Ao
longo de todos estes anos tenho visto as mais variadas árvores. Que digo eu?
Todas as árvores são diferentes. Altas ou baixas, gordas ou magras, perenes ou
caducas, com fruto ou flor, ricas ou pobres, cómicas ou sérias, elas são todas
diferentes e iguais. Árvores! Em Portugal não gostamos de árvores. Está mais do
que visto. Podas arbitrárias, incêndios assassinos e abates indiscriminados. Esse
ser incrivelmente belo, e fundamental para a nossa existência enquanto seres
humanos, não é acarinhado e cuidado como devia.
As
árvores sofrem. Sofrem por nós. No Inverno, com os ventos ciclónicos de certos
dias, elas são fustigadas impiedosamente e resistem, na sua maioria. Mas ficam
com mazelas. Algumas não resistem. E morrem. Outras ficam feridas com galhos
partidos. Nos jardins, a seguir ao temporal, vê-se espalhado pelo chão restos
de galhos partidos, sinais do sofrimento vivido na noite anterior. Gosto tanto que
por vezes me abeiro delas e as afago no sem tronco duríssimo. São seres
incríveis e majestosos. Por vezes imponentes, quando duram dezenas ou centenas
de anos. E dói vê-las serem abatidas. De repente, onde numa praça estavamos
habituados a ver uma árvore de muita idade, fica um vazio. O homem às vezes
abate-as sem justificação, outras porque estão doentes. E descobriu que nas
feias cidades que constrói elas dão um encanto especial. Na única bonita cidade
de Portugal poucas árvores se vêem porque não é preciso enfeitar o feio da
cidade com estes seres majestosos. São as diferentes e lindíssimas árvores que
encontramos que mais me seduz numa cidade.
Em
sua homenagem gostaria de deixar aqui um verso de António Ramos Rosa e uma
fotografia minha tirada na Ria da Aveiro que me faz lembrar Sancho Pança e Dom
Quixote.
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é tempo
mas a magia de um instante que começa sem
fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera
de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa
respiração
com a árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com
os deuses
António Ramos Rosa
Adorei.
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