Saúdo os promotores do Manifesto pela Democratização do Regime. E faço-o, porque entendo serem cidadãos de corpo inteiro, com problemas de consciência nem que seja por omissão, o que sucede com a maioria dos portugueses que pensam, e amam o seu país e a as suas gentes.
O grande problema nas relações sociais é que os que têm poder, e erram, dificilmente reconhecem os seus erros e, quando dão a mão à palmatória, o que raramente sucede, já não é em tempo útil para remediar os males causados. Falta-lhe a humildade do ser humano, porque se julgam perfeitos, muito acima do vulgo, por isso incompreendidos. Como nunca aprenderam latim, não sabem o que encerra a locução “errare humanum est”, que devia estar presente na condução das suas decisões, não como um caminho, antes como reflexão e precaução.
Eu percebo que o vício da política, vício, porque vivida em excesso e imoderação, é como o vício da alcoolemia, e tal como nesta muita gente perde a compostura. Na esteira dos princípios do documento agora tornado público, proponho que se forme uma associação de ex-políticos anónimos para a ajudar aqueles que não conseguem sair dos vícios da política, do nepotismo, amiguismo, arranjismo e outros nefastos ismos. Porque essas pessoas, se recuperadas, pela experiência que têm e pelo voluntarismo que lhes serviu de lastro, podem ser uns bons elementos para melhorar o estado da nação e não devem ser abandonadas à sua sorte. Mas é preciso que elas, honestamente, queiram ser apoiadas na sua decisão de melhorar o seu comportamento político e, como nos alcoólicos, viver um dia de cada vez, sem querer passar à frente de tudo e de todos, mesmo num caminho com novas regras.
Portugal não tem um sistema democrático que sirva os interesses do povo porque esse mesmo povo foi arredado de todas as decisões importantes. As cúpulas partidárias impõem-nos listas para deputados, que quase sempre não conhecem as regiões que representam, e não há forma de círculos uninominais. Para as autarquias o descaramento é total e inacreditável. Pessoas que não sentem nada pelas vilas ou cidades, são destinadas pelos partidos e vão presidir a vereações, como se Presidente de Câmara fosse profissão e não missão. A interpretação do “de” e do “da”, que vai ser decidida judicialmente, é uma vergonha que ultrapassa os limites do razoável. Para as Câmaras e juntas de Freguesia há um arremedo de representação popular fora dos partidos, em que são necessárias imensas certidões de eleitor, certificadas nas juntas de freguesia, e que na prática, normalmente, só funciona quando os elementos dessas listas já foram autarcas anteriormente em listas partidárias.
Os erros cometem-se e repetem-se consecutivamente porque, em Portugal, há um problema de falta de memória, repare-se que até na história da patriótica canção “Grândola vila morena”, até a azinheira também não sabia a idade.
Não vamos, contudo, perder a esperança, porque talvez novos políticos e os anónimos, na sua íntegra consciência, sem perda da memória, possam trazer o país ao caminho que necessita.
Joaquim Carreira Tapadinhas
Joaquim, acredito numa geração de novos políticos, não necessariamente políticos novos...Espero, de esperança como a sua, que os meus alunos sejam melhores do que eu.
ResponderEliminarA realização dos bons professores, e naturalmente bons cidadãos, constrói-se na certeza de que muitos, ou alguns, dos seus alunos venham a ter sucesso nas suas vidas e no sentimento que também muitos sejam mais capacitados que o mestre. É a regra natural das coisas, que está justificada pelo progresso da humanidade.
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