quinta-feira, 18 de junho de 2015

AMANHÃ




As relações humanas, as relações das sociedades, estão cheias de nebulosas. É muito díficil chegar a um conhecimento profundo do que se passa à nossa volta. No entanto é obrigatório fazermos todos os dias esse exercício - descortinar no que apanhamos aqui e ali e vamos juntando como peças de um puzlle, - e termos uma imagem que seja coerente, que nos diga algo.

Todas as opiniões são úteis e os ângulos, por vezes diferentes como os outros veem o mundo, são-nos proveitosos para consolidarmos opinião.

Estou confundido com o que está a acontecer a este projecto de Europa e não distingo as boas das más razões.

Sei muito pouco, mas sei que os juros altíssimos dos empréstimos aumentam a voracidade de quem sabe que o necessitado não tem outra inevitabilidade senão estender a mão e aceitar. O voraz vive disso, da fraqueza dos outros.

Sei também que não se pode exigir mais esforço a uma gente que já deu o que podia e foi obrigada a dar.  Insistir, já não é exigência, é extorsão.

Sei ainda que não é bom para ninguém perder um companheiro. É menos um , mas menos um faz muita falta, num projecto que só se completa  e pode diferenciar precisamente pela diversidade das culturas que o integram, das gentes que sendo diferentes, são europeus.

Sei que parece romântico mas quem agora tenta governar esse país (com a legitimidade que a democracia lhe deu) tem pelo menos – ou acima de tudo – a enorme coragem  de mandar à fava os amigos, que afinal são falsos. Pode valer pouco ou nada, pode ser um acto suicida e irresponsável, mas é um acto de dignidade, um dos bens mais em falta nos dias de hoje.

Sei e preocupa-me muito, que eventualmente a solução para os mandar à fava, é juntar-se a novos amigos duvidosos , numa mesa dirigida por um homem louco que tem o sonho de ser um czar plebeu.

De repente, e de um dia para o outro, podemos despertar no meio de um novo pesadelo e de uma escuridão muito escura.

Culpados somos todos nós, pelo egoísmo, pela avareza, pela lassidão. Parece mesmo que adóptamos uma nova cartilha ética, carregada de imperativos morais de energia negativa, o que também não deixa de ser muito estranho: condenados que estamos a ser aprisionados pela História, em ciclos de luz e trevas, evolução e involução, ordem e caos.

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