segunda-feira, 8 de junho de 2015

O caso da pulseira electrónica

As notícias caem ou erguem-se como argolas pesadas nas redacções. Os jornais andam num corropio atrás de certezas para evitarem dar uma no cravo outra na ferradura. Vai o preso aceitar ou não ir para casa com o ferrete no tornozelo que o juíz lhe quer impor, que equivale a deixar-se marcar com o nº de cela tatuado no braço, ou usar uma estrela no casaco? O advogado não concorda com esta nem outra medida que não seja a ilibação total dos factos que prendem à cela o seu cliente de peso e de estimação. O preso célebre e de carácter firme, leva a supor que também não. Está-lhe no sangue fazer vingar a sua tese, e por o juiz e o procurador do processo no seu lugar e até fazê-los ver que sofrem de ambliopia acentuada. O preso tem todo o direito a recusar usar uma pulseira vexatória, pois ele nem sequer aceita culpa de coisa alguma, muito menos uma "anilha de pombos”, como disse o seu defensor com elevada propriedade. A medida ainda por cima implica que o mais célebre preso do país que esteve sob sua governação, seja acompanhada de proibição de contactar com políticos, figuras próximas da justiça e outros VIP do nosso jet set. Nestes moldes, qual é o homem que achando-se com razão aceita dar-se por culpado ao permitir que o anilhem na pata, para que ele possa usufruir de uma "liberdade precária" e estigmatizada electrónicamente? Quem sobra de entre a sociedade, se não a mulher a dias, o ardina, a varina, o cauteleiro e o rapaz das pizzas ao domicílio, para que o homem possa entabular duas de conversa animada e ficar a par dos acontecimentos sérios que lhe dizem respeito e ao país que o não larga, se ao longo do seu percurso de agente político e de governante o detido sem culpa formada só constituiu amizades e travou fortes laços e conhecimentos poderosos com gente de gabarito e de primeiro plano, capaz de rasgar horizontes e de criar esperanças a todo um povo? A não ser, o que desconhecemos, que tenha havido encontros e jantarolas secretas em Paris com a Brigitte Bardot ou um ex-procurador, não vemos razão mínima para obrigar o preso 44 a regressar a casa nas condições humilhantes e idênticas às que já lhe foram aplicadas aquando da sua prisão à chegada ao aeroporto da capital da luz cinéfila e fadista quanto sinistra. Esta história pode ainda ter um final infeliz sem que seja necessariamente uma má história, mas não deixará de ser uma pesarosa comédia que envolverá no futuro os julgadores de más histórias cheias de perseguições e de ajuste de contas. A ver brevemente sem olho preguiçoso num jornal perto de si.


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