quinta-feira, 4 de junho de 2015

Uma República Monárquica

Duas notícias surgiram ontem na comunicação social, cada uma com importância suficiente para interessar todo o país: as linhas programáticas da coligação governamental para o país no próximo quadriénio, e a saída do treinador Jorge de Jesus do Benfica rumo ao Sporting. Esta última arrumou todo o sentido da outra. Todos os comentadores e profissionais da informação, preenchem o espaço possível e imaginário nos órgãos informativos, com tudo o que se refere ao rei futebol, esquecendo os reais problemas nacionais.
O que interessa ao povo (des) governado por estes políticos contentinhos, não são as ditas vitórias apregoadas pelos próprios conseguidas no período troikista, e que se ufanam de estarmos agora no paraíso construído neste espaço à beira-mar plantado, mas quem irá orientar as equipas do Benfica e do Sporting, que agregando multidões de adeptos funcionam quase como religiões. É costume chamar de catedral ao estádio do Benfica e, nessa linha Jesus ficava bem nesse clube. Agora no Sporting, com a entrada de Jesus, talvez o estádio de Alvalade possa ser crismado de basílica.
Quanto ao programa de governo da República, passa para segundo plano na apreciação dos portugueses, porque o rei futebol é que domina o pensamento da maioria deste povo. A coligação PPD-PSD/ CDS-PP foi ofuscada pela rivalidade Benfica/Sporting.
Nem mesmo toda a corrupção, que domina o futebol a nível mundial, arrefece o interesse e a paixão que está interiorizada nas pessoas, por este desporto. Talvez porque a política se envolve no mesmo mar encapelado, e as pessoas comecem a achar normal a anormalidade.
Assim, o rei futebol, com o seu séquito de seguidores, que nalguns casos atinge o fanatismo, derrota a república laica e instala-se no seu espaço, e passa para trás todos os problemas que deviam estar em primeiro plano, pois, como verificamos, o desemprego, a monstruosa dívida pública, a miséria de um terço da população e tudo o mais, foram congelados e deixaram de interessar por estes dias. Nesta confusão de situações, podemos caldear todos estes condimentos, e concluir que estamos a viver numa república monárquica, em que o rei é o futebol, representado por milhões de servidores.
4.06.2015

Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo 

1 comentário:

  1. Publicado, hoje, dia 6.06.2015, no jornal "Público, na secção Cartas à Directora.

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