Lurdes A. nasceu em
1938. Tem uns olhos lindos. Diz-se ser uma “sentimental e temperamental criatura de
Deus que ama sem limitações”. Inibida, envergonhada, preferindo, de certos
assuntos, manter-se afastada. Recolhimento, desprendimento, abstração,
inquietude por tudo o que é injustiça, negligência, preguiça e vícios, caracterizam também a sua vida. Tem
alguns amigos de verdade. É uma pessoa normal, diz, que já não tem sonhos nem ilusões.
“O futuro ainda não chegou, não tenho que me preocupar. Tenho apenas o presente
para amar.
Uma simples mortal que exprime sentimentos, escrevendo. Às vezes chora,
sorrindo. Reza, também: «Meu Deus, o que seria de mim, sem o teu Amor?” Pede
que Deus lhe aumente a sua sensibilidade. (Pois eu não sei como pode Lurdes ser
mais sensível…).
Lê a Bíblia e outros
livros religiosos. Reparo que tem toda a coleção dos livros do padre José Luís Martin Descalzo. Pego em Razões
para Viver (1991).
Lurdes está todinha nos versos que me leu (quase todas as perguntas que lhe fiz foram respondidas através da leitura dos seus textos).
Nasceu na Palhaça, Oliveira do Bairro, onde estudou até ao
5º ano. Fez o seu curso na Escola do Magistério Primário em Coimbra durante
dois anos.
Mostrou-me fotos da turma de 1979 e bilhetinhos como o de uma menina da 1ª classe que lhe escreveu “A professora é boa, bonita e ensina bem”…
Escreveu letras para os alunos cantarem. Aproveitava músicas que elas conheciam, como uma que pertencia ao Rancho Infantil Fidalguinhas do Souto ou a brasileira «Cachaça não é água não». Escreveu também o Hino da Escola de Badoucos, fundada em 1959. Quando acabou o Curso, a aldeia recebeu-a em festa - os pais ofereceram leitão a toda a gente. Lurdes escreveu um discurso para a ocasião (o texto na foto, redigido no dia 11 junho de 1960, em Coimbra).
No ano seguinte, começava a dar aulas em Castelo de Paiva e, em 1962, em Souto, onde viria a conhecer o marido. Em 1963, casou na Igreja da Palhaça: o primeiro casamento realizado nesta igreja.
Lurdes publicou o seu primeiro poema em 19 de Março de 2006, Dia do Pai. Só tem textos no Reviver, jornal do grupo de jovens «Os Samaritanos» do Souto. Dedica-se mais à escrita desde Dezembro de 2005, depois da morte de seu marido. Lurdes só publica naquele jornalinho mensal. Apesar dos temas se repetirem, os versos a rimar são sempre diferentes, sublinha.
Quando pediu a aposentação, aos 55 anos, com o tempo de serviço necessário, recebeu uma carta elogiosa do Ministério da Educação pelo excelente serviço prestado ao ensino (o Ministro da Educação era António Fernando Couto dos Santos, que assinou a carta em Setembro de 1992). Lurdes levava o carro cheio de meninos para a escola. Tem um ex-aluno que todos os anos lhe traz uma lembrança do seu aniversário…
Ainda é do tempo em que havia um muro a separar as meninas dos meninos. Depois do 25 de abril de 1974, deitaram-no abaixo e Lurdes começou então a dar aulas aos dois sexos (até aí leccionava apenas a meninos, que, comenta, a ajudavam a limpar a sala – não tinham funcionários para o fazer).
Em 2010, aceitou pela 1ª vez o convite para o almoço do seu Curso em Coimbra, ou seja, depois da morte do marido. Celebrava-se nesse ano as Bodas de Ouro e a missa foi celebrada pelo Bispo D. Eurico Nogueira, que havia sido o professor de Moral no Curso do Magistério Primário. Relembra esse encontro com as amigas como um feliz reencontro ao fim de tantos anos: “intensas sensações; belas recordações, rostos enrugados e cabelos brancos (…) batia forte o coração. Sentiu-se surpreendida e agradecida por tanta afabilidade. Reparou nos pormenores com que tudo foi pensado e preparado, cantaram-se fados… Lurdes abstraiu-se por breves instantes. Voltou ao tempo de estudante". Deixou cair uma lágrima...
