segunda-feira, 1 de junho de 2015

COMIDA




Duas mil e cem toneladas de solidariedade para mitigar a falta de vergonha.

Que bom!

Mais de quatrocentos mil portugueses – entre os que aqui aportaram como terra de sonhos - , cinco por cento da população residente, estavam ávidos por este número mágico: o número da solução temporária para a resolução da necessidade mais básica, a da alimentação.

Bons e impolutos cristãos, enaltecem nos seus discursos a solidariedade dos portugueses. Serão bons? Impolutos? E cristãos? Nada disso: são seres que agradecem (caída do céu) a solidariedade dos que também têm, de uma maneira ou outra dificuldades . 

Resolvem estes por amor, as responsabilidades desses sacristãos dirigentes, deixando-os assim soltos para se ausentarem dos propósitos e responsabilidades que os puseram a perorar – e supostamente resolver - nos palácios que ocupam.

Eles sabem que esta gente de uma tristeza suave e imprecisa,não convive bem com um vizinho necessitado de comer. Reage, estende a mão e dá. E por saberem que esta gente sente assim, usam-na, manipulam-na com palavras hipócritas , fingidores de bons cristãos, passando-lhes a mão no pelo, suavemente, mais ainda quando necessitam deles para os elegerem.

Duas mil e cem toneladas de uma raiva contida e que não explode, por demasiada  educação ou na desilusão que nada mudará nunca.

Que mau, ter que ser assim.


4 comentários:

  1. Até para relatar a desgraça a veia poética é necessária e precisa. O amor ao próximo manifesta-se de formas diversas, e descrever a solidariedade, com palavras que aprofundam sentimentos, é uma maneira profunda de o fazer. Nem todos o conseguem, porque é um dom. Parabéns ao Luís.

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  2. Todavia, nos 'maus momentos' algo de bom surge. Ainda bem. Todavia, nem só de pão vive o homem, mas de algo mais: equidade social; e pensemos que só temos uma vida - só uma e mais nenhuma hipótese de fazer bem ao nosso irmão semelhante.

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