quinta-feira, 28 de março de 2013

O regresso


Muito se tem palrado e vai continuar a palrar a propósito do regresso de José Sócrates como comentador político na RTP1. Os que se sentem ofendidos batem no peito, rasgam as vestes e lembram o mal que ele fez ao país durante os seis longos anos em que foi 1º ministro. Há também quem defenda o direito à defesa do bom nome e à liberdade de expressão que assiste ao engenheiro. Somos um povo maravilhoso.

Ter Sócrates em antena é equivalente a uma Casa dos Segredos ou a um Big Brother. Será decerto um programa de grande audiência, a raiar o mau-gosto, com amantes e inimigos a babarem-se, uns de raiva outros de enlevo, defronte ao ecrã. Sócrates poderá ser um trunfo valioso na guerra das audiências.

O comentário político na televisão portuguesa é um feudo de representantes dos partidos designados como do Arco do Poder. Falam como se não fossem, também eles, responsáveis pelo estado caótico a que chegou a governação do nosso país. Esquecem-se das pequenas (mais facilmente se esquecem das grandes) traições que cometeram em nome dos seus interesses particulares e dos partidos que representam ou representaram.

Assim sendo não vejo qual o problema de ter Sócrates de regresso a ombrear com Marcelo, Marques Mendes e outros que tais. Será apenas mais um entre pares, outra virgem ofendida, um inocente incompreendido que poderá, finalmente, fazer soar a sua voz impoluta e repor a sua verdade. Sim, a sua verdade porque, a fazer fé em Herman José, a verdade é como as vaginas: cada um tem a sua.

Carta à Directora do Público publicada em 28 de Março de 2013 (versão integral)

5 comentários:

  1. Portugal atravessa um dos mais difíceis períodos da sua história. A fome e a miséria inundaram milhões de lares e a tragédia dos despedimentos e falências cada vez ocupa mais espaço. Precisamos de tomar medidas em conformidade com o estado da nação. Perdemos tempo a comentar e a ouvir personalidades que são responsáveis pela doença e não procuramos encontrar quem tenha um qualquer programa de cura.
    A passagem de Sócrates pela RTP só veio provar que quem dirige tal estação não tem a mínima noção de quem deve ser ouvido nesta trágica situação. Veio agravar tricas políticas, veio engrossar o caudal do "diz que disse" e de útil nada resulta. Enquanto não forem corridos de comentadores toda esta gente engajada não é possível aparecerem novos caminhos. Mas como corrê-los se eles devem os lugares aos que destruíram o país e querem retribuir-lhes os favores. Estamos num beco sem saída. De bom para o país esta entrevista nada teve, porque nem uma única novidade apresentou. Só rancores e desejos de desforra pessoal.

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    1. O problema é complexo uma vez que o REGIME está desenhado de modo a perpetuar-se. Quando votamos e olhamos para o boletim onde vamos riscar a cruzinha vemos apenas os símbolos do costume, Se votarmos em branco o nosso voto é contabilizado como se fosse nulo. Não temos o direito de discordar e não há modo de obrigar a classe política a alterar o processo de eleição dos legisladores. Esta democracia é uma caricatura, não funciona.

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  2. O. problema é que neste caso quem faz de vagina é o povo português. Como sempre.

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  3. É lamentável este tipo rasteiro de intervenção, sem nível e sem preocupação de discutir seja o que for. Pontapé para a frente e seja o que seja. Assim não vamos lá, como se vê pelo estado a que chegou o nosso país.

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