Para Lurdes, a escrita - pensa durante a noite, quando lhe vem a inspiração - é a maneira que encontrou para se exprimir, para dizer o que não consegue falar. É-lhe bem mais fácil escrever. Desde nova sempre gostou de escrever versos...
Era a «Lurdinhas da Trança»… Um dia cansou-se dela… tinha 22 anos, talvez. Chegou a casa e a mãe, vendo-a sem a linda trança por que era conhecida, deu-lhe com a pá do forno.
Quem a vê ao domingo de manhã (uma vez por mês), caminhando devagar com passos bem medidos e cuidadosos pela travessa sem trânsito do Lugar, por entre figueiras, videiras e um espigueiro, não sabe que deixou um texto escrito à mão para os jovens o copiarem para o computador...
Muita gente não imagina que aquela «Lurdes» que assina textos sempre a rimar, é a professora primária de muitos adultos, pais de filhos!
Escreveu letras para os alunos cantarem. Aproveitava músicas que elas conheciam, como uma que pertencia ao Rancho Infantil Fidalguinhas do Souto ou a brasileira «Cachaça não é água não». Escreveu também o Hino da Escola de Badoucos, fundada em 1959. Quando acabou o Curso, a aldeia recebeu-a em festa - os pais ofereceram leitão a toda a gente. Lurdes escreveu um discurso para a ocasião (o texto na foto, redigido no dia 11 junho de 1960, em Coimbra).
No ano seguinte, começava a dar aulas em Castelo de Paiva e, em 1962, em Souto, onde viria a conhecer o marido. Em 1963, casou na Igreja da Palhaça: o primeiro casamento realizado nesta igreja.
Lurdes publicou o seu primeiro poema em 19 de Março de 2006, Dia do Pai. Só tem textos no Reviver, jornal do grupo de jovens «Os Samaritanos» do Souto. Dedica-se mais à escrita desde Dezembro de 2005, depois da morte de seu marido. Lurdes só publica naquele jornalinho mensal. Apesar dos temas se repetirem, os versos a rimar são sempre diferentes, sublinha.
Quando pediu a aposentação, aos 55 anos, com o tempo de serviço necessário, recebeu uma carta elogiosa do Ministério da Educação pelo excelente serviço prestado ao ensino (o Ministro da Educação era António Fernando Couto dos Santos, que assinou a carta em Setembro de 1992). Lurdes levava o carro cheio de meninos para a escola. Tem um ex-aluno que todos os anos lhe traz uma lembrança do seu aniversário…
Ainda é do tempo em que havia um muro a separar as meninas dos meninos. Depois do 25 de abril de 1974, deitaram-no abaixo e Lurdes começou então a dar aulas aos dois sexos (até aí leccionava apenas a meninos, que, comenta, a ajudavam a limpar a sala – não tinham funcionários para o fazer).
Em 2010, aceitou pela 1ª vez o convite para o almoço do seu Curso em Coimbra, ou seja, depois da morte do marido. Celebrava-se nesse ano as Bodas de Ouro e a missa foi celebrada pelo Bispo D. Eurico Nogueira, que havia sido o professor de Moral no Curso do Magistério Primário. Relembra esse encontro com as amigas como um feliz reencontro ao fim de tantos anos: “intensas sensações; belas recordações, rostos enrugados e cabelos brancos (…) batia forte o coração. Sentiu-se surpreendida e agradecida por tanta afabilidade. Reparou nos pormenores com que tudo foi pensado e preparado, cantaram-se fados… Lurdes abstraiu-se por breves instantes. Voltou ao tempo de estudante". Deixou cair uma lágrima...
Para Lurdes, a escrita - pensa durante a noite, quando lhe vem a inspiração - é a maneira que encontrou para se exprimir, para dizer o que não consegue falar. É-lhe bem mais fácil escrever. Desde nova sempre gostou de escrever versos...
Era a «Lurdinhas da Trança»… Um dia cansou-se dela… tinha 22 anos, talvez. Chegou a casa e a mãe, vendo-a sem a linda trança por que era conhecida, deu-lhe com a pá do forno.
Quem a vê ao domingo de manhã (uma vez por mês), caminhando devagar com passos bem medidos e cuidadosos pela travessa sem trânsito do Lugar, por entre figueiras, videiras e um espigueiro, não sabe que deixou um texto escrito à mão para os jovens o copiarem para o computador...
Muita gente não imagina que aquela «Lurdes» que assina textos sempre a rimar, é a professora primária de muitos adultos, pais de filhos!
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