segunda-feira, 18 de março de 2013

A feira da ladra





De acordo com Susan Sontag, André Breton e outros surrealistas inventaram as lojas de artigos usados como templos do gosto vanguardista e fizeram das visitas às feiras da ladra uma forma de peregrinação estética. A perspicácia do trapeiro surrealista estava orientada para achar belo o que as outras pessoas achavam feio, sem interesse ou sem importância.
E assim numa feira da ladra em Ponte Lima, numa peregrinação descontraída a um domingo de manhã, encontramos um quadro que nos faz pensar. Curiosamente alguém ao passar associou o nome do ditador na fotografia a um outro estadista, tipo Saddam. É evidente que a iconografia de José Estaline (1879-1953) só será conhecida pelas pessoas afectas ao comunismo e mesmo assim nem todas estarão familiarizadas com o seu rosto e pelos que se interessam por história ou política. Personagem há muito desaparecida da propaganda revolucionária pós 25 de Abril, esta fotografia de um ditador sanguinário, responsável por milhares de mortes em nome de um ideal político, ainda parece ter um certo impacto exactamente pelo desajustamento do lugar onde é exibida. Num país fora da órbita do que foi a antiga URSS, no meio rural sempre mais conservador e numa época onde o comunismo pareçe estar já completamente moribundo. A quem poderá interessar esta fotografia? A um imigrante russo saudoso do tempo da antiga URSS? A algum lavrador “vermelho”? Não há dúvida e que aqui se prova que estas deambulações se podem tornar surrealistas.

2 comentários:

  1. A visita à Feira da Ladra tem uma atracção pelo passado, que, sem darmos por isso, está ou devia estar sempre presente. Para lá das interpretações filosóficas, tem algo que nos liga a raízes que permanentes que, por vezes, só damos por elas em situação. Quantas vezes um quadro, aparentemente já desvalorizado pelo tempo, nos recorda vivências nossas ou de outrem que havíamos perdido! É bom revisitar o passado, porque esse é real e nos ajuda a perceber o presente e projectar o futuro.

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