Duas notícias surgiram ontem na
comunicação social, cada uma com importância suficiente para interessar todo o
país: as linhas programáticas da coligação governamental para o país no próximo
quadriénio, e a saída do treinador Jorge de Jesus do Benfica rumo ao Sporting.
Esta última arrumou todo o sentido da outra. Todos os comentadores e
profissionais da informação, preenchem o espaço possível e imaginário nos
órgãos informativos, com tudo o que se refere ao rei futebol, esquecendo os
reais problemas nacionais.
O que interessa ao povo (des)
governado por estes políticos contentinhos, não são as ditas vitórias apregoadas
pelos próprios conseguidas no período troikista, e que se ufanam de estarmos
agora no paraíso construído neste espaço à beira-mar plantado, mas quem irá orientar
as equipas do Benfica e do Sporting, que agregando multidões de adeptos funcionam
quase como religiões. É costume chamar de catedral ao estádio do Benfica e,
nessa linha Jesus ficava bem nesse clube. Agora no Sporting, com a entrada de
Jesus, talvez o estádio de Alvalade possa ser crismado de basílica.
Quanto ao programa de governo da
República, passa para segundo plano na apreciação dos portugueses, porque o rei
futebol é que domina o pensamento da maioria deste povo. A coligação PPD-PSD/
CDS-PP foi ofuscada pela rivalidade Benfica/Sporting.
Nem mesmo toda a corrupção, que domina
o futebol a nível mundial, arrefece o interesse e a paixão que está interiorizada
nas pessoas, por este desporto. Talvez porque a política se envolve no mesmo
mar encapelado, e as pessoas comecem a achar normal a anormalidade.
Assim, o rei futebol, com o seu
séquito de seguidores, que nalguns casos atinge o fanatismo, derrota a república
laica e instala-se no seu espaço, e passa para trás todos os problemas que
deviam estar em primeiro plano, pois, como verificamos, o desemprego, a
monstruosa dívida pública, a miséria de um terço da população e tudo o mais,
foram congelados e deixaram de interessar por estes dias. Nesta confusão de situações,
podemos caldear todos estes condimentos, e concluir que estamos a viver numa
república monárquica, em que o rei é o futebol, representado por milhões de
servidores.
4.06.2015
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo
Publicado, hoje, dia 6.06.2015, no jornal "Público, na secção Cartas à Directora.
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