As relações humanas, as relações das sociedades, estão
cheias de nebulosas. É muito díficil chegar a um conhecimento profundo do que
se passa à nossa volta. No entanto é obrigatório fazermos todos os dias esse
exercício - descortinar no que apanhamos aqui e ali e vamos juntando como
peças de um puzlle, - e termos uma imagem que seja coerente, que nos diga algo.
Todas as opiniões são úteis e os ângulos, por vezes
diferentes como os outros veem o mundo, são-nos proveitosos para consolidarmos
opinião.
Estou confundido com o que está a acontecer a este projecto
de Europa e não distingo as boas das más razões.
Sei muito pouco, mas sei que os juros altíssimos dos
empréstimos aumentam a voracidade de quem sabe que o necessitado não tem outra
inevitabilidade senão estender a mão e aceitar. O voraz vive disso, da fraqueza
dos outros.
Sei também que não se pode exigir mais esforço a uma gente
que já deu o que podia e foi obrigada a dar. Insistir, já não é exigência, é extorsão.
Sei ainda que não é bom para ninguém perder um companheiro.
É menos um , mas menos um faz muita falta, num projecto que só se completa e pode diferenciar precisamente pela
diversidade das culturas que o integram, das gentes que sendo diferentes, são
europeus.
Sei que parece romântico mas quem agora tenta governar esse
país (com a legitimidade que a democracia lhe deu) tem pelo menos – ou acima de
tudo – a enorme coragem de mandar à fava
os amigos, que afinal são falsos. Pode valer pouco ou nada, pode ser um acto
suicida e irresponsável, mas é um acto de dignidade, um dos bens mais em falta
nos dias de hoje.
Sei e preocupa-me muito, que eventualmente a solução para os
mandar à fava, é juntar-se a novos amigos duvidosos , numa mesa dirigida por um
homem louco que tem o sonho de ser um czar plebeu.
De repente, e de um dia para o outro, podemos despertar no
meio de um novo pesadelo e de uma escuridão muito escura.
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