Por: Silvino Figueiredo
A Liberdade não tem desvios!
A Liberdade, quando aprisionada torna-se em grande perigo
de explosão, que se deseja, como uma garrafa de champanhe, controlada, para que
não se derrame sem proveito.
Ora, o 25 de Abril foi champanhe da liberdade ao Povo
português oferecido por um grupo de oficiais, que perceberam as condições
favoráveis à mudança, embora cautelosa, perante milhões de braços querendo
levar à boca um pouco do champanhe da liberdade oferecida. Daí, digamos que as
taças tomaram o nome de partidos, que procuravam integrar anseios e ideais de
modelos de sociedade a seguir. Tudo era novo e nova vida se queria, inclusive a
de maior participação, de mais cidadania! Aos partidos seguiu o surgimento de
novos jornais, de âmbito local, regional ou semanal, semanais ou diários. A
estes, uma miríade de rádios locais permitia que em suas ondas cavalgassem
questões das comunidades locais, com a crescente participação dos cidadãos, que
também entravam pelas portas que a imprensa escrita lhes abria, em páginas sob
o nome de “Correio do Leitor”, “Cartas ao Diretor”, “Página do Leitor”, etc.
Nesta corrente de liberdade, milhares de cidadãos sentiram condições favoráveis
para a prática da liberdade, em todos os estilos, nas “piscinas” dos espaços
que lhes eram oferecidos.
Todavia, tudo o que tem princípio atinge seu apogeu e
queda! Assim, paulatinamente, no meu entendimento, embora sem qualquer rigor
científico, apenas tentando compreender a evolução da sociedade hodierna, nas
suas componentes sócio económicas culturais, quarenta anos após a Revolução do
25 de Abril, sinto, que estamos a regredir, se é que, alguma vez a preocupação
do Homem, com H grande, fosse mais centrada no Ser do que no Ter!
Atualmente, o que se nota é que, cada vez mais, as
questões económicas e as materiais, sobrepõem-se em qualquer análise sobre
aspetos do desenvolvimento humano!
O Homem tende a ser só um número; um robô, diferentes
expressões semânticas de antigas escravaturas, mediante a união cada vez mais
forte dos poderosos, que usam , até
consideram legítima, a palavra lobby,
que mais não é que um manual para a cartelização na condução da sociedade e dos
negócios mundiais através do domínio das alavancas financeiras, económicas e
suas alavancagens, que de mais valias sociais pouco têm, visto que, o que se
tem visto é o aumento do fosso entre ricos e pobres e uma incompetência duma visão
global para um bem estar médio da sociedade, em geral.
Falando de cartelização, e em Portugal, basta ver o que
se passa a nível dos mídia, que desde as românticas rádios e imprensa local e
regional foram sendo absorvidas por grandes grupos económicos e a eles
subordinados; ControlInveste, Impresa, entre outros.
Desculpem, mas não acredito em liberdade dos jornalistas,
transformados em meros funcionários dos títulos dos mídia, que embora
conservando nomes distintos, se formos a ver constatamos que o patrão é o
mesmo, como tal só lhes resta dizer ámen ao que ao grupo convém e não
contrariar o patrão! Será que alguém admite que na Bíblia haja lugar para
escrever contra Deus?
Com os meus 74 anos é altura de invocar a expressão: “sou
do tempo” em que o JN tinha duas páginas, ainda do antigo tamanho grande,
destinadas ao leitor, uma delas, ao sábado, era só para poesia, depois reduziu
o espaço, passou para uma só página e esta, atualmente, não é totalmente
ocupada com artigos dos leitores. Por exemplo, acho piada ao Público, sem que
queira interferir na sua gestão, à sua secção de “Cartas ao Diretor”, mas,
apenas com um ou dois pequenos artigos, publicados em cada edição, julga
cumprido a “nobreza” do ato de dar só aquele mísero espaço aos leitores que lhes
compram o jornal. Enfim, uns magnânimos!
Pragmaticamente, os leitores/escritores apenas são donos
das suas opiniões, mas não do espaço, onde gostariam de as ver publicadas. Os
leitores/escritores são apenas, quanto a mim, apenas artesão das letras, na indústria
da escrita; apenas elaboram uns pequenos textos, mas não fazem um jornal.
Compete aos donos dos jornais gerir o espaço e os
leitores não são obrigados a participar, embora oiçam, hipócritos apelos a uma maior participação nos atos
democráticos e no desenvolvimento de mais cidadania, porém, reconheço que os
estímulos são cada vez mais fracos!
Comparando com vinte anos atrás acho que estamos a recuar
a nível de participação na imprensa escrita. Todavia, é de realçar que com o
aparecimento da Internet surgiu a atomização das possibilidades
comunicacionais; de cada um de nós ver as suas opiniões chegarem longe, através
de blogue ou página própria ou mesmo participando nos jornais digitais on-line.
Os
leitores/escritores, qual fermento, devem estar sempre prontos a colaborar, por
iniciativa própria ou quando solicitados, a expor suas opiniões sobre várias
aspetos da organização da sociedade, com o desejável intuito de contribuírem
para uma sociedade mais justa, visando o alargamento do cada vez mais bem estar geral do que cada vez
menos!
Um coisa deve
ser sagrada; não vendermos a nossa liberdade. Sempre nossa, sem desvios.
……………………………xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx…………………..
Autor: Silvino
Taveira Machado Figueiredo (Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)
Gondomar
Nota: Após o encontro, tomei a liberdade de enviar, para conhecimento, cópia ao JN.
A liberdade não tem desvios e isso é inquestionável, mas tem margens, tal como os rios, e, por isso, nos momentos críticos, extravasa. Portugal vive um momento difícil e nós, os que ainda temos alguma voz para gritar, porque não ligam ao que dizemos, numa qualquer altura, sairemos das margens. Assim, como está, a corrente não pode manter-se.
ResponderEliminar