segunda-feira, 24 de março de 2014

A Liberdade não tem desvios!



Por: Silvino Figueiredo
A Liberdade não tem desvios!
A Liberdade, quando aprisionada torna-se em grande perigo de explosão, que se deseja, como uma garrafa de champanhe, controlada, para que não se derrame sem proveito.
Ora, o 25 de Abril foi champanhe da liberdade ao Povo português oferecido por um grupo de oficiais, que perceberam as condições favoráveis à mudança, embora cautelosa, perante milhões de braços querendo levar à boca um pouco do champanhe da liberdade oferecida. Daí, digamos que as taças tomaram o nome de partidos, que procuravam integrar anseios e ideais de modelos de sociedade a seguir. Tudo era novo e nova vida se queria, inclusive a de maior participação, de mais cidadania! Aos partidos seguiu o surgimento de novos jornais, de âmbito local, regional ou semanal, semanais ou diários. A estes, uma miríade de rádios locais permitia que em suas ondas cavalgassem questões das comunidades locais, com a crescente participação dos cidadãos, que também entravam pelas portas que a imprensa escrita lhes abria, em páginas sob o nome de “Correio do Leitor”, “Cartas ao Diretor”, “Página do Leitor”, etc. Nesta corrente de liberdade, milhares de cidadãos sentiram condições favoráveis para a prática da liberdade, em todos os estilos, nas “piscinas” dos espaços que lhes eram oferecidos.
Todavia, tudo o que tem princípio atinge seu apogeu e queda! Assim, paulatinamente, no meu entendimento, embora sem qualquer rigor científico, apenas tentando compreender a evolução da sociedade hodierna, nas suas componentes sócio económicas culturais, quarenta anos após a Revolução do 25 de Abril, sinto, que estamos a regredir, se é que, alguma vez a preocupação do Homem, com H grande, fosse mais centrada no Ser do que no Ter!
Atualmente, o que se nota é que, cada vez mais, as questões económicas e as materiais, sobrepõem-se em qualquer análise sobre aspetos do desenvolvimento humano!
O Homem tende a ser só um número; um robô, diferentes expressões semânticas de antigas escravaturas, mediante a união cada vez mais forte dos poderosos, que usam ,  até consideram legítima,  a palavra lobby, que mais não é que um manual para a cartelização na condução da sociedade e dos negócios mundiais através do domínio das alavancas financeiras, económicas e suas alavancagens, que de mais valias sociais pouco têm, visto que, o que se tem visto é o aumento do fosso entre ricos e pobres e uma incompetência duma visão global para um bem estar médio da sociedade, em geral.  
Falando de cartelização, e em Portugal, basta ver o que se passa a nível dos mídia, que desde as românticas rádios e imprensa local e regional foram sendo absorvidas por grandes grupos económicos e a eles subordinados; ControlInveste, Impresa, entre outros.
Desculpem, mas não acredito em liberdade dos jornalistas, transformados em meros funcionários dos títulos dos mídia, que embora conservando nomes distintos, se formos a ver constatamos que o patrão é o mesmo, como tal só lhes resta dizer ámen ao que ao grupo convém e não contrariar o patrão! Será que alguém admite que na Bíblia haja lugar para escrever contra Deus?  
Com os meus 74 anos é altura de invocar a expressão: “sou do tempo” em que o JN tinha duas páginas, ainda do antigo tamanho grande, destinadas ao leitor, uma delas, ao sábado, era só para poesia, depois reduziu o espaço, passou para uma só página e esta, atualmente, não é totalmente ocupada com artigos dos leitores. Por exemplo, acho piada ao Público, sem que queira interferir na sua gestão, à sua secção de “Cartas ao Diretor”, mas, apenas com um ou dois pequenos artigos, publicados em cada edição, julga cumprido a “nobreza” do ato de dar só aquele mísero espaço aos leitores que lhes compram o jornal. Enfim, uns magnânimos!
Pragmaticamente, os leitores/escritores apenas são donos das suas opiniões, mas não do espaço, onde gostariam de as ver publicadas. Os leitores/escritores são apenas, quanto a mim, apenas artesão das letras, na indústria da escrita; apenas elaboram uns pequenos textos, mas não fazem um jornal.
Compete aos donos dos jornais gerir o espaço e os leitores não são obrigados a participar, embora oiçam, hipócritos  apelos a uma maior participação nos atos democráticos e no desenvolvimento de mais cidadania, porém, reconheço que os estímulos são cada vez mais fracos!
Comparando com vinte anos atrás acho que estamos a recuar a nível de participação na imprensa escrita. Todavia, é de realçar que com o aparecimento da Internet surgiu a atomização das possibilidades comunicacionais; de cada um de nós ver as suas opiniões chegarem longe, através de blogue ou página própria ou mesmo participando nos jornais digitais on-line.
Os leitores/escritores, qual fermento, devem estar sempre prontos a colaborar, por iniciativa própria ou quando solicitados, a expor suas opiniões sobre várias aspetos da organização da sociedade, com o desejável intuito de contribuírem para uma sociedade mais justa, visando o alargamento do  cada vez mais bem estar geral do que cada vez menos!
Um coisa deve ser sagrada; não vendermos a nossa liberdade. Sempre nossa, sem desvios.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo (Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)
Gondomar

Nota: Após o encontro, tomei a liberdade de enviar, para conhecimento,  cópia ao  JN.

1 comentário:

  1. A liberdade não tem desvios e isso é inquestionável, mas tem margens, tal como os rios, e, por isso, nos momentos críticos, extravasa. Portugal vive um momento difícil e nós, os que ainda temos alguma voz para gritar, porque não ligam ao que dizemos, numa qualquer altura, sairemos das margens. Assim, como está, a corrente não pode manter-se.

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