As pontes de Lisboa
Lisboa liga com a margem Sul por
duas pontes datadas: a primeira de 1966 e a outra de 1998. Para além da sua
utilidade prática, têm historial muito diferenciado e génese completamente
distinta. A primeira, baptizada como Ponte Salazar, depois crismada 25 de
Abril, foi “orgulhosamente” edificada pelo Estado Novo. A segunda, nomeada de
Vasco da Gama, o homem que encontrou o caminho marítimo para enriquecer o país
através do negócio das especiarias da Índia, foi construída numa PPP, o
primeiro passo para uma série de negócios que têm desfalcado o erário público,
e, por conseguinte, os portugueses.
A ponte Vasco da Gama que serve
mais directamente o Sul, ligando Lisboa a uma região onde os principais centros
urbanos são Montijo, Alcochete, Moita e Pinhal Novo, tem, desde o início da sua
construção, obtido uma má aceitação por alguns sectores da vida portuguesa,
tendo até o Dr. Mário Soares, quando esta estava a meio, declarado que a
decisão de indemnizar a concessionária e parar a obra, seria mais útil ao país
do que concluí-la.
Como é do clausulado da PPP,
negociada entre a Lusoponte e o Estado Português, a concessionária tem
garantido o rendimento do seu investimento, através duma previsão de trânsito
rodoviário. Logo estando o rendimento da Ponte Vasco da Gama assegurado, seja
qual for o movimento das portagens, e como esta concessionária explora também a
ponte 25 de Abril, sem garantia de utentes, desviar o movimento para esta,
reduz o rendimento da outra e prejudica indirectamente os contribuintes,
através do orçamento do Estado.
Por outro lado, também a região
atrás mencionada vai sendo paulatinamente esquecida, porque nas informações de
trânsito para as entradas e saídas de Lisboa, a televisão refere normalmente a
ligação com Almada, e só quando há acidentes na Ponte Vasco da Gama esta é
mencionada. Da omissão de informação sobre o movimento desta, resulta um
benefício para a região directamente concorrente (Almada, Barreiro e Seixal),
pois, como reflexo condicionado, os automobilistas procuram, naturalmente, o
caminho que lhe é proposto quase em permanência. Consequentemente, porque só se
ama o que se conhece, se os automobilistas não passam nos lugares, dificilmente
se interessarão em conhecê-los ou neles adquirir ou alugar casas. Disto resulta,
ainda mais, a difícil recuperação local da construção civil. Da mesma forma se
processa o desinteresse em estabelecer empresas em regiões que não se conhece.
O trânsito funciona como um rio que enriquece os terrenos marginais.
Sem querer ter em menos
consideração os representantes da região servida pela Ponte 25 de Abril, chamo
a atenção dos políticos e forças vivas dos concelhos de Montijo, Alcochete e
Moita, para que estejam mais atentos ao esquecimento da Ponte Vasco da Gama nas
referências ao trânsito na capital, e ao desenvolvimento dos projectos que
estão a ser geridos pelo Arco Ribeirinho Sul, para a reconversão das antigas
áreas industriais da Quimiparque, Margueira e Siderurgia, sem que pareça estar
em curso qualquer outra reconversão ou implantação industrial na sua área,
porque, como dizia o poeta, isto anda tudo ligado.
Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo – B.I. 9613, TM 962354823 –
jcatapadinhasgmail.com
Hoje, dia 29 de Março, o semanário Expresso publicou esta carta, como de costume, com os estimáveis cortes. Desta vez, até o nome levou com a tesoura, ficando apenas Joaquim Carreira. É o destino.
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