domingo, 23 de março de 2014

As pontes de Lisboa   
Lisboa liga com a margem Sul por duas pontes datadas: a primeira de 1966 e a outra de 1998. Para além da sua utilidade prática, têm historial muito diferenciado e génese completamente distinta. A primeira, baptizada como Ponte Salazar, depois crismada 25 de Abril, foi “orgulhosamente” edificada pelo Estado Novo. A segunda, nomeada de Vasco da Gama, o homem que encontrou o caminho marítimo para enriquecer o país através do negócio das especiarias da Índia, foi construída numa PPP, o primeiro passo para uma série de negócios que têm desfalcado o erário público, e, por conseguinte, os portugueses.
A ponte Vasco da Gama que serve mais directamente o Sul, ligando Lisboa a uma região onde os principais centros urbanos são Montijo, Alcochete, Moita e Pinhal Novo, tem, desde o início da sua construção, obtido uma má aceitação por alguns sectores da vida portuguesa, tendo até o Dr. Mário Soares, quando esta estava a meio, declarado que a decisão de indemnizar a concessionária e parar a obra, seria mais útil ao país do que concluí-la.
Como é do clausulado da PPP, negociada entre a Lusoponte e o Estado Português, a concessionária tem garantido o rendimento do seu investimento, através duma previsão de trânsito rodoviário. Logo estando o rendimento da Ponte Vasco da Gama assegurado, seja qual for o movimento das portagens, e como esta concessionária explora também a ponte 25 de Abril, sem garantia de utentes, desviar o movimento para esta, reduz o rendimento da outra e prejudica indirectamente os contribuintes, através do orçamento do Estado.
Por outro lado, também a região atrás mencionada vai sendo paulatinamente esquecida, porque nas informações de trânsito para as entradas e saídas de Lisboa, a televisão refere normalmente a ligação com Almada, e só quando há acidentes na Ponte Vasco da Gama esta é mencionada. Da omissão de informação sobre o movimento desta, resulta um benefício para a região directamente concorrente (Almada, Barreiro e Seixal), pois, como reflexo condicionado, os automobilistas procuram, naturalmente, o caminho que lhe é proposto quase em permanência. Consequentemente, porque só se ama o que se conhece, se os automobilistas não passam nos lugares, dificilmente se interessarão em conhecê-los ou neles adquirir ou alugar casas. Disto resulta, ainda mais, a difícil recuperação local da construção civil. Da mesma forma se processa o desinteresse em estabelecer empresas em regiões que não se conhece. O trânsito funciona como um rio que enriquece os terrenos marginais.
Sem querer ter em menos consideração os representantes da região servida pela Ponte 25 de Abril, chamo a atenção dos políticos e forças vivas dos concelhos de Montijo, Alcochete e Moita, para que estejam mais atentos ao esquecimento da Ponte Vasco da Gama nas referências ao trânsito na capital, e ao desenvolvimento dos projectos que estão a ser geridos pelo Arco Ribeirinho Sul, para a reconversão das antigas áreas industriais da Quimiparque, Margueira e Siderurgia, sem que pareça estar em curso qualquer outra reconversão ou implantação industrial na sua área, porque, como dizia o poeta, isto anda tudo ligado.  

Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo – B.I. 9613, TM 962354823 – jcatapadinhasgmail.com

1 comentário:

  1. Hoje, dia 29 de Março, o semanário Expresso publicou esta carta, como de costume, com os estimáveis cortes. Desta vez, até o nome levou com a tesoura, ficando apenas Joaquim Carreira. É o destino.

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