terça-feira, 19 de março de 2013

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O meu primo Alberto.


Tenho um primo. Chama-se Alberto, “O Filósofo”. Bom moço mas aquela fraqueza com as mulheres dão cabo dele. Talvez por isso casou-se muito tarde. Aos 20 e tal anos. E a minha mãe acha que foi por estar farto de estar em casa dos pais. Sempre a ter que fechar a porta do quarto quando estava com a namorada. A mãe, muito liberal, aceitava e compreendia esta necessidade de privacidade do filho. Era uma senhora moderna. Mas o seu casamento durou pouco. Uns sete anos. Ela não lhe dava filhos e logo ele que sonhava ter um clube de futebol de catraios. Ser ele o presidente, o treinador, o director o motorista. Era um sonho quimérico, ele sabia, mas dizia-me, ó Pedro e não há famílias de 7, 8, 9, 10 irmãos? Então? Claro que a mãe teria de ser uma boa parideira. Um dia contaram-me a história de uma mãe que nem se apercebia de eles nascerem. Tipo tás a lavar a loiça e zás, sai-te o bebé, ali mesmo, na cozinha. Percebes Pedro? Não é impossível. E eu a dizer que sim, ok Alberto espero bem que realizes o teu sonho. Mas não. A Luísa não era boa parideira. Mas não foi por isso que se divorciaram. Para o meu primo Alberto ela era demasiado moderna para ele. Cheia de modernices que ele não via com bons olhos.

Um dia apanhou-a com um colega da Universidade, em plena tarde, quando devia estar agarrada aos livros estava agarrada a ele. O meu primo ficou de todas as cores, ali com a maçaneta da porta na mão a olhar para dentro do quarto sem saber o que dizer ou fazer. Apeteceu-lhe gritar, berrar, pontapear, esmurrar, insultar. Apeteceu-lhe não estar ali, mas sim numa esplanada a beber umas cervejas com os amigos. Mas estava. E a Luísa também. Mais um colega. Era gente a mais. Veio para a sala para ao pé das gatas. Até que saiu de casa. Quando voltou, esperava ele que o colega já tivesse saído. Ela estava em casa com cara de caso. Ele entrou mas não se sentou no sofá onde ela estava. Tinha nojo dela, naquele momento. Tu, traíres-me! Na nossa cama! Ela nem abria boca. Ele colocou-se de pé em frente dela, de olhar fixo com cara de poucos amigos, olhos semicerrados, sempre a olhar para ela, mas sem dizer nada. Até que lhe disse. Tu com as tuas modernices, Luísa, ainda vais fazer com que eu te apanhe um dia destes a fumar! Ouviste bem?! Ela levantou um olhar tímido para ele mas não dizia nada. E aí Luísa, podes ter a certeza que são elas. Não brinques mais comigo, ouviste? Ameaçava-a de dedo em riste. Mas ela não fez caso. E o coitado do meu primo Alberto apanhou-a a fumar. Não a fumar mesmo, mas descobriu cinza no parapeito da janela do quarto. Apanhei-te! Solução? Divórcio. Já! Nem mais um dia, fico nesta casa, vou levar o que está cá dentro e que me pertence e acabou-se! E juro-te que nunca mais me pões a vista em cima, e não te esqueças que metade da casa é minha. Começou logo a arrumar as coisas. Estava determinado. Ela foi para a faculdade, e quando chegou a casa nunca imaginou que ele levasse à letra a história de ficar com metade da casa, julgou que estava a referir-se ao valor patrimonial. Mas não, ele tinha mesmo levado metade da casa com ele! Como o meu primo Alberto não conheço mais ninguém. Bom moço, mas maluco como nunca vi…




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