terça-feira, 5 de março de 2013

Os ratinhos da Índia


Uma política educativa assente em teorias pedagógicas mal testadas e decorrentes de uma crença totalmente infundada no mito do «bom selvagem» de Rousseau permitiu que a escola fosse tomada de assalto por bandos de rufias que, por ausência de autoridade, acabaram por tomar o poder de facto, na medida em que são os únicos que podem usar a força para impor a sua lei. 

Com efeito, só eles têm autoridade para bater, esmurrar, esfaquear ou pontapear quem quer que seja: professor, funcionário ou aluno. E se algum aluno, na sua ingenuidade, tentar encontrar protecção num professor ou num funcionário rapidamente aprende quão frágil e ilusório é o poder destes.

A maioria dos pais e dos professores hodiernos pertence a uma geração que idolatrava o aluno insolente, baldas e marginal e desprezava o aluno aplicado, trabalhador, cumpridor e educado. E esse fraquinho revolucionário e romântico pelo aluno rebelde contribuiu decisivamente não só para o decréscimo da qualidade do ensino como também para o aumento da indisciplina e da violência nas escolas.

Mas há uma coisa que as pessoas têm de perceber: a escola não pode ser nem uma casa de correcção, nem uma prisão. E para se pertencer à comunidade escolar (ou a qualquer outra), uma pessoa tem de aceitar e de se sujeitar às regras de funcionamento da própria comunidade, sob pena de esta se desmembrar. Os alunos que aceitam as regras intuitivas (digo intuitivas porque considero uma aberração intelectual, ética e moral os actuais compêndios chamados regulamentos internos) da disciplina escolar, onde se incluem, obviamente todos aqueles que têm comportamentos próprios da irreverência da idade, não podem ser vítimas, nem os ratinhos da Índia, de experiências pedagógicas de resultado duvidoso ou de programas de ressocialização de delinquentes. Acresce que é fundamental que a escola proteja os alunos que aceitam as regras da comunidade, porque, só assim, eles aprenderão a confiar nas instituições.

Quanto aos restantes, os pais que os aturem ou o Estado que arranje escolas especiais para os domar. A não ser que queiramos educar os nossos alunos para uma vida numa sociedade dominada e controlada por traficantes de droga, máfias e “gangs”. Se assim for, o modelo que, infelizmente, já está implantado em muitas das nossas escolas, é o ideal, na medida em que reproduz com fidelidade esse modelo de sociedade. Modelo de sociedade que, aliás, Abrantes conhece bem.
 
Santana-Maia Leonardo

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