Esqueçam os tópicos, as verdades absolutas, as metáforas rebuscadas. O homem
que eu vi no Fantasporto 2013 beijar a Teresinha do Aniki-Bóbó e a receber as flores e os aplausos do
público, não tem idade. Têm Projectos em mente, ideias, têm filmes na cabeça
que, a serem concretizados, se perpetuarão pela Eternidade adentro, agora idade é que não tem.
Este ano o
Fantasporto e a cidade do Porto, prestaram a devida Homenagem ao seu artista
mais jovem. Aquele que começou tudo – sem ele, o melhor da cinematografia
portuguesa não existiria, sem ele o Fantástico também não.
Ou porventura
Aniki-Bóbó não será, em si, uma Janela para o Universo da fantasia do ser
humano, dos sonhos das crianças, dessa outra dimensão de todos nós, subjugada
por essa Fera castradora e implacável chamada realidade ?
Seja na
evocação da Ribeira do Porto, na materialização desse Douro que a grande
Agustina Bessa-Luís descreveu com finíssimo talento, ou no confronto entre a
Pátria portuguesa com a perda do Império, o mais novo Realizador do mundo sempre
viveu e filmou no limiar do sonho e do onirismo.
Agora é que reconhecemos um
legado construído em imagens, uma urbe de símbolos, alegorias, palavras, que
sempre esteve ali, e sem o qual o Porto e Portugal não se podem olhar ao
Espelho.
Por isso, olhemos com olhos de ver, como diz o Povo na sua sabedoria
infinita, e observemos que, à imagem do artista Basil Hallward, que só quer
captar a beleza do Mundo no rosto de Dorian Gray, ele apenas deseja continuar a
mostrar-nos a ética do Belo e do Grandioso. E como nós precisámos de Beleza
neste País e neste Mundo, como nós precisámos desse olhar terno e cheio de
esperança de Manoel de Oliveira.
Dificilmente, no meio da penumbra que cobre o país, da esperança que é morta todos os dias, encontraremos uma luz tão brilhante como a deste notável jovem artista que já ultrapassou a centena. Aquele que já quer filmar um novo filme, que não se resigna à crise ou à morte, que mostra um Portugal que desafia os limites e vence os arautos da desgraça.
Rui Marques