore propagar a primavera
Foi então que os olhos se cruzaram
e estava feita a primeira palavra
à superfície do tempo.

  Ruy Belo 
     (1933-78)

Retrato do artista enquanto Jovem


 
 
 
 
 
 
 
 
Esqueçam os tópicos, as verdades absolutas, as metáforas rebuscadas. O homem que eu vi no Fantasporto 2013  beijar  a Teresinha do Aniki-Bóbó e a  receber  as flores e os aplausos do público, não tem idade. Têm Projectos em mente, ideias, têm filmes na cabeça que, a serem concretizados, se perpetuarão  pela Eternidade adentro, agora idade é que não tem. 
Este ano  o Fantasporto e a cidade do Porto, prestaram   a devida Homenagem ao seu artista mais jovem. Aquele que começou tudo – sem ele, o melhor da cinematografia portuguesa não existiria, sem ele o Fantástico também não.
Ou porventura Aniki-Bóbó não será, em si, uma Janela para o Universo da fantasia do ser humano, dos sonhos das crianças, dessa outra dimensão de todos nós, subjugada por essa Fera castradora e implacável chamada realidade ?
Seja na evocação da Ribeira do Porto, na materialização desse Douro que a grande Agustina Bessa-Luís descreveu com finíssimo talento, ou no confronto entre a Pátria portuguesa com a perda do Império, o mais novo Realizador do mundo sempre viveu e filmou no limiar do sonho e do onirismo.
Agora é que reconhecemos um legado construído em imagens, uma urbe de símbolos, alegorias, palavras, que sempre esteve ali, e sem o qual o Porto e Portugal não se podem olhar ao Espelho.
Por isso, olhemos com olhos de ver, como diz o Povo na sua sabedoria infinita, e observemos que, à imagem do artista Basil Hallward, que só quer captar a beleza do Mundo no rosto de Dorian Gray, ele apenas deseja continuar a mostrar-nos a ética do Belo e do Grandioso. E como nós precisámos de Beleza neste País e neste Mundo, como nós precisámos desse olhar terno e cheio de esperança de Manoel de Oliveira.
Dificilmente, no meio da penumbra que cobre o país, da esperança que é morta todos os dias, encontraremos uma luz tão brilhante como a deste notável jovem artista que já ultrapassou a centena. Aquele que já quer filmar um novo filme, que não se resigna à crise ou à morte, que mostra um Portugal que desafia os limites e vence os arautos da desgraça.
 
Rui Marques

Somos os melhores! E depois?

Como interpretar os nossos jornalistas e os fazedores de opinião? Dizem verdades, dizem conveniências, são irresponsáveis ou pouco reflectidos, querem adular o nosso ego de portugueses, querem fazer-nos tolos! Afinal o que pretendem com as suas intervenções públicas?
Todos sabemos a situação do nosso país e, infelizmente muitos sentem-na tão duramente, no seu dia-a-dia, tão difícil e escuro, que poderíamos referir como suportando uma noite-a-noite.
Retiramos títulos de um jornal de referência, publicado hoje em Lisboa; - “Criminosos de 60 países nos gangues que actuam em Portugal”. Com regularidade são dadas notícias encomiásticas sobre as acções das nossas polícias e, nalguns casos, se diz que a nossa polícia judiciária é uma das melhores do mundo. Sabendo isso, os criminosos não se incomodam, e actuam no território português, como se depreende pelas notícias contraditórias e factuais a que todos nós temos acesso. A actuação das polícias são marcas nos caminhos que conduzem à justiça, e esta, demorada em excesso quando há dinheiro e influências, também deixa muitos amargos de boca, a quem a ela recorre, e a quem se interessa pela boa ordem social.

Um grito da alma

O Grito (1893) de E. Munch
Podia escrever sobre flores e passarinhos
Sobre o sol e o luar
Sobre crianças loiras e lindas
E sobre velhinhos felizes e sorridentes
Podia...
Se não houvesse guerra
Ódios

Pobreza
Desencontros
Injustiças
Invejas
Tristeza e morte...

Agora escrevo sobre os teus olhos tristes
Sobre a tua alma sem esperança
Sobre os teus filhos sem futuro
Agora não canto
Grito
Não rio
Grito
Agora juro,
Apenas posso jurar,
Que todos os meus dias serão de luta
De alertas
De trabalho
Para que as crianças do mundo
Amanhã tenham versos de esperança. 



Maria Clotilde Moreira