segunda-feira, 25 de março de 2013

«Coragem» vem de «coração»

foto de Max Rossi, Reuters
No rescaldo da leitura do PÚBLICO de domingo passado: Frei Bento Domingues  deixou esta pergunta pertinente: "Páscoa ou férias da Páscoa?" e afirmou que "Deus é absoluto, mas nenhuma religião pode pretender ser absoluta". Como que ouvindo estas palavras, o padre e poeta Tolentino de Mendonça, umas páginas antes, falava que o divino é uma cantata, não uma melodia e ainda duma Igreja que Francisco sonha e nos faz sonhar, essa dos pobres e para os pobres. A Igreja dos literalmente pobres, mas também a Igreja dos outros pobres: "Porque todos somos seres feridos, temos pobrezas, carências - a procura de Deus é também uma inquietação, uma fome, uma sede, a fome de sentido, de razões para viver. Tudo isso mostra a pobreza da condição humana com a qual a Igreja tem de dialogar".
A diretora do PÚBLICO, por seu turno, na revista, escreveu algo que eu não estava à espera, baseando-se na célebre foto de Max Rossi do close up dos sapatos velhos, pretos e cambados que "são um gesto político" mais que "quebrar a tradição".
A jornalista e diretora deste jornal não disfarça e admite que o Papa "está a comover o mundo". Bárbara Reis escreveu bonito: "«coragem» vem de «coração»"- aprendeu ela há dias- "do tempo em que coração era visto como a sede da coragem, o lugar onde estava a «energia moral» que precisamos de ter perante o perigo (...)".
Papa Francisco, nós sabemos que é apenas um homem, mas não nos deixe ficar mal, não nos desiluda (já andamos muito com estes políticos que não consideram o poder como serviço): nem a nós fiéis, nem aos padres e religiosos em geral, nem mesmo aos jornalistas que não se deixam impressionar nem surpreender facilmente.
Estávamos à espera de alguém como Francisco que improvisa discursos, que quebra protocolos, que é simples, que se tem tornado uma dor de cabeça para a Segurança do Vaticano, que paga as suas contas como qualquer um de nós, que prescinde do ouro e do fausto, que nos quer agradar.
Força. Contamos consigo, mas sabemos que é humano...
 
(PÚBLICO, 26-3-2013)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.